terça-feira, 12 de agosto de 2008

Uma dívida ao babaçu

Lembro-me dos professores falando sorridentes e sarcásticos de um certo “muito bem feitinho” projeto elaborado para desenvolver o plantio e a industrialização do coco babaçu, no Maranhão, nos anos 1960 e 1970. “Eles sequer sabiam com quantos anos a palmeira frutificava e quando souberam ficaram atônitos”, falavam assim os meus professores daqueles projetistas (malucos?) que teimavam no adestramento da palmeira, querendo tirá-la do status de planta nativa, para o de planta cultivada - cultura do babaçu.
Há pouco tempo eu andava numa área em que o proprietário mostrava-me, tal qual os meus professores de outrora, palmeiras de babaçu, dizendo: “veja como elas estão alinhadas, ainda dá para perceber o alinhamento e o espaçamento de muitas que aí foram plantadas pela indústria tal”. Senti no meu guia mais que o simples sarcasmo ao desconhecimento, externado pelos meus ex-professores. Nele o comentário saía eivado de ira. A empresa a que ele se referia, lutara, no passado, numa inglória disputa de terras, tentando o domínio de uma imensa área de terras que ela pretendia para o cultivo do babaçu, que hoje abrangeria dois ou três municípios do Estado do Tocantins.
Hoje eu percebo que tanto na postura dos meus ex-professores, como na postura do proprietário desafeto da indústria de coco babaçu, há um desprezo pela pesquisa científica que se destinaria a dominar e interferir no ciclo de desenvolvimento da palmeira nativa. Essa idéia era muito forte há décadas atrás, embora num dos vértices da cadeia produtiva do babaçu sejam notáveis as investidas da indústria na tentativa da criação de máquinas que aperfeiçoem, na linha de produção, a extração da amêndoa.
Seria em vão pesquisa nesse sentido? Será que se tivéssemos insistido em pesquisas para agregar melhorias à planta, nesses 30, 40 anos, já não teríamos logrado êxito em algum aspecto? Ainda que, de alguma forma, a industrialização do babaçu seja exitosa, no tocante ao processo de desenvolvimento da planta não podemos dizer o mesmo. Pior, neste sentido, ainda devemos muita pesquisa ao babaçu.
Se pesquisas tivessem sendo executadas nesse sentido, nesse interregno em que falamos e levantamos tantas questões sobre esta tão significante palmeira, possivelmente, muito conhecimento novo seria criado, creio, em aspectos como, processo de germinação da semente, desenvolvimento de plantas de menor porte, aceleração do processo de frutificação, ou produção comercial de frutos, entre outros aspectos.
Todo esforço da pesquisa científica nesse sentido deve ser, no mínimo, respeitável. O que não pode é manter-se uma postura romântica de adoração à palmeira, sem, contudo, desenvolvermos pesquisa que vise melhoramento da planta. Esta é uma postura que podemos abominar porque já a adotamos, no Estado do Maranhão, em relação ao arroz e ao algodão, e o resultado dispensa comentário. No âmbito nacional, a seringueira também foi vítima do imobilismo científico-governamental. Não logrou a mesma sorte o jaborandi, porque foi objeto da adoção transnacional – o que se deve evitar para os demais frutos desta terra. No caso do babaçu, tanto a iniciativa privada, quanto os órgãos oficiais, apesar dos ganhos aferidos pela palmeira, ainda estão devendo muito investimento em pesquisa para esta fonte de renda e de vida – a palmeira do babaçu.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Meus filhos e o dia dos pais

Sou um homem muito feliz com os filhos que tenho. São quatro: o Paulo é sempre muito alegre e é o que mais conversa comigo. Sempre que estamos juntos grudamos. Às vezes, quando ao encontro deles, dos que moram e estudam em São Luís, penso que não vamos ter tempo de conversar muito, que eles devem estar cheios de compromissos e não terão tempo suficiente para ficarmos juntos. Engano meu, sempre estamos com muita saudade e com muita coisa para conversar. Ainda as coisas que faço lhes interessam e me interesso muito pelo que fazem.
A Juliana é, para mim um mimo de Deus. Fiquei muito ansioso quando da sua chegada a este mundo. Fiz música para ela e tudo mais. Ela tem um olhar sempre atento e muito crítico. Gosto do jeito dela, ela tem o dom de me surpreender.
Luís Fernando tem o dom de ler a minha alma, é de poucas falas, mas, sempre muito incisivo nas suas colocações. Tenho a impressão que ninguém sabe tanto o que eu sinto quanto ele. Se existe alguém capaz de num rápido olhar radiografar a minha alma, é ele – Luís Fernando.
Joana é a minha menininha alegre, falastrona, com cinco anos possui um vocabulário que eu não possuía aos dez. Explicativa quando fala, instigante e inquiridora quando ouve. Dela sempre vem tiradas inusitadas. Alegre, energizadíssima e educada, é dela a alegria que irradia os meus olhos e transborda o meu coração.
Eles, os meus filhos, presenteiam-me tanto durante o ano, que para eles o dia dos pais é apenas mais um dia do ano que eles aproveitam para me dar carinhos. Neste ano, o maior de todos os afagos no meu coração veio da Juh, é assim que eu a chamo. Vejam só como ela afagou-me neste escrito que segue:
Gosto do meu pai ...
Gosto do meu pai como a um irmão. Torço por ele, rio dele e quero-o bem. Gosto dele às vezes deste jeito horizontal, sem quem educou qual ou quem vai cuidar de quem na velhice. Às vezes o adoro como a um filho. Sinto vontade de abraçar meu querido papai e dizê-lo que aaah, Prego, se eu já fosse viva quando você era criança... lhe abraçaria e lhe cobriria de beijos, dizendo-lhe que me orgulho tanto desse menino travesso, e que lhe amo como é, e que bom que você está no mundo. Não sei se a vida dele teria sido melhor, provavelmente não. Mas como gosto dele... como gosto!Às vezes amo-lhe oportunamente como filha. Peço-lhe colo, aconchego. Eu preciso ser bem clara ao pedir carinho a ele, porque meu pai não têm bola de cristal, mas eu quase sempre esqueço. Às vezes ele me acolhe como quero, às vezes me acolhe como pode, às vezes me abandona. Sinto-me órfã, como se ele nunca tivessm existido. Outras, sinto-me a criatura mais acalentada do planeta, como se ele fossem um leão/uma leoa dedicado/a completamente a carinhar e alimentar sua filhote. Amo meu pai como a uma filha; odeio-lhe, amo-lhe, sinto a perenidade do nosso laço. Sou-lhe grata e ao mesmo cúmplice. Admiro-lhe a história e a luta, a bravura, os cabelos brancos. Como um grande pajé: deu-me ensinamentos e ama-me a sua forma. Errara comigo, talvez não mais do que eu errei/erro com ele. Perdôo-o e o amo mais ainda por isso, porque me formou, porque tentou, porque se frustou e se orgulhou, porque me ensinou a andar. Amo meu pai com uma torcida egoísta de que nunquinha morra, e com uma intransigente vontade de que esteja e seja feliz. Amo-o com resignação, compreensão, dor, palavras, ausências, erros, acertos. Aceito-o e o escolho. Amo-o como posso, e de todo o coração. Enquanto humana, enfim, amo-o como a um humano.
A mim só resta agradecer: muito obrigado Juliana Corrêa Linhares pelo amor de filha que você é. Te amo muito e, dirigindo-me a você, quero derramar-me de amor e carinho sobre todos vocês, pedindo sempre, é claro, que Deus, o grande arquiteto do universo, abençoe você, Joana, Luís Fernando e Paulo César.