quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Crônicas das pedaladas 3



Creio que todo mundo que pratica um esporte tem alguma causa que lhe levou a isso. A necessidade de correção da postura, ajuda na cura de uma doença, como meio de canalizar energia de forma positiva para uma atividade, ou habilidade, apenas para sair do sedentarismo e tantas outras causas.
Durante a infância e a adolescência eu pratiquei alguns esportes e gostava muito de todos eles: futebol, futebol de salão, basquete, caratê, tênis de mesa. Aprendi a nadar no Rio Itapecuru, do qual morava à margem. Como todo dia banhávamos naquele rio e todos os meus colegas nadavam, experimentei as primeiras braçadas de forma muito original. Não lembro o que fiz de errado, mas a minha mãe nunca deixava barato quando eu brigava na rua, chamava palavrão perto de alguma pessoa mais velha, ou deixava de cumprir uma ordem dela. Lembro-me que estava banhando na beira do rio e ela chegou furiosa mandando que eu subisse a rampa porque naquele momento eu ia apanhar uma surra. Entrei em desespero e me aventurei nas primeiras braçadas para o meio do rio. Quando ela percebeu o perigo que eu corria nadando daquele jeito, no velho Itapecuru, ela entrou em desespero e começou a pedir que eu voltasse. Voltei e não apanhei naquele dia, quando percebi que sabia nadar. Gosto de nadar, acho a natação um esporte maravilhoso e passei a admirá-la mais quando os meus dois primeiros filhos praticavam esse esporte num nível quase profissional.
O ciclismo nunca esteve na minha vida como uma possibilidade de prática esportiva. Na Rosário da minha infância, era comum as famílias possuírem uma ou mais bicicletas em casa. As marcas Monark e Caloi dominavam o mercado. A minha casa era muito frequentada, as pessoas chegavam e estacionavam a bicicleta na calçada e, enquanto elas conversavam com a minha mãe, eu pegava as bicicletas e me aventurava a pedalar nas ruas de areia ou piçarra daquela época. Assim foi que eu aprendi a me equilibrar sobre uma bicicleta.
Minha paixão pelo futebol nunca diminuiu, ainda gosto de jogar bola, mas na minha condição física e com o sobrepeso que tenho, além de não render nada, me exponho facilmente a lesões musculares quando jogo bola.
Exercitar-se em uma academia passou a ser uma alternativa para pessoas que pretendiam melhorar a forma física para praticar algum esporte, ou mesmo para sentir-se de bem consigo mesmo. Entretanto, depois que inventaram o tal de personal trainer algumas academias deixaram de dar a devida atenção para os seus “alunos”, passando a tratá-los como meros locatários de aparelhos para a prática de exercícios físicos. Horrível!
Tentei a hidroginástica numa academia excelente que existe aqui em Santa Inês, mas aí o problema foi meu. Não me adaptei a esse tipo de exercício físico. Gosto de nadar, porém não posso dizer o mesmo da hidroginástica.
Para a caminhada que eu gosto também, me ressinto da falta de lugares apropriados para essa prática de exercício físico aqui. Foi pela desilusão com as academias e a necessidade intrínseca que sinto de me exercitar que acabei recorrendo a uma bicicleta que eu comprei de segunda mão há mais de 12 anos. Estava encostada na despensa, com os pneus secos, muita ferrugem, necessitando de uma boa manutenção. Foi a esse objeto que eu recorri e deu no que deu. Na próxima eu vou falar apenas desse objeto, que agora eu chamo carinhosamente de minha magricela.

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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Crônicas das pedaladas 2



O ciclismo nos ensina muitas coisas. Primeiro, pedalar na estrada é coisa séria e exige planejamento. Ninguém deve pegar a estrada só por que comprou uma bicicleta speed ou montain bike, por exemplo. Da mesma forma, não é necessariamente preciso praticar ciclismo com bicicletas caras.
Ainda sou um ciclista incipiente, mas a prática me ensinou que para praticar o ciclismo precisamos tomar alguns cuidados.
Segundo, antes de ir para a estrada, é necessário conhecer as suas limitações como um iniciante e procurar ler, se informar sobre a modalidade que você deseja praticar. A internet tem muitas informações e ter consciência do está fazendo é muito importante. Vou dar um exemplo, do que aconteceu comigo. Antes de começar a pedalar, eu andava na estrada de Pindaré (na verdade, estrada Santa Inês/Pindaré) e já estava caminhando 16 Km, ou seja, ida e volta, Santa Inês/Pindaré/Santa Inês. Quando resolvi pedalar, peguei a bicicleta e me mandei para Pindaré, quando cheguei perto da metade da viagem já estava morto de cansado, não tinha condicionamento físico para pedalar essa distância.
É necessário criar condicionamento físico e a bicicleta ajuda muito nisso. Basta percorrer pequenas distâncias e ir aumentando o percurso progressivamente, sem ânsia, sem pressa e, quando percebemos já estamos no nível que pretendíamos. Creio que um ciclo computador pode ajudar muito, pois este possibilita vermos a distância percorrida e o tempo gasto, a velocidade máxima, a velocidade média, a quantidade de calorias gasta, entre outras informações.
Terceiro, todo cuidado é pouco, aqui no interior do Maranhão não temos ciclovias e, se não estivermos em grupo, somos obrigados a usar o acostamento como ciclovia e, de modo geral, os acostamentos não têm a condição adequada para o desempenho do ciclismo de estrada. Algumas estradas não têm qualquer acostamento. O ciclista sai do asfalto e cai na areia solta, num acostamento cheio de buracos, ou mesmo no cascalho solto, dependendo da velocidade e da habilidade do ciclista, essa mudança pode acarretar quedas e sérios danos à bicicleta e aos equipamentos.
Pedalar nos permite um aprendizado constante e progressivo. A interação ciclista/bicicleta é fantástica. A cada dia que você pedala, vai percebendo melhor o equipamento que você tem e vai aproveitando melhor os recursos que ele te disponibiliza, assim como as suas limitações. Isso permite ao ciclista interagir da forma mais adequada com o ambiente – aclive, declive e a superfície plana, lhe permite aproveitar melhor da sua energia, menor desgaste físico, entre outras vantagens. É prescindível avisar da necessidade do conhecimento da legislação brasileira do trânsito, à medida que o ciclista tem obrigações semelhantes ao condutor de veículos automotores. Uma vez cônscio das suas obrigações, direitos e das condições logísticas disponíveis, resta-nos desejá-los sucesso.
 

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sábado, 19 de dezembro de 2015

Crônicas das pedaladas 1



Outro dia, lá na Rehabiliter Aqua Fitness, escola de natação da minha filha Joana, a professora Fabiana disse que me viu pedalando de luvas, capacete, outros equipamentos específicos do ciclismo e me perguntou como eu me sinto enquanto pedalo pelas estradas. Gostei do assunto e resolvi escrever sobre isso.
Há tempos pedalo fazendo crônicas sobre o que vejo e sinto nas estradas, mas não tenho passado as coisas que penso enquanto pedalo para o papel. Gosto da brisa quase fria de Pindaré Mirim, acho a estrada naturalmente bonita em alguns trechos e aprecio os últimos quinhentos metros antes de chegar à praça da rampa, onde fica o bar e restaurante flutuante. Não me canso de ver a linda chaminé do velho Engenho Central. Quando eu o avisto sinto uma inexplicável felicidade: a chaminé imponente, a arquitetura inglesa, uma parte viva da nossa História resistindo ao descaso político dos administradores daquele município.
Às vezes eu fico pensando: - em que lugar do mundo se deixaria uma parte tão importante da história de um povo se deteriorar no tempo de tal forma? O trato dado ao nosso velho Engenho Central é ruim tanto para a nossa memória histórica como para o município de Pindaré Mirim, que se o transformasse em museu estaria arrecadando algum recurso e, simultaneamente, atraindo muitos turistas para o município, o que poderia melhorar o desempenho comercial daquela cidade.
Voltando à estrada, gosto de cumprimentar as pessoas que caminham enquanto eu pedalo. Passo distribuindo bom dia para todas que encontro. Às pessoas que vão trabalhar de bicicleta o cumprimento é diferente – oi. Eles respondem oi também, mas de uma forma muito característica da região. Eu gosto disso. Uns até já falam comigo com certa intimidade, outros sorriem simpaticamente, mas o que eu não sabia era que algumas pessoas me identificam como um morador de Pindaré. Que legal!
Hoje, 19.12.2015, quando eu pedalava rumo ao município de Igarapé do Meio, um motoqueiro passou por mim, carregando uma pirâmide de bancos de madeira, acredito que levava mais de dez bancos, aos gritos ele dizia te conheço, te conheço, você é lá do Pindaré, falei que sim e o cumprimentei alegremente. Achei legal. Agora sou cidadão do Pindaré, título ganho na estrada – BR-316 nas imediações do lugar conhecido como Estaca Zero. Fiquei feliz, acredito que o título ajudou a fazer uma viagem feliz, fui e voltei com muito gás, pedalei 62,91 Km, fiz algumas paradas estratégicas para reidratação, fotografar a cidade e comer algumas barras de cereais. Gostei do resultado!

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domingo, 18 de outubro de 2015

Racismo à brasileira



O Brasil é um país maravilhoso. Tem belezas naturais, culturais, econômicas, de toda natureza, que nos dá felicidade ser brasileiro. Amo o meu país, amo viver aqui, ter nascido no Maranhão e, principalmente, ser cidadão rosariense.
Por outro lado, eu acredito que valeria mais a pena morar num país em que o preconceito racial fosse explícito, mas, que as vítimas do preconceito tivessem mais oportunidade social e política, do que viver sob a égide de um racismo tácito, sorrateiro, sub-reptício, sempre disposto a criar “verdades mil” para desclassificar negros e lhes negar, ou mesmo, tirar oportunidades. Essa prática no Brasil chega a dar asco, fico enojado, triste no grau mais profundo de tristeza que um ser humano possa alcançar. Pense nesse nível de tristeza e o multiplique por mil e você poderá imaginar o quanto essa prática me deixa triste.
No Brasil, desde a Copa de 1950, com o maracanaço, quando a seleção brasileira perdeu de 2 a 1 para a seleção do Uruguai, pesadamente marcada pelo gol de Alcides Edgardo Ghiggia, aos 34 minutos do segundo tempo, que a imprensa desportiva manifestamente elegeu o goleiro Barbosa como o culpado pela derrota e, tacitamente, criara um corolário de que goleiros negros sempre levaria a seleção brasileira ao fracasso. O Barbosa, coitado, morreu triste e sempre dizia que preferia ter sido condenado à prisão a carregar aquela nódoa na alma para a vida inteira. Segundo ele, se tivesse sido preso pela derrota do Brasil, teria sido solto após o cumprimento de 30 anos de pena e viveria o resto da vida feliz com a sua família. No entanto, a condenação perpétua em que a imprensa desportiva brasileira lhe impusera lhe fizera réu para toda a vida, o que era humanamente insuportável, dizia sempre emocionado com lágrimas molhando o seu rosto.
Pergunto a vocês que leem este artigo agora: - o maracanaço foi-nos mais vergonhoso que o 7 a 1? Quem culpa o goleiro da seleção brasileira por esta derrota? Quem o condenou? Quem atribuiu a atuação do nosso querido goleiro um desempenho racial? Ninguém. E se alguém assim fizesse, seria tão injusto como foi a imprensa brasileira com o nosso saudoso Barbosa.
Atentem para o que está acontecendo no momento com o nosso craquíssimo Jeferson. No auge da sua forma, o Felipão o barrou para a promoção do Júlio César, quando este se encontrava no pior da sua condição técnica. A imprensa brasileira colocou a língua não sei onde e jamais se manifestou contra esta injustiça. Agora a seleção brasileira vem repetindo atuações vexaminosas, jogando em função de um só jogador, sem garra, com profissionais milionários fazendo as mais hilárias pixotadas em campo e a imprensa inicia uma campanha, um tanto disfarçada, colocando o craque Jeferson como o boi de piranha da vez. No Brasil, essa prática é fortemente incentivada: “tem que ter um culpado, eleja um negro”. O pior que há nessa nefasta prática é que esse tipo de racismo transforma nossos ídolos em marginais. Jeferson é um profissional competente, zeloso pela sua profissão, homem íntegro, e, além de tudo, um craque, cuja posição do Botafogo atual na série B, deve-se muito a sua boa atuação. Que aliás, eu desejei até que não fosse tão boa quanto foi diante do meu querido Sampaio Corrêa Futebol Clube.
Essa prática que eu aqui abomino manifestamente já é antiga. Foram vítimas dela o saudoso Barbosa e o nosso querido Wilson Simonal. Simonal tocou com os maiores músicos brasileiros e quando ele foi colocado em desgraça nenhum dos seus colegas teve a dignidade de abrir portas para que continuasse o exercício da sua profissão. Tal qual o Barbosa foi alvo de uma condenação perpétua com a mais sórdida indiferença dos seus antigos parceiros. Observem que até hoje no Brasil nenhum cantor teve tanto domínio do público quanto Wilson Simonal, que colocava a plateia para cantar saía do palco, tomava um cafezinho, voltava e a plateia continuava cantando animada. Mas, Simonal não fora nomeado rei da música popular brasileira – era o rei da pilantragem. Vejam a sutileza, mesmo sendo os seus shows frequentados por uma classe média alta, ele era apenas o rei da pilantragem.
Não posso deixar de fazer uma menção honrosa ao nosso querido sambista Zeca Pagodinho, quando em determinada ocasião, o compositor Almir Guineto faltou a um encontro, uma gravação que faria com ele, deixando a gravadora/emissora indignada e, no momento da raiva, um diretor mencionou que jamais o Almir Guineto participaria em qualquer evento daquela emissora e, de pronto, Zeca Pagodinho, disse que não podia permitir uma coisa dessas a uma pessoa que lhe dera inúmeros sucessos e, além disso, é um compadre, uma pessoa querida. Mais um dez para esse cara, bom pai, bom avô, bom amigo e, sobretudo, bom caráter. Como sua própria música diz: “ È ser humano”.
O Brasil tem mudado e, em muitos aspectos, para melhor. Por isso, eu não perco a esperança na extinção de prática nefasta como o racismo tácito que classifica para desclassificar e traz pessoas negras à tona como forma de fazê-las sucumbir impiedosamente, impondo-lhes culpas incabíveis para lhes tirar oportunidades conquistadas com muito esforço, dedicação e sabedoria.
Precisamos acabar de vez com essas atitudes nojentas, cortando-as pela raiz em todos os níveis da nossa sociedade. Só assim alcançaremos a nossa democracia social tão desejada, contudo, muito distante. Para tanto, é preciso que cidadãos brasileiros se manifestem contrários a esse tipo de coisa, independente da sua condição física, social, cor, credo, gênero, ou qualquer outra característica que os diferencie.