terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O Codozinho e a magia dos 40



Às vezes eu fico pensando nessa magia dos 40 anos da Mocidade Independente Turma do Saco. A data do aniversário é mais que simbólica, é uma invenção do Henrique Pilu, vocês sabiam? 12 de fevereiro era a data de aniversário de Os Intocáveis, o bloco tradicional que Henrique liderava e que eu não sei quanto tempo durou, eu só sei que quando eu cheguei ao Codozinho o bloco já não existia. Como a Turma do Saco surgiu após o término do referido bloco tradicional e, também sob a liderança do nosso Zeca Pilu, este resolveu transferir para a Turma do Saco a data de aniversário de Os Intocáveis.
Houve alguns que ao perceberem isso até quiseram mudar a data, mas, de pronto, todos notaram que isto era um detalhe de somenos importância, afinal, o bloco surgiu mesmo no mês de fevereiro, esta ou aquela data seria apenas um detalhe. Este não era um ponto de significativa discordância. Ninguém tinha nada contra o 12. E, então ele reinou até hoje.
O 12 tem a sua magia, o seu encanto. Tem a paixão que nos toca o coração. Faz-nos pensar que o mês de fevereiro é uma sequência de 12 e, o quadragésimo 12, eu creio, veio despertando amores latentes, paixões adormecidas, simpatias acomodadas, vontades até aqui contidas. Nós, que fazemos parte da Turma do Saco, estamos um cofo de ânsia. Estamos ansiosos para ver pessoas que há anos não vemos, para bebemorar os quarenta, lembrar um pouco, ou o tanto que o tempo der, das coisas que fizemos na e pela Turma do Saco. Rir à toa, conversar amenidades, abraçar os amigos, chorar de alegria, chorar de paixão, quem sabe. Lembrar amores passados, que se foram, ou amores que se transformaram em sólidas famílias. Talvez, nada disso, mas apenas queremos ficar juntos. Juntos como crianças ao frio, carentes do colo quente da Mãe África, amamentando-nos do leite farto da cultura que exala da conjunção de temas derramados à avenida no curso desses 40 anos.
Nessa corrida, pensamos assim, apesar dos quarenta estamos aqui. O carnaval ludovicense poderia estar mais belo. Que falta nos faz a participação de blocos como o URTA – Unidos do Regional Tocado a Álcool, a Turma do Fola, Unidos do Retiro Natal, Cem Komentários, Unidos do Codozinho, a Turma do Lamê, a Turma do Xará. Ah, como fazem falta tantas outras brincadeiras que sucumbiram ao longo desses 40.
Fico triste quando penso que a comissão organizadora do carnaval ludovicense nem tenha pensado nisso e nos trata assim como se trata qualquer um, nos dando apenas 15 minutos para derramar na passarela os nossos oitocentos anseios, a cantar, aos risos, e, ou às lágrimas:
Me leva, me leva nessa maresia
Nas assas dessa poesia, eu vou
Me leva, me encanta com essa melodia
Que eu vou encantar a Ilha do Amor.
Ah, meus caros diretores, este não é um assunto para a Diretoria colocar na pauta da Comissão que organiza o carnaval? Vem gente do interior, vem gente de outras cidades vizinhas, vem gente que está distante, só para comemorar os 40. Quantas administrações municipais passaram por aqui nesses 40 anos? Parafraseando o Jorge Aragão, eu me permito dizer: - Respeitem quem pode chegar onde a gente chegou. Este ano, a participação do Saco é mais que um simples desfile competitivo, é uma festa, a festa dos 40. Vamos para avenida com uma vontade imensa de nos divertir com quem lá estiver nos esperando. Queremos dançar, cantando:
 Agora, com os meus 40 de idade
Eu vou com esta Mocidade
Aonde a vida me levar
Creiam, tudo que vier depois de todo o nosso esforço, da festa, da dança, do canto, dos encontros e reencontros, serão meras consequências. Pois quem tem 40 anos de participação numa festa popular como esta, é mais que uma brincadeira, é mais que uma invenção de jovens impulsivos dos anos 1970, é uma t r a d i ç ã o, isto mesmo, a Mocidade Independente Turma do Saco – MITS é mais que um bloco organizado a desfilar na passarela do carnaval de São Luís. A Mocidade Independente Turma do Saco, a nossa MITS, é uma t r a d i ç ã o e ponto. Por tudo que somos e estamos, cantemos:
Bendita seja a Ilha
Que tem no seio um bairro assim tão divertido
Eu sou o Codozinho
E trago um saco de amores colorido
Bendita é a Turma do Saco
Há 40 anos a cantar
Um canto de paz
E felicidade
Que espalha amor
Por toda esta cidade!
 



quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A construção do samba


O presidente Márcio Cavalcante foi quem articulou os fundadores da Mocidade Independente Turma do Saco – MITS para a comemoração dos 40 anos de fundação do bloco. Primeiro, foi o almoço, uma feijoada patrocinada pelo presidente de honra Zé Roberto, para marcar a despedida da Mocinha (Josenilde Vilela), que estava de férias na Ilha e já estava de volta para o Rio de Janeiro, onde reside atualmente.
Entre goles de cerveja, água mineral, refrigerante, muita e muita emoção pelo reencontro de pessoas que amamos, marcamos uma reunião para discutir os 40.
Desde o primeiro momento eu expus para o Márcio Cavalcante e o Zé Roberto a minha vontade de compor o samba dos 40. Por que eu fiz isso de modo muito claro? Fiz porque eu creio que eles têm um esquema próprio para colocar o bloco na rua durante todos esses anos que estamos longe. Sempre recebi o aval do Márcio Cavalcante e do Zé Roberto também. Mas, havia uma coisa que me intrigava, às vezes, quando eu falava com algumas pessoas mais novas, que me conheciam, mas não sabem como eu levo a minha vida atualmente, eu sentia que essas pessoas acreditavam que eu já não sabia mais fazer samba, ou que estava desatualizado, ou ainda que não estivesse acompanhando as mudanças que se perpetraram no carnaval dos anos 80 até os dias atuais. Esse tipo de manifestação era sempre de forma tácita, ou nas entre linhas das conversas.
Nas reuniões seguintes tratamos de um plano para comemoração dos 40 anos. Eu opinei que achava bom se pudéssemos fazer um documentário com entrevistas de pessoas como Henrique Pilu (o nosso primeiro presidente), Bacabal (para mim o presidente mais significativo que o bloco já teve), Beth, Maria Bacabal, Rogério e outros membros da família Guayanaz, os Cavalcante, os Quim (Zeco e João), os Baima, os Viégas, os Costa, os Lima, os Vilela e tantas outras pessoas que tiveram influência na Turma do saco, até chegar à geração atual. Creio que as diversas televisões maranhenses que fazem a cobertura do carnaval devem ter em seus arquivos lances dos desfiles da Turma do Saco no curso desses 40 anos. Esses fragmentos poderiam ser compilados para enriquecer o documentário.
Para mim interessa também saber a opinião das pessoas que dirigem e fazem o bloco atualmente. Sei que há uma diferença marcante no modo de trabalhar entre as gerações e, sei também que uma vez exposta num documentário, esta poderia nos trazer um imenso aprendizado. As gerações aprenderiam com os erros e os acertos realizados na condução da MITS no curso desses 40 anos.
Pela quantidade de fotografias que os componentes e simpatizantes devem ter, eu acho que deveria ser feita também uma revista, que de certa forma, poderia ser alimentada em parte pelo documentário (vídeo) e, ao mesmo tempo, um complemento deste, à proporção que esta teria recursos específicos que não caberiam num vídeo. E, além da revista, devíamos gravar um disco com os 11 sambas campeões. Os outros sambas teriam as letras divulgadas na revista.
Além desses registros, eu manifestei a vontade de fazer um show comemorativo só com músicas que eu compus nesse interregno de 40 anos. Por que o show? Porque acredito que como compositor eu sou uma invenção da Turma do Saco. Foi para a Turma do Saco que eu fiz a primeira música que eu compus na minha vida. Foi na Turma do Saco que eu tomei o gosto pela composição e me considero um compositor da Turma do Saco. Estou para a Turma do Saco como o Pelé está para o Santos, o Zico para o Flamengo, ou o Roberto Dinamite para o Vasco. Fiz samba para a Turma do Saco porque eu a amo. A minha imagem como compositor está intrinsecamente ligada à Turma do Saco. Gosto de fazer músicas (sambas, afoxés, outras) e as faço continuamente, mas samba de enredo eu só faço para a Turma do Saco. Não tenho qualquer satisfação em fazer isso para uma outra entidade carnavalesca. Não sinto qualquer vontade.
Mas a Turma do Saco nem sempre foi só samba, só glamour, harmonia, consenso. Por isto, eu me mantive com um pé atrás, como dizia a minha mãe. Eu tinha a expectativa de fazer o samba com o Zeco Quim, um grande parceiro, um irmão, pessoa pela qual eu nutro um grande apreço. Fazer o samba com ele para mim seria um presente. Em novembro eu escrevi parte do samba, Zeco já havia me telefonado e falado parte do samba que ele estava compondo, então eu me empolguei, fiz uma parte e pensei, quando nos encontrarmos faremos a fusão do que já fizemos. Porém, o tempo passou e o nosso encontro nunca aconteceu e, então chegou um momento que eu tive que concluir sozinho.
Já no início de janeiro a diretoria do Saco me chamou para falar sobre o samba e quando eu cheguei já havia um samba feito. Escutei o samba e gostei muito. Bem composto, bem feito. Eu o escutei várias vezes e disse: o samba está redondo, concordo que o levem para a avenida. Gostei muito dos dois compositores. Dois garotos muito talentosos – o Rakan (não sei se é assim mesmo que se escreve) e o Lucas, que já me conhecia da casa da minha comadre Dora. Já havíamos tocado juntos. Ele é amigo do Márcio, sobrinho da minha primeira mulher, e já conhecia alguns sambas meus.
Dizer que fiquei satisfeito com aquela situação seria mentir. Depois daquele encontro eu fiquei martelando a minha cabeça. Pensava assim: - Pôxa, mas eu insisti tanto que queria fazer o samba... porque será que eles não me deram esta oportunidade? Moro a 240 Km de São Luís, mas fui a todas as reuniões que eles me convocaram, será que isto não revela a minha vontade, o meu amor por este bloco? Por que será que eles sem sequer estabelecerem um prazo de entrega me fizeram esta surpresa? Por que aqueles garotos não me foram apresentados antes? Se tivéssemos tido um entrosamento antes poderíamos compor o samba juntos, mas àquela altura já havia feito algo dentro de outra estrutura. Os garotos são maravilhosos me fizeram lembrar muito de mim quando tinha a idade deles. Fiquei de certa forma encantado com eles, mas muito intrigado comigo mesmo. Afinal, trabalho com atendimento a clientes e, se falo algo me comprometendo com as pessoas e essas pessoas não acreditam no que eu falo, algo de muito errado pode estar acontecendo comigo. Naquela noite do dia 17 de janeiro, quando eu voltei para casa fiquei até com medo de bater o carro, pois eu estava muito inculcado com aquele acontecimento. Também estava cansado, trabalhei o dia todo, dirigi por quatro horas para chegar até São Luís e terminar a noite daquele jeito. Cheguei em casa coloquei a cabeça no travesseiro e entreguei tudo a Deus.
Como no sábado (18/01) eu tinha um compromisso com a minha família, marcamos um encontro na Associação dos Promotores do Estado do Maranhão – APEM para o dia seguinte, domingo, 19/01.
Só para ajudar a memória, desde o início da semana eu vinha tentando marcar um encontro com o Zeco, que me disse que não podia na sexta à noite, nem no sábado e marcou comigo no domingo. Na manhã de domingo eu o telefonei e ele disse que mais tarde.
Fui encontrar com o Márcio, o Zé Roberto e outras pessoas da Turma do Saco. Naquela manhã eu tinha um tempo curto de permanência em São Luís e, além deste encontro, eu tinha um compromisso com a minha família, um almoço comemorativo. Além disso, ao retornar para casa, gosto de sair de São Luís até às 15 horas, para evitar o tráfego pesado no trecho São Luís-Miranda.
Na APEM o papo foi animado, os garotos Lucas e Rakan apareceram, tocaram, eu cantei alguns sambas com eles, foi divertido. Voltamos a conversar sobre o samba, eu falei que tinha começado um samba e que ia terminá-lo. Perguntaram-me quando eu terminaria o samba e eu me comprometi  a entregá-lo até o próximo domingo (26/01). Eles, Márcio e o Zé Roberto concordaram. O meu tempo estava estourado, tinha que ficar um pouco com a minha família antes de retornar para casa.
Antes de sair da APEM, ainda no carro, liguei para o Zeco e ele me disse que estava saindo de casa e eu o pedi que não viesse mais porque já estava na hora  do meu retorno para casa. Mas na conversa com os amigos na Apem eu soube que o Zeco está com sérios compromissos religiosos que são quase impeditivos da participação dele na comemoração dos 40 anos da Turma do Saco. Só então eu compreendi porque os nossos encontros não aconteciam.
Na segunda feira (20/01), logo que eu cheguei no serviço, telefonei para o Márcio Cavalcante e pedi o e-mail dele para que eu enviasse o samba. À tarde, enviei a letra com um áudio feito “na capela”(só voz sem qualquer instrumento musical acompanhando). Enviei também o samba para o Luzian Filho e o deixei livre para mexer na harmonia. Combinei com o Luzian Filho para ele marcar um estúdio para gravarmos uma cópia guia que orientasse uma possível gravação. Na terça-feira (21/01), em Santa Inês foi feriado municipal, dia da padroeira da cidade. Aproveitei o feriado e fui a São Luís gravar o samba, conforme havia tratado com o Luzian. Este, como músico conhecido do maestro Nonato, proprietário do estúdio, conseguiu um preço razoável, mas quando eu informei para o Márcio, ele disse que assumiria o custo do estúdio. Então, os custos com o estúdio ficou por conta da Turma do Saco e eu só tive gasto apenas com o meu deslocamento, alimentação e um agrado para Luzian (algo menor do que merece o trabalho dele).
Ao retornar para casa, às 21 horas, cansado demais, tentei ouvir o samba e não consegui. Achei a gravação péssima, tudo soava ruim aos meus ouvidos. Tive uma sensação péssima. Mas, graças a Deus existe João Gilberto. Peguei um cd do João Gilberto coloquei no som do carro e me acalmei. No dia seguinte telefonei para o Luzian Filho e fiz mil recomendações para ele, solicitando cuidados na hora da gravação definitiva com o intérprete da Turma do Saco. Eu ainda estava cansado, numa ressaca que parecia que tinha tomado bebida alcoólica no dia anterior. Dois dias depois, ao sair do trabalho, eu coloquei o cd para tocar no som do carro e percebi que o maior defeito do samba que escutei na terça-feira, era o meu cansaço, a fadiga, a irritação deixada por oito horas de viagem e mais 4 horas de estúdio.
Fiquei esperando a gravação do samba, mas ninguém me disse nada. No domingo, 26/01, recebi um telefonema do meu compadre Laurindo, que estava um tanto eufórico. Falou-me que passou no Codozinho e o Bazinho lhe deu uma cópia do cd gravado pelo atual intérprete da Turma do Saco, Vovô. Disse que estava de muito boa qualidade. Depois começou a dizer reiteradamente, - “O samba é o seu meu compadre, o samba é o seu”. Não entendi bem o que ele queria dizer, mas, aí ele foi mais enfático e disse: - “Eu conversei com o Zé Roberto e o Márcio e já está batido o martelo, o samba que o Saco vai levar para a avenida é o seu”. Naquele momento eu tive duas sensações: a primeira foi o medo que a escolha do meu samba fosse desencadear algum tipo de cisma na TS, logo agora. Ademais eu gostei muito dos garotos e, acho que talentos como os deles num bairro como o Codozinho, devem ser incentivados, apoiados, para que outros jovens sintam a vontade de se desenvolver tal como eles. Rakan e o Lucas são talentos emblemáticos no âmbito de uma localidade onde um número significativo de jovens entregam as suas vidas ao desgaste das drogas. Eles são inteligentes, brilhantes, sábios e, sobretudo, livres de qualquer vício.
A segunda sensação foi de alívio, não por ser meu o samba escolhido pela Turma do Saco, mas pelo fato de o meu compadre Laurindo ter gostado. Ele e a minha mãe sempre foram os meus maiores apoios e os meus maiores críticos, carrascos às vezes. Desde que ele ascendeu da bateria mirim para a bateria principal da TS, eu sempre lhe mostrava os sambas que eu fazia, em primeira mão. Eu pegava o cavaco e ele, um repique de mão, de acrílico azul transparente, que era uma cuíca, mas ele a transformou num repique. Ficávamos tocando o samba na sala, enquanto a minha mãe fazia crochê. Ele sempre dizia que parte tal estava ou não estava boa e eu o ouvia e ia trocando aqui, remendando ali, até chegar no ponto. O ponto era aquele momento que a gente tocava e a minha mãe não resmungava dizendo “esse samba tá triste”. Samba triste pra ela era samba ruim, mas ela nunca dizia bom ou ruim, ela só dizia que era triste. Então eu sabia que não ia tocar a alma das pessoas, porque dona Joana Palitó era povão e, se ela aprovasse, eu sabia que tinha muita chance de a rua toda gostar.
Meu samba sempre passava por três crivos, o do meu compadre Laurindo, o da minha mãe e o do meu tio Serrote. Sempre que o meu samba caía na graça do Serrote eu tinha a certeza de ter acertado. Serrote era legal, porque se ele gostava, ele comentava, difundia e defendia. Ele era simplesmente ótimo.
Coincidentemente, após a morte da minha mãe eu não tive mais a oportunidade de fazer sambas para a Turma do Saco. Há exatos 30 anos eu fiz o samba “Mãe África”. A minha filha mais velha não conheceu nenhum dos sambas que eu fiz para a TS, talvez por isso, quando ela escutou o meu samba, de pronto mandou um recado pela internet dizendo que ela e os irmãos vão desfilar em homenagem a mim. ADOREI! Vi naquele gesto um clone de Joana Palitó dizendo, agora sim, o samba tá alegre. Depois, ainda pela internet, vieram os elogios da minha prima Eliane de Serrote. Quando esta me falou que gostou do samba, eu fiquei maravilhado. Depois foi a minha querida Aparecida Costa e muitas outras pessoas.
A carga de serviço que eu tenho no dia a dia não me deixa  a oportunidade para curtir o samba do modo como eu fazia antigamente. É legal ver o samba ser cantado por outras pessoas, assim como é bacana ter como parceiro o meu sobrinho e afilhado Luzian Filho, que nem tinha nascido quando eu fiz “Mãe África”. Ele só ouvia falar que Luiz Prego fazia samba e sabe disso porque foi criado vendo as rodas de sambas na família. Já fizemos partido alto juntos, mas samba de enredo, acredito que nesse ponto eu era só uma lenda. Ele um exímio compositor, excelente músico, foi o responsável pela harmonia do samba. Ele deu o toque final na melodia para que o samba não tivesse altos e baixos. O cara é um craque.
Eis o samba, agora ele não nos pertence mais, é da Mocidade Independente Turma do Saco, é de cada sacolense, de cada simpatizante, de cada folião. Agora é só cantar, cantar, cantar, alegrar-se e ser feliz.
Mas não estaria na boca do povo se não tivesse a aquiescência do Zé Roberto e do nosso presidente Márcio Cavalcante. Se não contássemos com a elegância e delicadeza do Darlan, do Lucas e do talentosíssimo Rakan. Se não tivéssemos o apoio e força mobilizadora da amiga Rosário Costa. Por isto, eu externo a estas pessoas os meus agrdecimentos, o meu respeito.
A todos saudações sacolenses!


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sábado, 15 de fevereiro de 2014

É carnaval



Por mais que se queira tratar de outras coisas não podemos negar que a época é de folia. A festa de Baco está na veia de cada brasileiro. Gostamos do carnaval, não temos por que negar. Aliás, gostamos dos carnavais. É isso mesmo, dos carnavais. No Brasil temos vários carnavais. O carnaval do Rio de Janeiro, que tem o seu estilo peculiar e que até pouco tempo era nacional, com um formato de desfile em passarela, ou sambódromo, que influenciou quase todo o país. E tanto foi assim que o carnaval de São Paulo seguiu a mesma linha.
O carnaval da Bahia, que tem o seu forte nos trios elétricos criados por Dodô e Osmar, cuja continuidade perdura nos tempos hodiernos com um incremento extraordinário. Também esse carnaval teve o seu momento hegemônico, influenciando o Brasil inteiro, com as micaretas, chegando mesmo a criar carnaval nesse estilo onde antes não havia festa significativa nesta época, como no caso de Fortaleza, cuja micareta denominada Fortal é uma referência nacional.
Pernambuco tem o seu estilo próprio e o mistura com um pouco do que existe na Bahia. O frevo pernambucano tem a sua marca eivada de uma singularidade que nem um outro carnaval no Brasil tem. Ali o carnaval do povo não só foi mantido, mas também incentivado, apoiado de tal forma que passou para o Brasil inteiro uma espécie de encantamento que faz de Olinda a cidade mais original do país no que se refere ao carnaval, ou seja, CARNAVAL, é assim que se deve escrever a palavra quando nos referimos à Olinda.
Se tivéssemos o apoio, a sustentação que teve o CARNAVAL de Olinda ao longo dos anos, sem dúvida o carnaval do Maranhão seria, da mesma forma uma referência mundial. Creiam, o carnaval de São Luís é um dos melhores do Brasil, com especificidades de encantar qualquer turista que para lá se dirija com vontade e desprendimento para se divertir. O maravilhoso bloco tradicional, a casinha da roça, o corso, os Fuzileiros da Fuzarca, são brincadeiras carnavalescas sem igual. O carnaval de rua ludovicense é muito gostoso. Nos últimos 20 anos os concursos de marchas carnavalescas têm nos dados maravilhosas obras. Compositores como Wellington Reis, Sérgio Pinto, Neto Peperi têm feito belíssimas marchas que fazem a alegria dos foliões que curtem o carnaval da Ilha embalados pelas bandas e blocos de rua da cidade.
O mundo merece conhecer a Madre Deus, um bairro que a todo instante se reinventa e, com isso, recria o carnaval da Ilha. É de lá a Turma do Quinto, Os Caroçudos, Os Fuzileiros da Fuzarca, as tribos de índio, e as mais recentes brincadeiras como A Máquina de Descarcar Alho, O C de Asa, o Bicho Terra, um bloco belíssimo com cantores maravilhosos, músicos profissionalíssimos, tudo de bom. Mas o carnaval da Ilha não é só Madre Deus tem Esbandalhada, Vagabundos do Jegue, Bandida e muitas outras bandas maravilhosas.
Agora, se a pessoa é aquele folião que não gosta de maisena, pó de arroz, confete, serpentina e outras coisas do gênero, tem a passarela do samba. Lá, das arquibancadas, vai assistir aos desfiles das escolas de sambas, blocos tradicionais, blocos organizados, blocos afros, tribos de índios. Da mesma forma, vai sair de lá satisfeito com a beleza da parte do carnaval ludovicense que envolve desfile na passarela do samba.
Além disso, o carnaval dos bairros cresce a cada ano mais. Destes, o carnaval do Cohatrac é o mais animado.
No interior maranhense destacamos os carnavais de Cururupu, Rosário, Itapecuru, Barra do Corda, Pinheiro, Coroatá. Rosário que já havia inventado o boi de orquestra, criou agora, nos últimos 20 anos a micarroça, bloco que sai às ruas somente na quarta-feira de cinzas. São mil e quatrocentas carroças enfeitadas, transportando foliões com as fantasias mais exóticas do carnaval brasileiro e gente de todo o planeta se divertindo, porque Rosário é terra divertida.
 


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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Luiza Gonzaga Nogueira


Quem a conhecia por este nome no Codozinho, Lira, Belira, Vila Bessa, Macaúba, ou Madre de Deus? Três pessoas, creio que apenas três pessoas: Marlon, Helen e a Cláudia, seus filhos. Todos a conheciam apenas como Mocinha. Como no Codozinho, ninguém é filho sem dono, muitos a chamavam de Mocinha de Dona, porque Dona era como chamavam a mãe dela.
Cheguei ao Codozinho no início dos anos 1970, em 1973, para ser preciso. Não demorei a fazer amizade com ela. Depois fundamos a Turma do Saco, em 1974 e desde então ela passou a fazer fantasias de uma boa parte dos componentes. Era costureira, quase não saía de casa, vivia em função dos seus três filhos, mãe dedicada e, apesar de sair pouco de sua casa, era antenadíssima. Eu gostava muito de encostar na janela da casa de Mocinha e bater um papo com ela. Era divertido, uma sucessão de risos e sustos, porque Mocinha sabia de tudo que se passava naquele bairro, coisas que nós que só vivíamos na rua não sabíamos. Ela era minha amiga, tinha grande consideração comigo e eu com ela e filhos.
Lembro que uma vez ela me mostrou uma fotografia sua em preto e branco e eu quase cair pra trás. Pasmem, Mocinha quando jovem era linda, encantadora. Mas, eu só conheci esta sua fase por meio da aludida fotografia. Mesmo assim, confesso, tinha grande admiração por ela. Na verdade, não pela Mocinha mãe do Marlon, da Cláudia e da Helen, mas pela Mariléia. Algum de vocês que leem este artigo conheceu a Mariléia? Eu a conheci. Mariléia era uma atriz que pouca gente do nosso querido Codozinho conheceu. Um monstro sagrado no tablado, uma atriz fora de série que não deixava nada a desejar em frente aos maiores nomes do teatro nacional.
Mariléia era o nome artístico de Mocinha, era assim que ela era conhecida entre os artistas ludovicenses. Lembro-me da primeira vez que eu a vi atuando, foi pelo grupo Teatro Experimental do Maranhão – Tema, no Teatro Artur Azevedo, na peça intitulada “Hoje a banda não sai” dirigida pelo nosso saudoso Reinaldo Faray, figura com a qual ela já deve ter se encontrado no céu, a esta hora.
Um dia revelei à Mocinha a minha paixão pelo tablado e ela sem pestanejar me convidou para fazer parte do Tema. Participei de vários ensaios no grupo e até cheguei a substituir um ator chamado Lourival, na peça “Hoje a banda não sai”, em Pedreiras, numa apresentação num antigo cinema daquela cidade. Confesso que a experiência não foi das melhores.
Depois, acredito que em 1978, Reinaldo Faray montou o clássico “O lago dos cisnes” na qual eu, Nonato Cavalcante e outros amigos atuamos como pajens. Depois dessa experiência, eu me juntei com Heleno Fournier, Zequinha Cavalcante, Lúcia, Sílvia e outros amigos do Clube de Jovens da Igreja de São Roque, no bairro do Lira e fizemos o Grupo Firmamento, montamos uma peça chamada “O pesadelo”. Eu dirigi e atuei na peça. Foi um sucesso, mas paramos por aí.
Não tenham dúvidas, nessa fase da minha vida, fui influenciado pela Mariléia e, só quem a viu atuando pode compreender como aquela Mocinha, costureira, magra, quase inexpressiva se transformava no palco do teatro numa atriz maravilhosa. Além de lhe ver atuando no Tema, eu a vi no grupo de um senhor chamado Walter, ou Válter, com a mesma desenvoltura de sempre. Uma grande atriz, essa é a imagem de Mocinha que ficou impregnada na minha memória.
Mocinha, pelo bom papo, pela amizade, pela delicadeza e elegância que você sempre me tratou, eu peço a Deus que te ilumine onde você estiver. E, aos teus filhos, Marlon, Helen e Cláudia, diante dessa saudade enorme que você deixa, eu apresento os meus sinceros sentimentos.


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