sexta-feira, 20 de março de 2009

Violência na escola

Há tempos que a mídia mostra dezenas de casos de violência em escolas públicas e particulares brasileiras. São crianças, pré-adolescentes e adolescentes que se desentendem entre si, ou com professores e outros funcionários das escolas, que as repreendem por atitudes de indisciplina ou insubordinação.
Crianças que cometem casos de indisciplina não é uma coisa rara nas escolas, isto sempre aconteceu, mas, o que espanta e preocupa é a violência que permeia esses casos. São lesões corporais graves com tentativas de homicídios, homicídios, ofensas morais, traumáticas e irreparáveis, uma série atos que além de preocupar envergonham a sociedade.
Percebo que muitos tem pensado na origem das causas desses tipos de atitudes: se a escola, a família, o meio em que essas crianças e jovens convivem, ou outros.
No mundo hodierno, pai e mãe necessitam de trabalhar fora para obter o sustento da família, embora haja casos que mesmo os dois se submetendo a regimes de trabalho assemelhado à escravidão, o que ganham não é suficiente para darem uma vida digna à família. O outro aspecto deste fato é a atenção que falta aos filhos quando pai e mãe se ausentam de casa por tanto tempo, deixando os filhos a mercê da sorte, de um ou outro vizinho mais generoso, ou de terceiros que lhes prestam serviços domésticos.
A ausência de pai e mãe faz muitíssima falta no quotidiano da criança, porque lhe tolhe da assimilação da cultura familiar, ensinamentos, práticas, princípios, regras, limites que lhes são necessários na formação do caráter durante a infância e a adolescência. Quando esse convívio não existe ou é substituído por encontros pontuais ou eventuais, esses encontros tendem a ser ou festivos – os pais no afã de preencherem a lacuna deixada pela ausência do dia-a-dia, quando estão em casa no final de semana criam momentos de lazer ou festivos para, desse modo, suprirem a falta que fazem durante a semana toda. Outros fazem justamente ao contrário, aproveitam os encontros de fim de semana para corrigir prováveis erros cometidos pelos filhos durante as suas ausências. Neste mister, agem sob informações de vizinhos, parentes, ou recados ou avisos escolares que denunciam faltas cometidas pelos filhos. Neste caso, os poucos momentos de convivência se confundem com repressão.
Fique claro que atenção é muito importante e cara. Quando não há acompanhamento sistemático dos pais, a falta de atenção é assimilada pelos filhos, que de acordo com o caráter intrínseco de cada um, com a personalidade específica, reagem e a externam das mais distintas formas. Passam a cometer atos que chamem a atenção da escola, da rua, da vizinhança e, em muitos casos, da polícia. Uma vez tolhidos da presença dos pais, que lhes são abruptamente sugados por uma espécie de ganância social, deixam de assimilar a cultura familiar que o convívio com os pais lhes proporcionaria e passa a admirar “heróis” forjados na convivência fora de casa, tornando-se presa fácil da violência, das drogas, do crime.
O Brasil herda do regime escravista cacoetes desprezíveis que agravam as diferenças sociais entre os diversos segmentos da sociedade. Aqui me refiro à mania que tem os nossos governantes de capricharem sempre que fazem algo para as classes média e alta e negligenciarem, propositada e culturalmente, quando as coisas são destinadas às classes baixas. Essa herança pode ser responsabilizada por parte do descaso que se verifica nos bairros de classe baixa. Faltam áreas verdes, praças e parques onde as crianças possam ter momentos de lazer, faltam segurança, espaços culturais, as escolas não tem espaços físicos para esporte, laboratórios e cultura e, no tocante à metodologia de ensino e ao conteúdo programático são, de modo geral, fracos.
Embora haja estudos que diga ao contrário, eu insisto batendo na tecla do círculo vicioso da má qualidade do ensino público atualmente. Escola arquitetônica e educacionalmente insatisfatória, com professores mal pagos, desestimulados, desinformados, mal formados. Pouca ou nenhuma interação com a comunidade, encontro de pais e mestres com conteúdo negativo, sempre cobrando dos pais ao invés de estimulá-los a participar ativamente da vida dos filhos aliando-se à escola. Alunos desinteressados, pouco envolvidos ou comprometidos com a escola, aprendizagem aquém daquilo exigido pela sociedade e pelo mercado de trabalho. Mas, o pior de toda essa situação é a relação desrespeitosa entre alunos e professores. Turno ou tempo de estudo diário na escola incompatível com a situação social do estudante. É claro que neste meio há exceções.É necessário que se recrie a escola pública, compatível com a realidade dos alunos das classes sociais populares, integrando-os, despertando-lhe maior apego e prazer ao freqüentá-la. Entretanto, não há escola de qualidade que substitua a presença dos pais na vida dos filhos, portanto, neste momento de crise, podemos torná-lo num ótimo momento não só para pensar uma nova ordem econômica, financeira, ou monetária, mas, para repensar esse nosso modelo social, em que o mercado consome famílias e produz violência e chama tudo isso de desenvolvimento, agora, com o apelido de sustentável.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Corruptus brasiliensis

Podemos afirmar que não se trata de um pássaro, nem é um gênero de ocorrência exclusivamente brasileira, embora a espécie brasiliensis seja própria do Brasil, há indícios de que fora detectado há 500 anos atrás, é um patógeno, mas não é próprio nem descoberto no âmbito da ciência biológica, embora necessite da forma humana para se manifestar. O Corruptus é um mal do caráter, está no DNA de todo ser humano, mas, em umas pessoas é de caráter recessivo, enquanto em outras é dominante, ou plena e francamente dominante. Portanto, não é vírus, bactéria, nem pertence a classe insecta. No Brasil, as espécies que mais se manifestam e representam grande perigo à nação, ou mais especificamente, aos cofres públicos são o Corruptus brasiliensis executivus, o Corruptus brasiliensis legislativus e o Corruptus brasiliensis judiciarius. Estes podem se manifestar, quando encontram ambiente propício, nas esferas municipal, estadual e federal. Por isso, quando se deseja caracterizar o ambiente ou esfera de ação deste nefasto ser, coloca-se após o seu nome a letra inicial do ambiente em alusão. Assim, o Corruptus brasiliensis executivo m., refere-se ao brasileiro ou a brasileira de caráter manifestamente corrupto, que se nutre da subtração dos cofres públicos no poder executivo municipal. Mas, é comum que Corruptus de esferas de atuação diferentes ajam em perfeita sintonia, ou seja, têm ação sincronizada, em cadeia.
Todos são igualmente lesivos ao erário. Vale acrescentar que o Corruptus é um mal próprio à esfera pública, tendo na esfera privada a indução de um outro patógeno do mesmo gênero conhecido como Corruptus corruptoris, vulgarmente conhecido como corruptor, que age em parceria com as outras espécies alimentando-as para que estas possam ser cada vez mais danosas ao ambiente em que atuam.
Há quem afirme que no Brasil o maior de todos os males é a corrupção, ou seja, os estragos causados pelo Corruptus. Dizem que nem mesmo os estragos causados pelas intempéries climáticas se comparam à maldade e aos danos próprios da ação do Corruptus. Isto se explica pelo fato de o Corruptus ser tão malvado que mesmo num ambiente de estragos causados por secas, enchentes, terremotos, ou vulcões, o Corruptus age se aproveitando da situação, chegando mesmo a roubar até do flagelo decorrente do caos que se instala nessas situações. Só para se ter uma idéia do nível que chega a maldade dos seres do gênero Corruptus, eles são mais desastrosos que as guerras, uma vez que numa nação em estado de guerra, sob irreparáveis danos – morte, fome, desabrigo, miséria, o Corruptus se manifesta para tirar proveito da situação e, como é de costume, agravar o estado de necessidade da população. O Corruptus se nutre essencialmente da miséria humana e dentre as classes sociais, os pobres são as suas vítimas preferenciais. A fartura do Corruptus significa a falta de moradia, hospitais - leitos hospitalares ou a negligência dos serviços de saúde, a falta de transporte, segurança, alimentos, saneamento básico, educação, postos de trabalho e outros bens e serviços essenciais às pessoas das classes mais populares. O Corruptus quando age no âmbito das classes sem privilégios é chamado ladrão, contudo, esta não é uma terminologia própria da High society, habitat próprio, preferencial e costumeiro do gênero. Aliás há indícios de que a terminologia foi criada para distinguir ladrões de classes distintas, e ainda, porque o Corruptus por se tratar de um fino rapace, utiliza-se de meios refinados para subtrair o patrimônio público.

domingo, 1 de março de 2009

A Página em balanço


No ano passado escrevi 12 pequenos textos para A Página do LF: 11 artigos e uma poesia que tive a oportunidade de contar com a participação de Paulo Di Linhares, meu filho.
Quando iniciei, em abril do ano passado, foi com o intuito de preencher um vazio na minha vida, ocupar-me de um afazer prazeroso – escrever sobre coisas do quotidiano, emitir opiniões sobre coisas e aspectos da vida. Sobre a política de quotas para negros, a união no trabalho, reforma agrária, meio ambiente, observações sobre as viagens de trabalho, racismo, disputa política no interior, participação econômica em campanhas eleitorais, pesquisa sobre a palmeira do coco babaçu, e ainda, uma crônica de despedida de uma ex-companheira de trabalho que completou o seu ciclo entre nós, foram assuntos dos quais me ocupei, exteriorizando o que penso.
Para minha surpresa, muitas pessoas deram-me o prazer da atenção, lendo cada um dos textos e várias manifestaram preciosas e incentivadoras opiniões. A todas essas pessoas os meus mais sinceros agradecimentos pela cara atenção a mim dispensada.
Quero de modo especial agradecer aos meus filhos, Paulo César e Juliana, críticos imprescindíveis e consultores voluntários, cuja solidariedade e desprendimento foram-me sobremaneira importantes.
A interação com os leitores moveram-me a fazer esta breve avaliação deste pequeno interregno de existência da Página. Pretendo em 2009 que a vida flua de acordo com o que cada um de nós planejou e, no caso da Página, que a criatividade, a participação interativa e a prolificidade de idéias constituam marcas indeléveis de todo o curso da sua existência.Indubitavelmente esta experiência vitoriosa continuará no decurso de 2009, contribuindo modestamente para mitigar o debate democrático exteriorizando opiniões sobre os mais diversos assuntos de interesse da sociedade brasileira e, o que é mais importante, contando com a participação do/a leitor/a.