terça-feira, 23 de abril de 2013

A sombra e a luz



Certa vez, conversavam a Manhã e a Tarde:
- Manhã, o que há com você?
- Como assim?
- Ah, de uns tempos pra cá te sinto mais morna. Antes tu tinhas uma luz mais intensa.
- Intensa?
- Sim, mais intensa. A tua luz parecia mais luminosa, nos contagiava. O sol parecia brilhar mais pra ti do que para os outros. Agora, quando te encontramos vemos a tua luz um tanto embaçada, que te deixa quase que triste, sisuda, um tanto sorumbática, embora se saiba que o sol ainda brilha pra ti na mesma intensidade de antes.
- Ah, sim agora eu entendo. De alguma forma, Tarde, você tem razão. Eu explico. Antes a minha luz parecia mais intensa, porque a minha sombra também era intensa. Ou seja, luz e sombra são partes imprescindíveis de mim, mas a minha sombra morreu.
- Como?
- É isso mesmo que você ouviu, perdi uma parte mim muito importante – a minha sombra. Daí o contraste entre luz e sombra acabou. A minha luz, embora ainda muito intensa, perdeu o contraste que lhe emprestava mais visibilidade e isso fazia de mim uma manhã mais alegre, mais segura, mais sorridente e contagiante. Como você pode perceber, por trás da serenidade da sombra estava a fonte da minha visibilidade, porque em mim sombra e luz se complementam e, com a perda da sombra, agora sou metade. Enfim, perdi o contraste que fazia a minha luz parecer ter mais luminosidade.


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domingo, 14 de abril de 2013

Joaquim Barbosa: competência e diferença versus inconformismo


O ministro Joaquim Barbosa é o primeiro negro a exercer a função de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e, da mesma forma, o primeiro negro a chegar à presidência do STF. De origem pobre, de destacada imparcialidade nos seus julgamentos, homem de coragem, reconhecido saber no âmbito da sua função, ministro que mais se destacou no julgamento do mensalão, hoje de grande notoriedade nacional e internacional.
Apesar de todas as qualidades que lhe credenciam à ocupação do cargo, desde a condenação dos rapaces de colarinho branco envolvidos no conhecido caso mensalão, ao que tudo indica, uma parte da elite brasileira vive inconformada com o ministro Joaquim Barbosa. O ministro não se intimida com posturas do tipo “sabe quem sou eu?”, ou com recomendações como “procure o seu lugar”. Isso tem irritado muitos dos seus interlocutores ultimamente.
Observo que recentes reclamações ou mesmo pichações de uma elite inconformada porque o ministro Joaquim Barbosa tendo a origem que tem não lhes baixa a cabeça, nem tem medo ou vergonha de lhes mostrar o nariz arrebitado. Esse inconformismo se revela em frases como “não está talhado para o cargo que ocupa”, “não tem postura condizente com o cargo que exerce”, “temperamento incompatível com o cargo”, dentre outras pérolas da mesma estirpe.
Tudo que se lê nesse sentido soa como se dissessem que o ministro que teve a coragem de condenar rapaces abomináveis da elite brasileira está andando além daquilo que deveria, ou seja, tendo chegado no lugar em que chegou deveria mesmo era se conformar, gozar dos privilégios do cargo e deixar o protagonismo para os seus pares da elite; ou ainda, que ele, o ministro Joaquim Barbosa, deveria ser mais discreto e empinar menos o seu nariz chato, pois assim evitaria de parecer com, ou superar os ministros que lhe antecederam no cargo em que ocupa no momento. Também se pode sentir a inveja que sentem aqueles que se acham mais do que o ministro Joaquim Barbosa ao vê-lo hoje uma sumidade nacional, abraçado pelo povo brasileiro por ter feito o que todos nós brasileiros das classes mais populares esperamos há séculos dos homens que fazem a Justiça brasileira.
Em síntese, de nada adianta o disfarce de acusar o ministro de intolerância, quando os que o acusam não toleram ser encarados por interlocutores como ele. Por favor, elite brasileira inconformada e contrária à condenação dos seus iguais, deixe o ministro exercer o cargo da forma como ele sabe, mesmo que seja diferente dos seus antecessores. Ele tem competência para tanto e todos nós sabemos. Por gentileza, deixe de culpá-lo de intolerância com os diferentes, pois afinal de contas o diferente dentre os vossos filhos é ele. Afinal há mais de 500 anos ele bate com a cabeça no teto de vidro que pairava sobre si. Ele conseguiu e não sabemos se outro de nós conseguirá em breve tempo ou se precisará de mais 500 anos.
Ah, antes que eu me esqueça, não adianta querer colocar nódoas sobre os méritos do ministro Joaquim Barbosa, de nada adiantará o vosso disfarce, todos sabemos do quanto andas aborrecida pela firme decisão e pela perseverança dele em mandar os vossos filhos rapaces para a cadeia. Não adianta tentar demovê-lo repetindo mentiras, fazendo chacotas, ou usando outras formas de disfarces para denegrir o caráter do ministro, afinal nem todos os seus filhos são insensatos e arrogantes, há aqueles que estão verdadeiramente focados nos méritos do presidente do STF. Já é tempo de darmos “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, então deixe de sentir nojo das mãos que limpam as vossas sujeiras.

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terça-feira, 9 de abril de 2013

Este artigo foi postado por solicitação e por solidariedade ao colega Antônio SORLANGE Freire, pai do Derick Freire.


Definitivamente, não à violência.
Quando na noite de quarta-feira, 3, o garoto Derick Freire saiu de casa para o curso de Tecnologia da Construção de Edifícios que ele faz no Instituto Federal do Maranhão - Ifma de Santa Inês, jamais pensou que seria vítima de tamanha brutalidade. E o pior, sem qualquer motivo que ele fosse cônscio. Quando o pai do Derick recebeu o seu telefonema pedindo que fosse buscá-lo na faculdade, de pronto ele pensou que o seu filho não teria conseguido carona pra voltar pra casa, e disse-lhe:  - espere que eu vou mandar o seu irmão lhe buscar. Foi então que ele, o pai, ouviu uma voz que expressava mais que a vontade de retornar ao lar, um gemido de dor, humilhação, vergonha e tudo mais que um ser humano pode sentir quando submetido a um ato de violência cuja causa desconhece: - pai venha o senhor mesmo, eu fui agredido.
- Como? Perguntou o pai atônito. – Eu fui agredido, respondeu Derick como um gemido de dor.
Daí então o desespero tomou conta da família Freire. Derick Freire é um garoto calmo, tímido, educado, de fino trato com seus familiares e amigos. Nunca se meteu em brigas ou confusões na rua, ou na escola. Estudioso, passou recentemente num concurso público que fez. Por que logo ele teria sido agredido?
Pai e irmãos de Derick chegaram ao Ifma transtornados e tomaram conhecimento que o garoto foi agredido por um ex-marido de uma colega sua de classe, que abdicara do casamento cansada de ser tratada a chutes, bofetões e outras agressões físicas e morais. O marido, inconformado por ser preterido pela ex-mulher passou a segui-la insanamente. Ela e o colega agredido costumavam pegar carona com uma amiga que reside no bairro São Benedito e os deixavam nas suas respectivas casas. Daí, erroneamente, o agressor pensou que o estudante foi a pessoa responsável pela ruptura da sua relação conjugal.
É drasticamente irônico alguém que costumeiramente agride a mulher com tanta violência e covardia, achar que uma terceira pessoa é responsável pelo fim do seu casamento. Pior que tudo isso, foi o modo covarde como o Derick foi agredido, sem saber sequer do que se tratava.
Derick recebeu um soco, caiu e viu seu algoz voar sobre si batendo e dizendo que aquilo era para ele não acabar mais com casamento de ninguém. E o garoto, coitado, inocentemente, sem compreender nada naquele momento, perguntava ao agressor: - qual casamento? qual casamento? Logo em seguida, o agressor se voltou para a ex-esposa e a espancou muito e, tal como fez com o Derick, covardemente. O pior de tudo, toda essa violência insana deu-se no âmbito do Ifma, ou seja, de um estabelecimento federal de ensino, sem qualquer cerimônia por parte do agressor.
A família Freire, como descendente de homens livres e de bons costumes, sempre integrada a movimentos sociais voltados ao combate à ignorância, à brutalidade, aos vícios; em favor da paz, da filantropia, da união dos povos de todas as raças e credos, não poderia deixar de repudiar todo e qualquer ato que tente contra a integridade física ou moral da pessoa humana e, assim, como um grito de dor pela agressão sofrida, dizer: definitivamente, não à violência.
Acreditamos que as autoridades constituídas deste município, do estado e do país canalizarão o caso, com fulcro nos dispositivos legais vigentes, para o caminho da justiça, a fim de que o agressor não fique impune e a paz volte a reinar com a abundância de sempre no seio da família e da sociedade santainesense.

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