quarta-feira, 21 de abril de 2010

Conversa entre pais e filhos III

Os pais sempre chamam a atenção dos filhos para que façam o plano de voo deles, que neste caso, podemos apelidar também de plano de vida. Quem na vida tem um plano de voo, não entra em rota de colisão à toa, nem se perde na vida à deriva. Usa régua, esquadro, compasso e lápis, que os pais lhes deram de graça, para traçar os trajetos que terá que percorrer para alcançar os seus objetivos nessa nossa breve passagem pela terra.

Quando falamos dos instrumentos necessários para que os filhos desenhem os seus planos de vida, estamos nos referindo a princípios, cuidados, observações, sugestões, ações exemplares, atitudes, virtudes que os filhos vivenciam na relação cotidiana com os pais.

A nossa história familiar deve ser conduzida como uma bússola, nela se registra as posições vivenciadas pelas gerações que nos antecederam. O desenvolvimento do que somos hoje se deve, em parte, pelo modo como caminharam os nossos antepassados. Se eles não existissem, provavelmente nós não estávamos aqui agora falando da importância dos laços da família.

Dizem os sábios que a pessoa que não conhece, não possui ou despreza a sua história de vida está fadada a perecer enquanto grupo social ou parte deste. Por isto a nossa história de vida tem significado relevante no nosso desenvolvimento. Embora, de modo geral, a história de cada família se transmita de geração a geração por meio da oralidade, fotografias, pertences, documentos deixados pelas gerações passadas, ela possui elementos balizadores da nossa conduta. Através dela podemos aprender com as virtudes e os erros vivenciados pelos nossos antepassados. Aí está o elo do passado, com o presente e o futuro. O passado que nossos parentes mais próximos viveram, o presente em que atuamos e futuro que desejamos alcançar pondo em prática o nosso projeto de vida.

De posse da nossa história familiar, devemos tirar proveito de tudo que nos fortalece na caminhada que traçamos com vistas a atingir o grau de consecução máximo dos nossos objetivos. Do mesmo modo, devemos nos desviar dos erros e dos danos deles consequentes vivenciados pelos entes consanguíneos que nos antecederam. Nem seria preciso lembrar que para se realizar planos devemos nos perguntar: o que queremos fazer da nossa vida? O que queremos ser e/ou alcançar no futuro? O que devemos fazer para realizar as nossas finalidades? Como devemos nos comportar para conseguir o que desejamos? Saibam que de nada adianta dizer “eu quero ser isto, ou eu desejo conseguir aquilo” e não conduzir a sua vida em consonância com os seus objetivos. Tudo na vida tem um custo e enquanto mais preciosos os nossos desejos e objetivos, mais esforços eles demandam. Por isso, devemos ter cuidado com os tais atalhos, o chamado jeitinho brasileiro de conseguir as coisas.

A imprensa nos revela todos os dias um monte de políticos desonestos, espertalhões, que pensando estar lançando mão do jeitinho brasileiro de conseguir riqueza, envergonha a nação e o mundo cometendo ilícitos, quando deveriam se conduzir de modo exemplar observando as leis e dos bons costumes.

Ninguém deve levar uma vida vazia, vivendo sem saber aonde quer chegar, toda pessoa precisa ter um objetivo de vida, que pode, inclusive, se constituir de vários outros fins específicos. Figura entre os clássicos da literatura universal a obra O Fausto, de Goethe, que trata de um pacto que determinado homem fizera com o diabo em troca da consecução de poder. Porém, ao conseguir o poder desejado, ele, O Fausto, enlouquecera em virtude de não saber, como deveria canalizá-lo. Não tinha ele plano de voo, objetivo de vida, por isso se perdeu, sem saber o que fazer com tanto. Esta é uma ficção, mas a vida está cheia de histórias semelhantes.
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sábado, 10 de abril de 2010

Conversa entre pais e filhos II


Para continuar a conversa sobre a diferença entre adversários e inimigos, podemos ainda usar o futebol como um exemplo. Os ditos clássicos são realizados entre times de rivalidade tradicional, mas, a rivalidade entre jogadores e dirigentes de equipes distintas se restringe aos ambientes próprios à competição – o estádio de futebol, a estância de decisão jurídica específica. Aqui o adversário é o time, o ente coletivo, ou sua representação, cujo mandado deriva da autorização (voto) de um coletivo, portanto também deve ser observada como coletividade. Fora das instâncias de competição, jogadores, técnicos, dirigentes, torcedores podem conviver perfeita e harmoniosamente com os profissionais de equipes adversárias, nutrindo, não raras vezes, relação de íntima amizade.

As brigas entre torcidas organizadas são excessos, criminalizados, indesejados, repudiados por toda sociedade, justamente porque constituem eventos socialmente vistos como desnecessários, violentos, inoportunos, impróprios e geradores de inimizade.

A inimizade é cega, não distingue ambiente, ou ocasião, não percebe a dinâmica da vida e, consequentemente, lhe passa despercebida também a mudança, as variações propiciadas pelo decurso do tempo. Como se trata de sentimento sem limite, pessoas ou grupos sociais que se sentem inimigos costumam se posicionar sempre contra o outro lado. Não importa o tempo, o lugar, ou o motivo. Não desejam o bem estar do outro lado, pelo contrário, desejam-lhes a derrota, o infortúnio e toda natureza de perdas. Para tanto, podem recorrer à instância de poder legal ou ilegal, praticar atos lícitos e ilícitos, pois à proporção que os sentimentos que os movem se amesquinham os expedientes a que recorrem tendem à exacerbação, à força bruta e até mesmo à barbárie.

A competição constitui evento próprio da disputa entre adversários, concorrentes com objetivos semelhantes – um título, um nicho de clientes, instalação de uma organização em determinado local, outros fins. É norteada por regras instituídas, possui limites e tende a observá-los, caso contrário, o lado infrator estará sujeito aos efeitos punitivos da instância responsável pela manutenção do estado de regularidade. Entre adversários a competição se realiza em espaço regular, oportuno e, sobretudo, dentro de limites socialmente cabíveis.

A vida em sociedade pressupõe o convívio com diferentes. Daí a necessidade de saber conviver com as diferenças e, para tanto, necessitamos conhecê-las de per si. O conhecimento das pessoas com as quais convivemos nos permite mais capacidade para compreender os seus atos, o modo como se comportam e expressam, dando-nos maior suporte social de convivência harmoniosa. É, como o piloto que planeja uma viagem, necessário conhecer o plano de voo dos outros, para se posicionar e, à medida do possível, evitar entrar em rota de colisão. Como em nossas vidas, no espaço, aeronaves com distintos objetivos, passam por rotas semelhantes a todo instante. Por isso, aeronaves com planos de voo que as leve a cruzar uma mesma posição (coordenada geográfica) no espaço, devem ter alturas (altitudes) diferentes para evitar uma catástrofe.

Em nossos planos de vida, passaremos por diversos lugares onde encontraremos com pessoas que diferem da gente em vários pontos: religião, etnia, nacionalidade, posicionamento político, opção sexual, posição social, modo de expressão, temperamento, entre outras diferenças. Entretanto, essas diferenças não são indicativas de superioridade ou inferioridade, mas, simplesmente constituem traços específicos comuns a cada pessoa que o apresenta. É importante sabermos conviver com cada um dos tipos que encontramos ou encontraremos nos lugares que freqüentamos ou que haveremos de passar. O que não devemos perder de vista é o nosso plano de voo. Portanto, continuaremos a nossa conversa, em outro momento, a partir deste ponto – o nosso plano de voo. Até lá.
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