sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Colapso Brasil

Bem que deveríamos estar vivendo um momento como preconiza o samba “Brasil pandeiro”, de Assis Valente: “Brasil esquentai vossos pandeiros/iluminai os terreiros/ que nós queremos sambar”. Este é o clima que desejávamos às vésperas da Copa do Mundo. Prontos para participar desse evento universal, mostrando a nossa batucada, incentivando os nossos craques à vitória que nos levará à conquista do hexa que tanto desejamos. Estádios prontos, mas não em detrimento de serviços essenciais como educação, saúde, segurança, moradia. Não em detrimento da alegria do povo brasileiro, mesmo porque é dessa alegria que emana a força que impulsiona a nossa seleção à vitória.
Desejamos cantar com toda a felicidade que o brasileiro tem direito: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amooooor”!. Felizes, mostrando aos estrangeiros que nos visitarão as belezas naturais e artificiais que este maravilhoso país tem. A nossa cultura exuberante: samba, forró, maracatu, axé music, caipirinha, feijoada, acarajé, vatapá, caruru, bobó de camarão, praias, cachoeiras, rios, cascatas, o astral desse povo maravilhoso, belezas infindas que ornamentam este país e, claro, os nossos estádios e um futebol do jeito que nós gostamos – bonito e vitorioso.
Queremos nossas rodovias adequadamente prontas para que possamos trafegar por todo este país, livres dos buracos que acabam com carros e vidas. Queremos ferrovias que possibilitem transporte humano e de cargas de norte a sul, de leste a oeste. Aeroportos perfeitamente adequados à demanda que temos atualmente e, suficientemente, equipados para atender a procura que esta Copa do Mundo provocará. Hidrovias e portos capazes de dar maior fluxo turístico e de transportar a nossa produção em proporções e custos adequados.
Queremos segurança suficiente para não fazer das nossas residências verdadeiras prisões, com grades, trancas, cerca elétrica, vigilância eletrônica e outras parafernálias similares. Desejamos ir e vir sem o risco de sermos roubados ou mortos por causa de um celular, um cordão de ouro, ou uns centavos que levamos na bolsa, ou ainda, por estarmos com as bolsas vazias.
Ao invés do que desejamos a realidade nos mostra um cenário, no mínimo, adverso. Mães que fazem fila durante noites e madrugadas para matricular os seus filhos na escola pública. Hospitais que mais parecem abatedouros humanos, superlotados de doentes pelos corredores gemendo suas dores cujos ecos parecem que nunca alcançam a sensibilidade dos que governam o país. Nas ruas, a violência que emana dos poderes concentrados nas “prisões” grassa país a dentro, rouba e mata trabalhadores, empresários, amedronta as pessoas de bem. Determina quando comerciantes devem ou não fechar as suas lojas, matam policiais, juízes, pobres, mendigos. Distribuem drogas pelos quatro cantos do país.
Logo às primeiras chuvas vemos um sem número de famílias desabrigadas, despossuídas de tudo que conseguiram ao longo da vida. Impotentes, esses irmãos veem seus gritos pairados no ar, uma vez que já fazem parte de uma estatística que se enrobustece a partir da incompetência e da desonestidade daqueles que desviam verbas destinadas a amenizar o sofrimento das vítimas das catástrofes originadas por intempéries climáticas.
Neste momento, vivemos o colapso Brasil, simplesmente, porque as autoridades se fizeram de surdas para os gritos que ecoaram nas ruas do país. Por isso, não tenho dúvida de que essa Copa será um espetáculo cujo cenário será montado não para abrilhanta-la, mas para dissimular as lacunas deixadas por não termos feito as lições de casa.

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As chuvas do Brasil

Desta vez são os estados do Espírito Santo e Minas Gerais com municípios submersos, com suas ruas inundadas, comunidades inteiras desabrigadas, milhares de famílias abrigadas em escolas, igrejas, clubes e outros prédios de uso coletivo. Governos estaduais e municipais habilmente declaram estado de calamidade pública. A presidente Dilma foi rápida na resposta, criou um cartão de crédito destinado às despesas imediatas para a recuperação dos municípios atingidos.
Até aí, da parte das autoridades brasileiras, nada errado. São irmãos brasileiros atingidos mais uma vez por uma catástrofe natural e, por isso, são merecedores de toda nossa solidariedade. Afinal, todos estamos, de alguma forma, sujeitos a este tipo de acidente, ainda mais quando se trata de algo que se repete país a dentro, ano após ano e nós não procuramos tirar qualquer lição dos erros que implicam a ação humana que de alguma forma colabora para que esses desastres se repitam cada vez mais intensos no que respeita ao poder de destruição que eles têm.
Maranhão, Rio de Janeiro, os estados nordestinos que compõem o chamado polígono das secas e tantos outros mais, já sofreram os efeitos desastrosos das intensas chuvas de final e de começo de ano. Lembram-se da música que Fagner e outros cantores cantaram falando sobre a “seca d’água” no ano que o Nordeste brasileiro, sempre atacado pelas secas, sofreu os efeitos das intensas chuvas cujos resultados foram tão ou mais desastrosos que a seca, uma vez que as chuvas caíram numa intensidade tamanha, num curto espaço de tempo, tendo um efeito arrasador de modo que em nada beneficiou aquela região historicamente tão marcada pelos efeitos das secas?
Fala-se que Euclides da Cunha antes de viajar para cobrir a guerra de Canudos, passou no Ceará e ali leu tudo sobre a escassez de chuvas no Nordeste, leu todos os discursos do senador Pompeu a respeito do assunto. Na Bahia, ele teve acesso às informações meteorológicas existentes na época e estudou o que havia de mais atual sobre a antropologia do povo nordestino, com o qual ele ficou tão impressionado que o tratou em seus escritos como se fosse verdadeira etnia. É certo que desde sempre se tem informações técnicas sobre as causas e os efeitos das secas e, o mesmo se pode dizer das inundações provenientes das fortes chuvas que caem de dezembro a abril nas diversas regiões do país. Também não podemos negar o esforço técnico de bons brasileiros engendrando as mais diversas alternativas de combate à seca e, isto também é verdadeiro quando nos referimos às inundações.
Os recursos alocados para combater a seca no Nordeste e as inundações nas diversas partes do país não são poucos, contudo, o mesmo não se pode dizer do montante que, de fato, chegou ao seu destino. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do semiárido ao longo dos anos tem contribuído bastante, disponibilizando tecnologias que amenizam os efeitos da seca nessa região. Universidades e ONG’s também têm realizado pesquisas e experiências nesse sentido. O que falta mesmo é a honestidade para que as autoridades destinem a totalidade dos recursos dirigidos ao combate das catástrofes naturais nas ações demandadas pelas áreas atingidas. Que sejam verdadeiramente empregados nas ações imediatas e naquelas de médio e longo prazo cujos efeitos também são mais duradouros.
Precisamos nos espelhar no exemplo do Japão, apesar de termos experiência de sobra com os problemas que nos afligem. E, pelo tempo que os sofremos, se empregarmos honestamente os recursos que temos disponíveis para tanto (financeiros, tecnológicos, humanos), não tenho dúvidas que esse país, mais do que nunca, se tornará um exemplo universal a ser seguido. Acredito muito no meu país, tenho a esperança que o efeito Joaquim Barbosa haverá de inibir a prática de patrimonialismo dos recursos públicos, para que os irmãos atingidos pelas catástrofes naturais sejam devidamente atendidos e tenham as suas vidas restauradas, apesar de todas as perdas que experimentaram.

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Gol de Dida!

Ainda sob a ressaca do Natal entro na internet e está lá “Inter chega a acordo e tira Dida do arquirrival Grêmio”. Mas, o que aqui interessa não é a rivalidade existente entre o Inter e o Grêmio, não é o salário que o Dida irá receber, nada disso. O que a reportagem destaca é a idade do Dida, 40 anos. O currículo ou a ficha técnica do Dida também não é algo que dá para passar despercebido, ao contrário, o goleiro tem uma história de vida invejável, coisa de craque.
No futebol é raro um jogador chegar aos 40 anos jogando em alto nível, até porque há entre eles uma postura ditada por um tácito código de conduta consuetudinário, que diz ser melhor deixar os gramados quando ainda se está jogando bem, pois assim a imagem que fica para os torcedores é a do craque bem sucedido, que deixou o futebol jogando um bolão; caso contrário, a lembrança será a do jogador decadente que persiste em jogar, contudo os clubes já não lhe abrem mais as portas para o exercício da profissão, daí a aposentadoria compulsória.
O caso Dida não é único na história do futebol brasileiro. Manga, um dos maiores goleiros que o Brasil já teve, jogou muita bola até essa idade que no futebol brasileiro chega a ser considerada um absurdo. Dida voltou da Europa e jogou uma temporada na Portuguesa de Desportos, mas, logo em seguida foi para o futebol gaúcho jogar no Grêmio. Ali fez uma temporada razoável e agora muda-se de malas e cuia para jogar no maior rival do Grêmio, o Internacional.
Dida é um jogador brasileiro bem sucedido. Comedido, nunca se envolveu com o modismo espalhafatoso, não procura chamar a atenção da mídia pelo corte do cabelo ou pelo carro internacional caríssimo. Ao contrário, calmo, quase sisudo, passaria até despercebido, não fosse a sua qualidade de grande goleiro.
Para além de tudo que já foi dito aqui, Dida não está numa condição financeira ruim, querendo caçar níquel em qualquer clube de futebol. Dida quer jogar e jogar bem. Sabe da responsabilidade que tem um profissional que joga na posição que ele joga. Sabe que o exercício da profissão exige que o goleiro tenha bom reflexo e uma elasticidade felina. Por isso, a ele, o goleiro, é dispensada atenção especial, o que implica em treinamento árduo, intenso, específico, duro. Entretanto, mesmo assim o craque insiste em permanecer na ativa. Por quê? Porque Dida, sobretudo, ainda tem condições física, psicológica, emocional para continuar defendendo grandes clubes de futebol, em alta performance. Eis no que consiste o gol de Dida. Sem qualquer pretensão ou necessidade, Dida dá a sua contribuição para quebrar esse tabu que dita que a carreira de um jogador acaba com o limite da idade (32 até 36 anos). Dida com o seu magnífico gesto vem nos mostrar que o que determina o exercício de uma profissão não é necessariamente a idade, mas a sua condição física e, ou intelectual para exercê-la e, claro, o seu tesão para enfrentar a rotina diária de um profissional, que no caso dele são treinos, concentração, viagens, jogos, intensa cobrança de resultados da parte da torcida, técnicos e dos dirigentes dos clubes.
Não sou torcedor do Grêmio, nem do Internacional, aliás, o único time que o Dida jogou que eu torço é a seleção brasileira. Todavia, confesso que no momento, pelo feito, eu desejo muito sucesso ao Dida pelo golaço que ele faz ao exercer a sua profissão com condição, responsabilidade, serenidade, entre outras qualidades que lhes são próprias. Salve Dida! Golaço!

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As amizades e o tempo

Há uma fase da vida em que estamos muito mais abertos à amizade - a adolescência. É também a fase em que nos movimentamos mais, transitamos por vários ambientes e isso nos leva a conviver com muitas pessoas. O clube social, o time de futebol, vôlei, basquete, bares, restaurantes, festas, aniversários, ou outros. A escola, o curso de inglês, a escola de dança, capoeira, judô, caratê, o bairro onde moramos, no clube de jovens da Igreja.
Nesta fase, as relações são intensas os jovens se entregam com muita energia a tudo que fazem. É menor o medo do outro, o filtro do jovem é menos espesso, é mais tolerante. Por isso,  fazem amizades instantâneas e passageiras, ou intensas e duradouras.
 Depois, na fase adulta, as pessoas estão mais envolvidas com a vida profissional, a família. O foco agora é conseguir um emprego, ser reconhecido profissionalmente, progredir. Ver o reflexo da sua progressão na sua condição social, eis o sonho de todos. Nessa fase, os amigos podem ser escolhidos entre os colegas de trabalho, principalmente, para as pessoas que mudam de local, aquelas que vão fazer a carreira profissional em outra cidade, outro estado, ou num país diferente. Mas isso não é regra.
As fases são marcantes, as amizades também. Há aquelas que se consolidam para sempre. São pessoas para nós tão interessantes que jamais esquecemos, jamais deixamos de gostar e, sempre que as vemos ficamos muito alegres, tamanha a satisfação que temos em rever essas pessoas. Isto é indicativo de que apesar do tempo as amizades verdadeiras nunca acabam.
Não raras vezes, as verdadeiras amizades sofrem o desgaste da distância, das atribulações, do corre-corre que a vida moderna nos impõe e tantos outros obstáculos, mas, ela permanece ali, forte, porque amizade verdadeira é para toda a vida.

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