domingo, 16 de dezembro de 2012

Coisas do meu tempo



Fico um tanto intrigado quando alguém se refere a mim falando de ”coisas do meu tempo”. Isso é coisa do seu tempo, aquilo é coisa do seu tempo. Jovens gostam desse tipo de comportamento. Às vezes creio que fazem para demarcar o próprio tempo, tipo “o seu tempo já passou, agora o tempo é meu”. Outras vezes, falam somente para avisar que a velhice já chegou, como se assim nos empurrassem para baixo do tapete. Você já está velho.
A velhice é incontestável, embora as pessoas usem de artifícios para adiar o envelhecimento. Cabelos brancos, rugas, flacidez da pele, perda de tônus muscular, diminuição ou perda da libido, entre outros, são sinais de envelhecimento que as pessoas teimam em camuflar, esconder, adiar. Para isso, usam de tratamentos clínicos, cirúrgicos, estéticos, alimentares. São muitos os recursos usados e, a sofisticação dos tratamentos varia conforme a classe social e, consequentemente, o poder aquisitivo.
Envelhecer faz parte da vida das pessoas e vivendo numa sociedade em guerra,  onde morre um elevado número de jovens, diariamente, por causas fúteis, nós ao invés de tratarmos a velhice com sarcasmo, devemos tratá-la com carinho, respeito e certa contemplação.
Mas, que coisa é essa de indicar um tempo para alguém que está vivendo no mesmo tempo que você? É como se tomar ciência e acompanhar a linha do tempo fosse algo que pertencesse apenas a algumas pessoas que vivem em determinada faixa etária. Muitas vezes ouvi pessoas comentando que fulano se entregou à velhice. Isso significa que essa pessoa abdicara dos prazeres da vida de tal forma que seus procedimentos endossam a tese do “já passou o seu tempo”. Sei de casos de casais que se separaram porque um dos dois achou que não tinha mais idade para amar, enquanto o outro não só se achava apto como ficava ávido para tanto. Contudo, se negava a buscar o amor fora do casamento, preferindo desfazê-lo a aderir à traição.
Hoje, as academias estão repletas de pessoas de todas as faixas etárias. Bares, restaurantes, cinemas, teatros, estádios de futebol, praias, clubes e tantos outros lugares de diversão estão repletos de pessoas de todas as idades. Evidente que lugares que se especializaram na prestação de serviços para determinada faixa etária. Isto faz parte do capitalismo. Empreendedores observam, aproveitam as aptidões que têm e dirigem seus produtos e serviços para pessoas de determinadas faixas de idade. No turismo isso fica muito evidente. Empresas que se especializaram no transporte, na recepção, ou na oferta de produtos ou serviços correlatos para jovens, adultos, idosos. Cruzeiros de navios para solteiros, casados, gays e assim por diante.
O mercado parece mais inteligente quando trata dos seus interesses. Não perde tempo discriminando A ou B, antes se dedica à percepção das necessidades, desejos e sonhos e, ora incrementa, ora cria demandas, ou as desperta, trazendo à tona aquilo que as pessoas aspiravam, entretanto sentiam-se inibidas a externar. Quebra tabus, esmaga preconceitos, extingue impossibilidades.
Observadas as limitações próprias dos diversos intervalos de idade, as pessoas estão aptas a fazerem-se mais felizes se divertindo, trabalhando, produzindo, criando, participando de aventuras, melhorando aparência, buscando a elevação da escolaridade, aprendendo outro idioma, ou uma nova profissão, fazendo o que bem entendem.
Parece que definitivamente as pessoas aprenderam que felicidade não tem idade e, perderam também o medo de ser felizes. Mais que isso, decididamente, vão buscar a felicidade em quaisquer formas em que se apresente, em qualquer lugar que esteja. Porque entendem que velho mesmo são as mentes pensam que a idade é impeditiva para se viver a vida. Definitivamente, só há um tempo para ser feliz, o tempo de duração da própria vida. Pois, se a velhice é incontestável, não é impeditiva. Viva a vida!

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