domingo, 22 de fevereiro de 2015

Carnaval e comunidade

Carnaval é a festa do povo como todos nós sabemos, é festa popular durante a qual as camadas sociais manifestam a sua alegria de várias maneiras, em grupo, ou individualmente, fantasiadas ou não, com trabalho, com arte, com alegria, satisfação, insatisfação bem humorada, entre outros modos de explicitar sentimentos.
Notadamente, a rede globo, quando se manifesta às pessoas do lugar de origem de uma escola de samba chama-as de comunidade e assim oculta a importância das pessoas individualmente no desenvolvimento da escola: trabalho no barracão, cozinha, bateria, coleta de material, mobilização e ensaio das pessoas que compõem as alas, e tantos outros serviços.
Quem faz carnaval e já participou ativamente na construção do carnaval sabe o quanto é valiosa a participação da comunidade, mas sabe também que, dentro dessa, são as lideranças que tomam o leme do barco e as outras pessoas vão pelo respeito, pela animação, pelo amor, pelo sentimento de pertença, por motivos próprios de cada um dos partícipes desta grandiosa festa.
A participação das pessoas do local de origem da escola de samba ou de qualquer agremiação carnavalesca se reflete no desfile, na avenida, na passarela do samba. Quando a Turma do Saco teve como enredo ”A fonte do Ribeirão” o nosso carro alegórico quebrou já na passarela, a comunidade o sustentou do início do desfile até a área de dispersão sob o comando do nosso querido Preto Cunha. Fomos campeões porque os jurados não se deram conta disso. Graças a comunidade!
Todas as vezes que a Turma do Saco ganhou um carnaval durante o tempo que eu era membro ativo do bloco, o fizemos graças a forma como cada uma das famílias abria a porta da sua casa para nos receber. Emprestando ferramentas, fazendo fantasias, fazendo comidas para as rodas de samba, que eram a nossa principal fonte de renda, sem reclamar da zoada da bateria nos dias de ensaios, ou do barulho que fazíamos a madrugada inteira quando os trabalhos na sede do bloco se intensificavam. Cabe registrar que muitas pessoas colaboradoras desse esforço coletivo jamais saíram fantasiadas no bloco, ou mesmo o acompanharam até a avenida, mas faziam tudo por amor, pelo sentimento de pertencer a esse bairro chamado Codozinho, por se sentir parte da agremiação carnavalesca que a representava na avenida. Mas o que nutria o sentimento de participação coletiva dessa gente dedicada, que abdicava forçosamente da novela das oito, sem reclamar do barulho da bateria que ensaiava logo naquele horário? Essas pessoas se bastavam com o modo como a Turma do Saco saía para desfilar na avenida ou passarela do samba. Saíamos alegres, batucando, tocando, todos prontamente vestidos para o desfile atravessávamos todo o bairro da sede até a Praça da Saudade, dali parávamos a bateria e apertávamos o passo para chegarmos no horário certo na concentração.
A saída da sede era triunfal. Alegria, sorrisos, foguetes, apoio total dos moradores, as família reunidas nas calçadas se acotovelavam para ver os filhos, os sobrinhos, os parentes, as meninas bonitas, o conjunto das fantasias, os comentários alvissareiros que exteriorizavam o amor pelo bloco. Era ali que muitas vezes as pessoas decidiam acompanhar o bloco até à passarela do samba e quando a bateria passava à porta de cada um o cordão dos que empurravam a Turma do Saco ia aumentando, formando atrás do bloco o que o nosso glorioso Serrote chamou um dia de “A barreira do som”. Vi a minha própria mãe uma vez deixar-se levar por aquela alegria. Havia passado o dia inteiro com febre, mas quando o Saco saiu sob uma garoa chata, ela não pensou duas vezes, pegou o chapéu de sol e foi-se embora acompanhar a Mocidade Independente Turma do Saco. Nós, os seus filhos ainda quisemos contestar atitude dela, mas dona Joana Palitó foi enfática e categórica, dizendo-nos: eu sou a mãe de vocês, fui eu quem pariu vocês, sou eu quem manda em vocês, vocês não me mandam e pronto!
Preciso falar mais da importância dessa interação agremiação carnavalesca/comunidade? Pois no domingo de carnaval eu cheguei atrasado no bairro do Codozinho para ver a saída do Saco, mas o bloco já havia ido para a passarela do samba. Durante a minha passagem pelo bairro conversei com muitas pessoas e pude constatar o aborrecimento dessas pessoas porque o bloco foi para avenida com os instrumentos na cabeça, sem mostrar o seu samba aquela comunidade. Eu fiquei calado, sem jeito, desconsertado com o desconcerto do Saco. Fica aqui apenas uma pergunta: Por que quebrar essa tradicional alegria de mostrar a comunidade como ficou a arte final da MITS? Meus queridos amigos, não conheço nenhuma agremiação carnavalesca que tenha se preservado ao longo do tempo quando se distancia da comunidade. Suplico aos dirigentes do Saco que no próximo ano coloque o bloco na rua para as pessoas da comunidade verem o resultado final de todo o trabalho realizado. A passarela não pode ser o objeto final da Turma do Saco, mas a comunidade. Essa inversão de valores pode nos afundar, creiam.
Enfim, que deixar claro, que apesar de tudo, eu gostei muito do vi na avenida: a fantasia, o astral dos componentes e a bateria principalmente. Vi alguns percussionista que me impressionaram bastante, de modo especial um que estava na marcação – não o conheço mas o considerei um craque como o Rogério Guayanaz. Parabéns maestro João Henrique (Bazinho).
Gostei da forma firme e serena como o Lucas mandou bem o samba na passarela, parece que temos o nosso jamelãozinho. O Vovô mesmo rouco sobressai-se muito bem. O maestro nonato com o seu sete cordas maravilhoso prescinde de comentários, a volta do cavaquinhista Rakan (ou Rayan?). Gosto muito de ver o Saco sair de forma que honra o nome que tem, o título para mim é o resultado desse casamento Mocidade Independente Turma do Saco/Comunidade. Parabéns à Diretoria, sei que no formato atual colocar o bloco na avenida não é nada fácil apesar do dinheiro farto.
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sábado, 21 de fevereiro de 2015

José de Ribamar Buna Lima (Zequinha de Serrote)

Nesta quarta-feira de cinzas eu perdi duas figuras próximas, um colega de trabalho morto em Santa Inês, barbaramente, executado pela pistolagem por motivo até agora desconhecido e, ao ver o corpo dele no necrotério telefonei para um amigo me passar o telefone de um primo meu que é criminalista, queria saber os procedimentos legais para dar curso ao funeral do meu colega de trabalho, quando o amigo perguntou-me se eu já sabia que o meu primo havia morrido. Respondi que não.
Conheci Zequinha desde criança, era filho da minha tia Eunice e levava o nome do seu pai, o conhecido Serrote. Quando criança sempre passava alguns dias das minhas férias na casa da minha tia Eunice, como os seus filhos também passavam férias lá em Rosário, na casa da minha mãe, que eles chamavam carinhosamente de tia Palitó. Tempos áureos da minha infância e da pré-adolescência.
Quando completei 15 anos fomos, eu e a minha mãe, morar em São Luís, no bairro do Codozinho. Ali vieram juntar-se conosco a minha irmã Vilma que até então morava com uma madrinha e a minha saudosa irmã Ildecira que morava na casa da minha tia Eunice, a mãe de Zequinha.
A turma do Saco foi, naquele bairro o nosso maior lócus de interlocução foi ali que passamos a conhecer algumas das nossas habilidades. Com Zequinha não foi diferente, ali ele teve a oportunidade de mostrar os seus dons de desenhista, a sua habilidade na elaboração de adereços, na decoração de carros alegóricos e da nossa sede, sempre ajudando o Darlan, o Careca, ou mesmo o nosso também saudoso Babá (Sebastião Rosa).
Sempre estava bem humorado, mesmo quando era alvo de brincadeiras, chacotas, aporrinhações tão constantes em bairros como o Codozinho. Era, para mim, sobretudo, um artista plástico que não desenvolveu academicamente as suas habilidades, pois infelizmente o nosso estado e o nosso país ainda desperdiçam muitos talentos.
Zequinha era do tempo em que fazíamos no Codozinho um carnaval comunitário, com a participação de todos; do tempo que os moradores do Codozinho compunham o que o pai dele, o nosso querido Serrote, denominou de a barreira do som – pessoas da comunidade que não usavam fantasia e acompanhavam o bloco e vinham logo atrás da bateria.
Zequinha, meu querido primo, aqui na terra onde viveste e trocaste saberes conosco a tua imagem viverá eternamente, como um rascunho do teu talento, das tuas habilidades, do teu sorriso, do modo brincalhão e às vezes até escrachado. Que Deus ilumine a tua alma e que lá onde estiveres, ao lado Dele, você possa decorar o ambiente para que ele se torne mais acolhedor ainda.
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sábado, 7 de fevereiro de 2015

O samba ganha mais espaço na cultura

Fiquei positivamente surpreso quando soube da escolha de Laurindo Teixeira para a Superintendência da Cultura Viva, da Secretaria de Estado da Cultura. Mais um gol cultural do Governo Flávio Dino, que depois da brilhante escolha da jornalista e folclorista Ester, para ser a titular da Secretaria da Cultura, escolheu um músico, pesquisador, percussionista, exímio conhecedor do samba maranhense.
Laurindo Teixeira, ao lado de Cacá, Josias Filho, Dener, Luís Júnior, Nato, o saudoso Carlão, Juca do Cavaco, Neto Peperi, Vilmar e outros bambas dessa maravilhosa Ilha, fizeram parte de um dos melhores grupos de samba que a Ilha de São Luís já teve – o grupo Sem Dimensão. Percussionista de peso, costuma tocar pandeirão, nas festividades juninas, no batalhão pesado do Boi do Maracanã, do saudoso cantador Humberto.
Em boa hora nos chega a notícia da escolha desse ferrenho militante do PC do B, sambista conhecido e reconhecido na Ilha, para ocupar um merecido lugar na Cultura do Estado. Sorte do governador e da secretária Ester? Imagino que estes ao escolherem o militante, pesquisador, o músico, nem sabiam da representatividade que essa figura comporta como um legítimo representante do samba maranhense. Agora vejo o samba muito bem representado no governo do estado.
Creio que os sambistas da Ilha, músicos, compositores, cantores, que há anos estão na luta, buscando o reconhecimento da arte que fazem, se enchem de esperança. Hoje o samba maranhense tem o respeito dos sambistas de todo o território brasileiro. Reconhecidos cantores e cantoras brasileiros quando se apresentam em nosso estado solicitam o acompanhamento do nosso músico. Agora é provável que, com a presença deste músico no governo do estado, haja a abertura de espaços de samba, que possibilitem ao sambista maranhense mostrar a sua música, a sua arte.
Ao novo Superintendente da Cultura Viva, Laurindo Teixeira, e à Secretária de Estado da Cultura, Ester, desejamos muito sucesso no desempenho das suas funções.
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