segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Surpresa

Aquele momento feliz em que o inusitado positivo, feliz e, sobretudo, desejado, ocorre. De repente, você está numa rua à procura de um produto qualquer. Foi ao banco pagar uma conta, fazer uma retirada. De repente, aquela batida na sua costa e você vira e reconhece uma pessoa querida, um amigo, uma amiga, um parente, ente amado qualquer que você não via há muito tempo.
O olhar se enche, você nem está acreditando, não sabe se a abraça apertado, ou se contém apenas no aperto de mão. Não sabe se ri ou se chora de alegria, mas ali você sorrir e, involuntariamente, sente os olhos úmidos.
Enfim, o ar lhe enche os pulmões e você já recuperado exclama: - Poxa! Que bom te ver! Por onde você andou? Fale-me de você, conte-me tudo...
Risos involuntários, palavras de carinho, perguntas, ânsia de atualização da conversa. Ah, que bom falar da família, do emprego, da vida amorosa, ou conjugal, da vontade de re-encontrar...
Surpresa! O presente que desejamos desde sempre e nos chega pelo caminho inesperado, naquela hora em que estávamos com o pensamento longe, muito longe, pensando na resolução de um problema, na execução de um plano de mudança de vida, num novo empreendimento, uma nova empreitada, uma mudança qualquer, que instantaneamente nos absorve e como uma poderosa nave, nos transporta às suas próprias entranhas como se fora um planeta, quando tudo não passa de um construto mentalmente criado por nós mesmos.
Você por aqui? De repente um grito abafado na minha garganta ao me sentir revisitado por alguém. Coisa da mente, da poderosa e quase inexplicável mente. Sonhei com você, estava pensando em você, ontem pensei em você. Pensei que nunca mais iríamos nos ver, imagine como fico ao sentir-me revisitado!? Assim, entre a alegria e a interrogação, as pessoas vão se expressando, extraindo de si sentimentos essenciais, essências sentimentais, no afã expressão comunicativa daquele inexplicável momento.
Outras vezes, sequer passamos do “meu Deus!...”, “é você?”, “não acredito!”, ou simplesmente, “Ah!”... Há momentos em que não passamos de um abrir e fechar de boca sem conseguir pronunciar uma palavra. Normal? Perfeitamente normal, somos humanos e estamos sujeitos aos mais variados sentimentos, as mais diversificadas emoções.
Poucos têm a inspiração feliz de um Vinícius de Moraes, para cantar de forma tão bela a inusitada visita de um amor. E, assim tão desenvolto ele foi capaz de externar: “Você voltou/Meu amor/Alegria que me deu/ Quando a porta abriu/Você me olhou/Você sorriu/Ah, você se derreteu/E se atirou/Me envolveu/Me brincou/Conferiu o que era seu”.
Não me canso de admirá-lo pelo feito e, sempre que posso, faço da poesia de Vinícius de Moraes a expressão desses momentos inesperados, quando nos vemos revisitados por alguém, cuja presença nos seca a língua, a garganta sufoca e a voz prende-se às cordas do coração.








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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Entre o vestibular e o cursinho de Zeca Pilu


Era uma época de efervescência cultural. No Codozinho havia muitos jovens em idade de entrar para a universidade. Opções não faltavam: Engenharia Civil, Agronomia, Direito, Medicina, Pedagogia, Odontologia, Serviço Social, Letras, Matemática constituíam desejos de um conjunto de estudantes pobres, ou de classe média baixa, que moravam no Codozinho. Era um movimento de jovens estudando aqui e ali. Num vai e vem. Ouvia-se só os comentários: hoje vamos estudar na casa de Fulano, amanhã vamos estudar na casa de Beltrano.
Esta foi uma época marcada por um curso pré-vestibular que o José Henrique Franco de Sá (nosso querido Zeca Pilu, ou Zé Cabeça) fundou. O cursinho funcionava no andar de cima da casa de Walterloo, o pai do Zeca Pilu.
Foi nessa época que conheci uma moça magrinha de sobrancelhas bem marcadas, cabelos negros e lisos, sorriso farto, meiga. No bairro, toda vez que chega uma figura diferente, logo se pergunta: - quem é esta/e? Hum, essa é Jane Mary, mora lá em cima próximo da Praça da Saudade. Está estudando aí, com as meninas, para fazer o vestibular.
Nunca uma moça bonita fica sem os olhares da rapaziada. Todo mundo olha, mas faz que não vê, que é pra não demonstrar que está a fim. Na época o César de Bibi (como costumávamos chamar o César Viégas Guimarães) estava namorando como uma moça muito bonita, meiga e inteligente (Viviane, se não me engano), que morava na Rua do Passeio, mas estudava lá no Codozinho com algumas amigas de lá.
Com a vinda de um grupo de moças bonitas e estudantes do Colégio Rosa Castro, Jane Mary, que já as conhecia, ficou muito mais à vontade na Turma do Saco e no Codozinho. Depois, o César de Bibi abdicou do namoro com a moça da Rua do Passeio e já apareceu no bairro com a tal moça magrinha, de sobrancelha bem marcada. Aí começava um grande amor que desencadearia em casamento.
A Jane Mary se integrou de tal forma ao Codozinho e à Turma do Saco que parecia que já convivia conosco de longas datas. Vendia rifas, participava dos bingos, ajudava em tudo que podia. É uma sacolense de alta casta, de excelente cepa.
Logo Jane Mary foi aprovada no vestibular para o Curso de Ciências Contábeis e o bairro, como era o costume, comemorou muito.
Querida Jane, juro, não esqueci da sua altiva e intensa participação na Turma do Saco, mas, creia, é difícil falar de cada um dos nossos amigos, de per si. Um grande abraço!

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