domingo, 30 de junho de 2013

O projeto energético do Brasil reinventado



Os ventos que sopram atualmente nos quatro cantos do país são indicativos de que é necessário mais que uma reforma para colocarmos a nação nos caminho que o povo brasileiro deseja, é preciso reinventar o Brasil.
Como brasileiro, sinto a necessidade de ir além do protesto e ser proativo no que respeita à indicação de caminhos que devemos seguir para ter uma nação reinventada mais ajustada ao gosto e às demandas dos brasileiros.
Neste momento, quando as palavras de ordem que emanam das ruas exigem punição aos corruptos e extinção da corrupção, melhorias na qualidade dos serviços de saúde e educação, melhor administração dos recursos públicos, creio que a melhoria do projeto energético contribuirá também para que os ajustes solicitados sejam realizados.
Desde os planos nacionais de desenvolvimento desenhados pelos governos militares o Brasil tenta resolver os seus problemas a partir dos chamados megaprojetos. Alguns nem saíram do papel, outros foram iniciados, porém jamais totalmente terminados. Outros foram prontamente construídos e lograram êxito, como é o caso da ponte Rio- Niterói.
Ora, o leitor bem que poderia me perguntar: - o que tem de errado com os megaprojetos? Eu diria que se bem desenvolvidos, poucos problemas poderão decorrer deles. Contudo, o erro é, num país da dimensão e com a diversidade do Brasil, pensarmos que todo e qualquer problema só poderá ser solucionado a partir de soluções caríssimas, como os chamados grandes projetos.
No tocante à produção de energia elétrica, desde a construção das grandes usinas hidrelétricas o país passou a negligenciar uma gama diversa e imensa de “pequenas” soluções que poderão agregar imenso valor ao projeto energético brasileiro.
O meio rural brasileiro é cheio de possibilidades de geração de energia elétrica a partir de recursos como carneiro hidráulico, rodas d´água, energia solar, eólica, biodigestores, dentre outras. O incentivo à diversificação da produção de energia elétrica nos permitiria dinamizar o imenso potencial hídrico, hidráulico, eólico, solar e bioenergético existente no meio rural brasileiro.
É necessário, porém que o governo incentive pequenos projetos como esses e até premie prováveis formas inovados de geração de energia que poderão surgir.
Na minha vivência como agrônomo vi proprietários rurais abdicarem da geração da energia doméstica para usufruírem da energia da rede pública, simplesmente porque jamais tiveram algum tipo de incentivo para continuarem a produzir a energia necessária a sua propriedade.
Hoje temos tecnologia que possibilita aos avicultores a produção da energia necessária ao consumo dos seus empreendimentos, a partir de biodigestores cuja matéria-prima é a própria cama de galinha. Infelizmente, no Brasil, nem chega a 1% o números de avicultores que produzem energia elétrica a partir do esterco de galinha. Essa é uma prática que deve ser incentivada, porque desonera o governo ao mesmo tempo em que disponibiliza maior quantidade de energia gerada pelas hidrelétricas para o consumo urbano.
Já é hora de promovermos maior interação entre a universidade produtora de tecnologia e o meio rural brasileiro. É necessário que se crie linhas de crédito específicas com condições especiais para aqueles que desejem dinamizar o potencial de suas propriedades na produção de energia. Da mesma forma, urge que o governo disponibilize meios de aquisição da energia excedente oriunda da produção diversificada do meio rural. É necessário incentivar estudantes, profissionais atuantes no setor energético, cientistas, inventores que contribuírem à produção de energia elétrica alternativa e limpa.
Creio que desta forma reinventaremos um Brasil energeticamente auto-suficiente e sustentável no que diz respeito ao aproveitamento dos recursos naturais e do potencial energético disponíveis.

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quarta-feira, 19 de junho de 2013

O Brasil por fora do Brasil



Em meados dos anos 1980, quando eu fazia parte de um grupo de profissionais que trabalhava no Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário - MIRAD, fui alertado pelo professor Alfredo Wagner Berno de Almeida, que, na época, chefiava a Coordenadoria de Conflitos Agrários. O professor Alfredo Wagner observou que para aquele Ministério se dirigiam trabalhadores rurais de todo Brasil que chegavam à Brasília por fora dos canais convencionais ditos de representação da classe trabalhadora rural. Esses trabalhadores não eram acompanhados de advogados ou de outros funcionários da Comissão Pastoral da Terra – CPT, nem dos sindicatos de trabalhadores rurais, os STR’s filiados às Federações de Trabalhadores Rurais, ou à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG, muito menos esses trabalhadores eram partidários do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Veja bem, não estou falando que esses grupos representativos não se faziam presentes diante do MIRAD, com os seus partidários e as suas reivindicações específicas. Estou dizendo que para além desses movimentos, dessas entidades, estava uma leva significativa de trabalhadores rurais que ulteriormente se autodenominaria como posseiros, quilombolas, seringueiros, ribeirinhos, castanheiros e tantos outros que procuravam soluções para os seus problemas específicos por fora dos canais de representação até então convencionais.
Interessa aqui citar que muitos desses trabalhadores ao chegarem a Brasília se empregavam na construção civil e ali ficavam por algum tempo indo e vindo às diversas instâncias de poder de onde acreditavam poder solucionar os conflitos pela disputa da terra.
Nem tivemos tempo de estudar suficientemente esses grupos sociais, embora os tivéssemos observado e, antes de uma década a chamada classe trabalhadora rural passou a ser uma categoria fora da moda, pois nela já não cabia mais uma infinidade de categorias estabelecida no meio rural cuja bandeira de luta dos STR’s, das CPT’s, dos MST’s não a contemplava. Então surgiram os quilombolas, os extrativistas, os ribeirinhos, os povos das florestas, seringueiros, as quebradeiras de coco babaçu, as viúvas do garimpo e da violência rural e tantas outras categorias com as suas entidades de representação próprias. Para surpresas das antigas lideranças as suas representatividades minguaram e surgiram novas entidades, com identidade nova e novas lideranças e com tanto vigor que as autoridades oficiais tiveram que recebê-las e compor a agenda oficial com as reivindicações que elas traziam.
Quase três décadas depois o Brasil acorda diferente. Uma multidão ocupa as ruas das cidades brasileiras para reivindicar anseios antigos pelos quais seus pais lutaram e até mesmo muitos deles morreram lutando. O que difere é o modo como essa massa de gente jovem leva às ruas a voz do povo brasileiro. Por fora mais uma vez dos canais convencionais: por fora dos partidos políticos, dos sindicatos, das entidades confessionais. Mais uma vez o Brasil está andando por fora do Brasil e mais uma vez o Brasil que pensa está no centro está por fora, acordando com atraso para escutar o grito que vem das ruas, saído da garganta de um Brasil que por ter sido sempre deixado do lado de fora está mais por dentro que nunca.
O Brasil está pasmo, boquiaberto, surpreendentemente surpreso, pego no contra pé, foi acordado com o grito vindo das ruas quando ainda vestia pijama da demagogia, se pensava orgulho nacional e se viu vergonha da nação para qual ofereceu uma copa do mundo caríssima à revelia do Brasil que grita não à corrupção e pede respeito, saúde, educação, segurança.
Bem que o Brasil presunçoso poderia ter ouvido os gritos eruditos do professor Carlos Wainer que por coincidência é amigo do professor Alfredo Wagner. O Dr. Wainer não poupou esforços para avisar que o planejamento em execução para preparar as cidades para os eventos esportivos se tratava de uma prática de exclusão social. Infelizmente, Dr. Wainer o Brasil dos presunçosos não quis lhe ouvir. Mais uma vez a vaidade política esnobou a expressão de um pesquisador que faz uma universidade que se dedica ao estudo do Brasil que agora grita pacificamente nas ruas.
Uma pena que tenha sido assim, o Brasil presunçoso perdeu o trem da leitura labial do Brasil do campo e da cidade, simplesmente porque se negou a ler os dáblius de Wagner e de Wainer que expressaram a visão simples dos que entendem a simplicidade dos complexos problemas brasileiros do urbano e do rural. Lamentável que o Brasil esteja por fora do Brasil.
O Brasil que está nas ruas é o Brasil que deseja os corruptos do mensalão na cadeia, que deseja procuradores e promotores proativos que investiguem e mostrem as mazelas do Brasil corrupto, o Brasil que deseja ver no Judiciário brasileiro milhares de Joaquim Barbosa, que deseja ver na cadeia o Brasil que subtraiu as moradias dos atingidos pelas chuvas na região serrana do Rio de Janeiro, o que prefere dispor de um sistema de saúde saudável e abrangente, que deseja que o ensino fundamental seja em tempo integral e contemple o aprendizado profissional, escolas do ensino médio de excelente qualidade, universidades públicas com condições para valorizar os profissionais que ensinam e os que nelas se formam, que deseja segurança prestada por policiais íntegros e com salários decentes, que sejam distintos e separados da bandidagem.
O Brasil que ocupa as ruas é o Brasil que deseja ver os seus esforços, recolhidos em forma de impostos, bem utilizados em transportes públicos de qualidade, estradas de ferro interligando todas as regiões do país, rodovias bem planejadas e seguras, aeroportos decentes, portos modernizados, hidrovias recuperadas.
O Brasil que está nas praças, avenidas, ruas, é o Brasil trabalhador que resolveu gritar para que o Brasil que está fora da linha pense o Brasil de todos porque o Brasil de todos não tolera ser vilipendiado e mais que qualquer coisa deseja e clama por O P O R T U N I D A D E   E  R E S -    P E I T O.

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