segunda-feira, 14 de julho de 2014

As belezas naturais da Raposa



Eu conheci a Praia da Raposa há, mais ou menos, 25 anos atrás. Era uma praia pesqueira povoada por uma significativa quantidade de pescadores cearenses que vinham pescar em águas maranhenses, faziam ali seus ranchos e, aos poucos, foram migrando e trazendo consigo as suas famílias. Os homens pescam e as mulheres fazem renda de bilro.
Naquela época, no final dos anos de 1980, eu fiquei fascinado pelo lugar. Não era a arquitetura dos casebres dali que me encantava, mas a fartura de peixe que ali existia. Sempre apreciei os frutos do mar e fui à Raposa para comprar peixe fresco, aquele saído do mar, sem ter levado um minuto de gelo sequer.
Quando lá cheguei procurando peixe fresco, fui informado, pelos moradores, que as canoas de pesca chegariam dali à uma hora, na hora da maré, era assim que eles explicavam. Fiquei por ali, fazendo o reconhecimento da área, como quem não quer nada, e alguém me informou que se quisesse comer peixe, bastaria comprar que havia que o assasse para a gente. Pronto, era tudo que eu queria, “armei a minha barraca” numa quitandinha à beira da praia, comprei um uritinga e, enquanto dava umas bicadas numa dose de pinga, uma senhora assou o peixe. Maravilhosos minutos aqueles em que esperávamos pelas canoas de pescadores. Na ocasião, eu estava acompanhado do meu compadre Laurindo, minha sogra, dona Julieta e a minha saudosa mulher, Célia Maria. Só eu e o meu compadre bebíamos pinga.
Os barcos de pesca foram chegando, um a um. Corremos para a beira da praia e ficamos pasmos com a cena. Era grande a quantidade de tainha, uritinga, bagre, gurijuba, cangatã, bandeirado, pescada, pescadinha, arraia, bagrinho de moça, pargo, peixe serra, peixe pedra. Aos pedintes ali presentes, eu vi pescadores ofertando grandes arraias e uritingas. Uma festa para os meus olhos. Compramos os peixes que queríamos e fomos para casa comê-los cozidos. Gosto do caldo saboroso de peixe cozido, especialmente, aquele feito por dona Julieta, ou pela minha comadre Dora. Voltei para casa, cheio de satisfação por me sentir contemplado com a fartura da Praia da Raposa e a hospitalidade dos seus moradores.
Ontem, domingo, 13, voltei à Raposa para fazer um passeio de barco. Tive o prazer da companhia da minha mulher, Sílvia, da minha filha, Joana e vários turistas. O nosso guia era um garoto chamado Leandro e no comando do barco estava o Sr. Messias, ambos muito gentis. Conhecemos as dunas da Praia de Karimã ou Praia dos Currais. É também chamada assim, pela quantidade de currais que os pescadores fazem ali para a captura de peixes.  Depois fomos ao banho do marisco, local onde antes era o lugar de coleta de mariscos: tarioba, sarnambi, outros. Hoje, os mariscos dali já estão escassos e os catadores de mariscos da Raposa mudaram as suas atividades para lugares mais prolíficos, além de já cultivarem ostras.  
O passeio é maravilhoso. Enquanto navegamos em rumo à Praia dos Currais, somos contemplados por uma paisagem de manguezais preservados, com um verde intenso, benfazejo aos olhos. As crianças ficam contando os caranguejos que veem, mas logo percebem que a quantidade e a velocidade em que eles se deslocam para as suas locas fogem à capacidade de memorização. Maravilha, exclamam!
Gosto da natureza, o contato com ela me faz bem, vê-la conservada, preservada, bem cuidada, me deixa satisfeito. Creio, que o tio avô do Leandro, quando fez no seu barco de pesca o primeiro passeio turístico, mostrando aos de fora as belezas naturais daquelas plagas, ele deve ter pensado justamente nisso – na preservação. O sábio pescador percebeu que se somente ele ficasse contemplando aquela beleza, no futuro, ela podia ser alvo de destruição, como outros lugares espalhados pelo Brasil. Porém, se visto e experimentado pelo mundo, provavelmente, ambiciosos de plantão jamais ousarão privatizar aquela linda paisagem.
Felizmente, o trabalho prazeroso iniciado pelo tio avô do Leandro recebeu o acolhimento merecido de uma empresa turística que o divulgou mundo a fora e, hoje, essa atividade envolve dezenas de barcos que empregam dezenas de pessoas treinadas para receber turistas de todo o canto do mundo, dispostos a interagir com as belezas naturais da Raposa e sentir o afago de uma gente acolhedora, hospitaleira, gentil.
Creio que quem for experimentar o passeio de barco da Raposa vai ver ambientes ecológicos preservados, uma atividade turística sustentável, cuja tendência é a melhoria qualitativa, realizada por pessoas de irretocável gentileza.


sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Brasil da Copa do Mundo



O Brasil da Copa do Mundo produz fatos que nos emocionam, que despertam o nosso senso cívico e nos inclina a fazer coro com a multidão que canta “eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. Este é o Brasil da seleção, que nos faz torcer e sofrer durante uma partida de futebol em que a decisão passa por uma prorrogação e termina em pênaltis. É o Brasil acolhedor, hospitaleiro, festivo, que abraça todas as torcidas, mesmo aquelas cujas seleções vemos como rivais.
Brasil dos estádios suntuosos, das praias, dos bares, da caipirinha, da feijoada, do samba, do Olodum. Brasil de todos os povos, de todas as raças, de todos os credos – o Brasil da mistura. Bom demais seria se essa mistura fosse só de coisas boas, que nos orgulhassem. Infelizmente, não é assim.
O nosso Brasil é o país da contradição. É o Brasil que sustenta o Pelé como a legítima bandeira do futebol que nos orgulhamos, mas é este mesmo brasil que ergue e sustenta tetos de vidro sobre as cabeças de milhares de negros que apesar do êxito nos estudos não chegam aos patamares sociais condizentes com as suas formações.
O Brasil que possui uma eficientíssima polícia federal capaz de desmontar esquema internacional de venda clandestina de ingressos da Copa do Mundo, ao mesmo tempo em que, proposital, ou até forçosamente, deixa aquele que seria o maior símbolo hodierno da moralidade do país demitir-se do cargo de presidente do Supremo Tribunal Federal, sob pena de se ver desmoralizado por colegas mancomunados à maracutaia que apoia e luta pela liberdade de políticos corruptos presos.
O Brasil da Copa do Mundo, é o brasil que recebe muitíssimo bem os irmãos vindos de outras plagas, de outros continentes, de outros países, mas é indiferente aos filhos que morrem nos hospitais sem médicos, sem equipamentos, sem medicamentos, sem espaços em enfermarias, apartamentos, ou unidades de tratamento intensivo.
O Brasil da Copa do Mundo e dos estádios de futebol superfaturados, é o brasil que em seiscentos e quatorze anos é incapaz de urbanizar morros, favelas, palafitas, alagados, ou outro locais de pobreza e miséria habitados por brasileiros que jamais tiveram qualquer atenção social, embora sonhem com atenção padrão FIFA, de um Brasil mais brasileiro, Brasil que se envergonhe da violência, do analfabetismo, da educação de baixa qualidade, da corrupção que grassa em todas as instituições, das quais esperamos o zelo pela gestão coisa pública.
O Brasil da Copa do Mundo é o Brasil de todas as cores e, ao mesmo tempo, um brasil incapaz de colorir-se com as nuances das comunidades quilombolas que habitam terras de posse secular, jamais reconhecidas e tituladas, como as terras em posse dos irmãos de outras cores.
O Brasil da Copa do Mundo, é um brasil de duas faces, uma que integra os povos de todas as partes do mundo presentes no país, e a outra excludente, indiferente aos brasileiros pobres. Para entendermos este brasil de que falo, basta pensar no futebol. Durante o campeonato brasileiro, o Brasil que faz coro nas arquibancadas dos estádios é o Brasil da periferia, fanático torcedor, que cria palavras de ordem, músicas de amor aos clubes, que engorda as bilheterias pagando ingresso com parte do magro ganho que tem. É esse Brasil que sustenta o futebol brasileiro; para este Brasil, o brasil da Copa do Mundo deixou apenas a rua, porque os lugares existentes nos estádios para os jogos da Copa não cabem no bolso dele. Em síntese, o padrão FIFA não reservou lugares nos estádios para o Brasil que sustenta o futebol brasileiro. O Brasil para o qual torcemos, é o brasil do qual nos envergonhamos.
O brasil que afaga a FIFA é orientado pela lógica do lucro, do quanto mais, melhor. Nesse jogo, os ingressos são leiloados via internet visando os que têm mais dinheiro e dinheiro é a única coisa que interessa à FIFA.


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quarta-feira, 9 de julho de 2014

A vexaminosa derrota do futebol brasileiro

Ficamos todos com a boca seca, sem palavras, frustrados, sem explicações ou justificativas para o fato – perdemos para a Alemanha por um placar de 7 a 1.
Em momentos como esse, o que não falta é gente querendo encontrar um culpado, um boi de piranha, um bode expiatório, ou rótulos para a denominação do escândalo. Não foi uma derrota qualquer, foi uma derrota vergonhosa do futebol brasileiro. Pela primeira vez? Não, absolutamente, não. Infelizmente, nós já nos expomos a vexames no plano mundial há muito tempo. Fizemos vistas grossas aos acontecimentos, mas os sinais já haviam aparecido anteriormente.
A derrota que sofremos ontem diante de um futebol burocrático da Alemanha, foi apenas uma consequência das escolhas que temos feito nos últimos tempos, para o futebol brasileiro, em detrimento das referências que temos internamente.
O técnico. O Brasil faz um dos maiores e mais importantes campeonatos de futebol do mundo. Pelo gasto que se tem, pela energia humana que consumimos na execução do campeonato brasileiro, deveríamos tê-lo como referência nas nossas decisões, inclusive no formato da seleção brasileira. Mas, veja o que aconteceu, o Luís Felipe Escolari fez uma campanha péssima durante a sua participação no campeonato brasileiro série A, entretanto, foi escolhido para ser o técnico da seleção, em detrimento de nome como o Tite, que foi campeão mundial pelo Coríntians.
A base do time. Sempre o Brasil foi uma referência mundial no que respeita a formação de craques de futebol e, se prestarmos um pouco de atenção na formação dos times campeões dos cinco títulos mundiais que temos, os clubes brasileiros foram sempre referência. Mas, de uns anos para cá, na cabeça de nossos dirigentes e alguns técnicos de futebol, a referência agora é o exterior, notadamente, o futebol europeu. Isto significa que, o jogador brasileiro que não jogar na Europa, principalmente, na Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha, não presta. Mesmo um craque como Neymar, creem os cartolas e intermediários, empresários do futebol brasileiro, que só se consagraria como tal se fosse para o futebol europeu. A consequência disso é a perda ou esquecimento das nossas boas referências. Veja por exemplo, o Cruzeiro, campeão brasileiro, com uma campanha pra lá de excelente, quantos jogadores deste clube foram convocados para a nossa seleção? Tivemos, inclusive, o vexame de deixar um craque como o Dedé de fora e levarmos o Dante. O Dedé é um dos melhores jogadores do mundo. Ou ainda de deixarmos o Jeferson na sua melhor fase, na reserva de Júlio César.
Esquema tático. Quem assiste aos jogos dos campeonatos de futebol que ocorrem no mundo, percebe de pronto que o futebol coletivo se sobrepõe ao futebol individualista, do craque que faz “carreira solo”, embora isto não se dê em detrimento do talento individual. Mas, no futebol hodierno, não se admite mais que um jogador fique isolado na frente sem dar combate quando o seu time não está com a bola. Os jogadores estão, cada vez mais ecléticos. Correm o campo todo, defendem, atacam, mas, tudo dentro de um esquema tático previamente estabelecido em treino. Além disso, fazendo analogia à música, eu diria que cada partida obedece a uma partitura específica, o que significa que, há necessidade de adequar o sua estratégia ao esquema tático de cada adversário. O modo de jogar de cada time é bastante estudado pelos técnicos dos times adversários e, quando não se observa isto, se corre o risco de passar pelo que passou o Santos contra o Barcelona na disputa do Mundial e, depois no jogo amistoso após a venda do Neymar para o referido time. Ontem foi a vez de a seleção brasileira escorregar, vexaminosamente, sobre o lodo da inobservância de um peculiar, burocrático modo de jogar da Alemanha.
Nossas referências. As referências do futebol brasileiro foram acionadas por todos os países que jogam um grande futebol em todos os cantos do planeta. Copiaram nossos dribles, nossa tabelinha, nossos esquemas táticos, nossa forma de jogar, buscaram nossos craques, nossos técnicos e tornaram-se referência do futebol mundial. Estudaram a fundo o nosso comportamento em campo, a nossa alegria, a nossa emoção, nossa impaciência diante de certas situações e, sobretudo, investiram muito na formação de craques, buscaram uma forma própria de jogar, tornaram-se grandes estrategistas, aperfeiçoaram ao máximo os seus fundamentos e hoje se impõem diante do futebol brasileiro, que ao invés de investir na formação de craques, continua sendo uma referência no desperdício de talentos. Se quisermos continuar no topo, devemos fazer como eles, os outros, nos dedicar às nossas referências, resgatarmos a nossa alegria de jogar, investir nas categorias de base, traçar uma política de inclusão para o futebol brasileiro, dar oportunidade para crianças e jovens pobres, uma vez que é nos segmentos sociais mais pobres que surgiram os nossos maiores craques e, agora, mais do nunca, estudar a fundo o legado que nos foi deixado pelas seleções de 1958, 1962, 1970, 1994, 2002. É necessário que as gerações futuras assistam aos vídeos dessas seleções. É preciso que eles percebam a humildade de craques como Pelé, Rivelino, Brito, Gérson, Nilton Santos, Zagalo, Didi, Dunga  e tantos outros que contribuíram para alcançarmos os patamares que nos deixam tão bem vistos no mundo.
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terça-feira, 8 de julho de 2014

A folha seca de David e a visibilidade excessiva de Neymar

 Depois que o David Luís fez o gol de falta os especialistas do futebol começaram a se perguntar como foi que ele bateu naquela bola daquele jeito: a bola sai como se fosse para fora e, de repente, cai dentro da rede. Isto é Brasil? Isto te lembra de alguma coisa?

Galvão Bueno e o Casa Grande, de imediato, não se lembraram de que essa maneira de bater falta é uma forma bem brasileira, inventada por um craque chamado Didi – a folha seca. É assim que a bola cai, como uma folha seca ao vento.
David Luís passou anos treinando no Chelsea para, enfim ser contemplado pelos deuses que abençoavam o nosso Didi.
Foi um jogo pegado, sofrido e, até desleal, pois o Neymar sofreu uma agressão física, que aliás, nem falta foi, que o tirou de campo: - uma joelhada nas costas de forma grosseira, que merecia o cartão vermelho, mas, um juiz inseguro, incompetente deixou seguir a jogada enquanto o nosso craque foi direto para o hospital  com uma grave lesão.
Nessa Copa do Mundo, há muitos craques, mas nenhum foi tão caçado pelos zagueiros como Neymar Jr.. No jogo contra o Chile, na primeira bola que ele pegou o zagueiro chileno já o agrediu com uma joelhada na coxa, próximo ao joelho. No jogo contra a Colômbia, ele foi agredido pelas costas com uma joelhada, sem nenhuma possibilidade de defesa.
Acredito que a causa do Neymar ser tão caçado nesta Copa do Mundo foi o excesso de visibilidade em que ele é submetido. Na verdade, Neymar é dono de um futebol bonito, alegre, capaz de encher os olhos do mundo, mas, ao que parece, ele, ao contrário de craques como Messi, Cristiano Ronaldo e tantos outros, não se contenta com a visibilidade que o futebol lhe dar, tenta chamar a atenção do mundo com excessivas participações em programas de televisão, penteados chamativos e outras esquisitices.
Também não conheci nenhuma participação do Brasil em Copa do Mundo em que a seleção brasileira fosse tão dependente de um único jogador. Nem nos áureos tempos do Pelé, a nossa maior referência no futebol. Na seleção de 1970, por exemplo, tínhamos Rivelino, Tostão, Jairzinho, Paulo César e uma plêiade de craques aptos a golear qualquer time que se metesse à nossa frente.
Creio que os marqueteiros do Neymar têm que repensar a sua carreira e, nesse aspecto, ele bem poderia seguir exemplos de craques como Pelé, Rivelino, Tostão, Carlos Alberto Torres, Romário, Bebeto, Gérson, que preferiam ser vistos pelo que faziam dentro de campo, sem essa pirotecnia chamativa e desnecessária.

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segunda-feira, 7 de julho de 2014

A nossa resenha está mais triste



Meus olhos umedecem só em pensar nos momentos bons da minha vida, que tive o privilégio da companhia e da amizade do meu compadre Laurindo e Nazareth Moscoso. Nazareth era uma dessas figuras que, como dizia a minha saudosa mãe, não deixava almoço pra janta. Tudo que tinha que dizer, ela dizia na hora.
Uma grande amiga que eu preferia chamar de cunhada. Minha cunhada. Conheci Nazareth Moscoso nos tempos áureos do Grupo Sem Dimensão, que reunia craques do samba como meu compadre Laurindo, Josias, Carlão (saudoso sobrinho), Cacá, Juca, Luís Júnior, Dênis, meu compadre Raimundo Nonato e outros.
Tive a felicidade da amizade de Nazareth Moscoso na fase mais difícil da minha vida – quando fiquei viúvo. Naqueles momentos de sofrimento e solidão, era ela a única amiga que me chamava em sua casa. “Meu cunhado, Laurindo vai fazer um pato, eu já chamei o Cláudio Pinheiro e outros amigos”. Ela sabia que não dava pra recusar pato preparado pelo meu compadre Laurindo. Eu sempre ia.
Não gostava de me ver nem triste, nem alegre demais. Se eu estava triste, ela puxava conversa sobre a Turma do Saco. Sabia da minha paixão pelo bloco e, só pra me provocar se derramava em elogios para o URTA, que foi, sem dúvidas, o maior concorrente que a TS já teve. Não dava outra, a resenha ficava animada, com ela, às vezes elogiando a concorrente, às vezes se referindo a mim, Zé Manuel, Laurindo como aquelagenteatoadocodozinho. Era assim, falava de uma maneira que parecia uma palavra só. Eu sempre dizia: Tá vendo Zé Manuel, culpado disso é o Laurindo, com tanta menina bonitinha lá no Codozinho, ele foi procurar Nazareth, lá na Rua do Norte. Ela dava aquelas gargalhadas gostosas e altas, e me chamava de o-r-d-i-n-á-r-i-o. Numa pronúncia que parecia derramar letra por letra.
Se eu chegava na resenha alegre demais, já tendo tomado umas, falando alto e provocando com todo mundo, ela se calava, fazia bico e eu já sabia que ela não estava gostando. Se estava zangada, não me xingava, não tinha resenha. Era sempre sincera e amiga.
Quando ela começava a gozar de mim, eu tinha sempre uma saída. Contava a história do início do namoro dela com Laurindo. Ela ficava rindo de mim.
Uma vez estava na casa do meu saudoso irmão, Zé Pitó, no aniversário dele e rolava um churrasco. Meu compadre Laurindo passava perto da churrasqueira e uma colega mal avisada o olhou e exclamou: - olha como Laurindo está gordo! Ela de pronto disse: gordo, com colesterol alto, hipertenso, cardíaco, roncando muito, com apneia e haja doença. Ouvindo-a fazer aquela relação de enfermidade, fiquei preocupado, me sentei perto dela e, quando a pessoa que falou saiu, eu a perguntei: - minha cunhada, é verdade que o meu compadre está tão doente assim? Ela, me disse – Tá vendo, meu cunhado, que mulher abusada? Disse isso pra ela não se interessar mais pelo meu marido. Todos riram. Ela era assim.
Onde ela estivesse a resenha era sempre boa. No Bar da Xixita, na casa de Dora, na casa de Maria, na casa de Georgina, na minha casa, Nasa, como meu compadre Laurindo a chamava, não podia faltar.
Querida, ela reunia no bosque do condomínio onde ela morava, todos os vizinhos e os ilustres do samba maranhense num churrasco, ou feijoada, ou por qualquer motivo. Parecia um clube. Animada, mas era de pouca bebida, gostava mesmo era da resenha.
Minha cunhada, Nazareth Moscoso, poderia escrever muitas páginas pra falar da sua importância na minha vida e de muitos, contudo, sei que as minhas palavras são incapazes de descrever as suas virtudes como amiga de todas as horas. Sempre ficava admirado pelo amor que você tinha pelo exercício da sua profissão. Fascinava-me a dedicação e o carinho pelas crianças pobres que você educava.
Nunca me esqueci de um aniversário, acho que da Luana, naquele apartamento sempre muito bem arrumado, que eu dizia parecer casa de boneca. Na ocasião da divisão do bolo, você sentiu falta do filho da Neide (vizinha e amiga). Ah, falta o filho da Neide. Deu uns dois gritos chamando o guri, ele desceu as escadas e foi contente comer o bolo. Comeu, bebeu refrigerante e ficou parado, com se quisesse mais. Você perguntou se ele queria mais, ele disse que não, só queria levar um pedacinho pra mãe dele. Naquele dia você me marcou com o seu lado materno, de tia, amiga, leal, cuidadosa com as suas amizades.
Nazareth Moscoso, você era uma pessoa de muitas virtudes, mas o meu coração fica para sempre tatuado pelas tintas da sua lealdade, da sua sinceridade, da sua amizade, da sua bondade.
Sei, no entanto, que minhas lágrimas e as lágrimas de todos que te amam decorrem da nossa pouca sabedoria diante dos atos do Altíssimo. Sabemos que a nossa resenha fica mais triste, neste momento. No fundo, acreditamos que Ele tem uma missão para você lá em cima e que, assim como tu enobreceste a terra com a tua vida, haverás de agregar alegria e virtude na vida celestial para que foste chamada agora.

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