Após o cumprimento do dever entrei no vestíbulo do descanso, viajei para ilha de São Luís ao encontro da minha família.
Após oito horas e meia dirigindo em estradas mal sinalizadas, esburacadas, em alguns trechos com chuvas torrenciais que aditadas à falta de sinalização de pista nos encostava ao perigo.
É o Brasil. O país crescendo, a renda per capita aumentando, as pessoas viajando mais, comprando mais, transportando mais. Em síntese: estradas cheias. Final de ano, alta temporada de férias, um número enorme de automóveis e veículos de carga nas estradas. Gente que sai da sua terra para conhecer outros brasis, gente que volta à terrinha para matar a saudade da família e dos amigos, gente que se aventura em busca do novo, gente que retorna à terra natal para se re-encontrar com as especificidades, as tradições, os costumes, a cultura, renovando assim os elos de pertencimento.
Confesso que estava com saudades de São Luís e da região que considero como a Grande São Luís, que inclui toda a Ilha (São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar, Raposa) mais o portal do céu (Bacabeira) e o próprio céu, que também é conhecido pelo suave nome de Rosário.
Viajei ansioso, saí às 12 horas do serviço e me detive na contagem das horas e dos municípios deixados para trás. Atravessei na balsa de Tocantinópolis/TO à Porto Franco, no Maranhão e desde então fui contando: Lajeado, Grajaú, Barra do Corda, Presidente Dutra, Dom Pedro, Santo Antônio dos Lopes, Peritoró, Alto Alegre, São Mateus, Matões do Maranhão, Miranda, Santa Rita, Bacabeira e, finalmente, São Luís. Ah, que alívio, que bom re-encontrar os meus filhos que aqui estudam, meus familiares, compadres, parentes, amigos... Praia, calor humano, carnaval na Ilha, que inicia no primeiro dia do ano. Comidas: caranguejo, arroz de toucinho, cuxá, camarão, enxova, sururu, ostra... ah, que maravilha, essa ludovivência me faz feliz...
Mas nem tudo por aqui é maravilha, me dei conta que Ilha diminuiu... é isto mesmo, a ilha está pequena, agora que o Brasil descobriu as suas praias encantadas, a sua lata e fascinante cultura, a sua gente hospitaleira, os seus sobrados lindos, igrejas e outros monumentos históricos que enchem de beleza os olhos dos turistas de todos os brasis e de outros países.
No interregno em que os outros brasis descobriram este pedaço do Brasil, nossos governantes se esqueceram planejar e arrumar a casa para receber a importante indústria dos tempos hodiernos – o turismo. As ruas estão esburacadas, a segurança é escassa. Faltam salas de cinema, o teatro de Artur Azevedo, que em nossos tempos tem ícones como Tácito Borralho e Aldo Leite, não faz parte da programação turística. Não há espaços deste ramo da arte para as crianças. Por isso, quando o sol se recolhe lá da praia o Shopping São Luís fica impraticável, sufocantemente impraticável. Restam-nos as salas de cinema ali instaladas.
Eu que conheço um pouco do mar de cultura que fervilha na Ilha, fico triste em ver turistas entrarem e saírem daqui sem conhecer o teatro que se faz aqui no Maranhão, sem saber o que é o tambor de crioula, sem conhecer as coisas lindas que os autores da terra fazem na área da música, do teatro, da dança popular que aqui existe. O nosso patrimônio imaterial é rico, gostoso de apreciar e imprescindível para os filhos desta terra.
Governantes da nossa Ilha, por tudo isso, aproveitem agora enquanto as reclamações ainda são menores que as lacunas infraestruturais aqui existentes, e dotem esta maravilhosa Ilha da infraestrutura que o nosso povo merece, integrem a rede hoteleira à programação cultural, propiciem postos de trabalho aos artistas populares da Ilha e permitam que o turista quando deixar a Ilha vá satisfeito com o que comeu, maravilhado com o que viu, e com a alma renovada com o conhecimento da arte e da cultura do nosso Maranhão.