sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O jogo e a resenha[1]



A minha simpatia pelo Sampaio Corrêa Futebol Clube vem da minha família. Lembro-me, quando ainda criança, em Rosário, da minha mãe lavando roupas no banco de lavar, no quintal da nossa casa, junto ao tanque de cimento distribuído pela Fundação Sesp. Às vezes cantando sambas cantados na Madre Deus da sua época, às vezes contando histórias daquela gente alegre, divertida que desde sempre habita aquele maravilhoso bairro da ilha de São Luís. Foi num desses momentos que ela me falou que o meu tio Raimundo Reis (Cacaraí) foi jogador do Sampaio Corrêa e o meu tio e padrinho Joaquim Paz de Linhares – o Careca, compositor e fundador da Turma do Quinto, jogou no Tupã. Acredito que, como o Tupã era menos midiático do que o Sampaio Corrêa e, ainda, porque a minha mãe demonstrava sua paixão pelo Sampaio, eu preferi torcer por este clube de futebol.
Como toda criança brasileira, pobre, negra, eu desde sempre adoro o futebol. Em Rosário, terra onde eu nasci, torcia pelo Esporte Clube Comercial e, em São Luís, pelo Sampaio Corrêa. Mas sempre gostei mais de jogar bola do que ir ao estádio torcer. Fui várias vezes ao estádio Nhozinho Santos e mesmo ao Castelão para ver a seleção de Rosário, ou times de lá disputando o torneio intermunicipal – eu até hoje adoro ver o futebol rosariense. Rosário é terra de muitos craques. As vezes que fui ao Rio de Janeiro, nunca desejei conhecer o Maracanã, nem outros estádios de outras cidades brasileiras que eu conheci ao longo da minha vida profissional.
Foi a partir de 1997, após a minha viuvez, que eu descobrir o estádio de futebol como alternativa para diversão. O Sampaio estava na série D, com possibilidades de passar para a série C do futebol brasileiro, então, eu comecei a ir assistir aos jogos do Sampaio. Levava os meus filhos, o filho de um vizinho, íamos com o meu compadre Laurindo, boliviano ranzinza, que até hoje é o meu companheiro de torcida. Mas, foi em tempos mais recentes que eu observei que o jogo de futebol que se assiste inicia bem antes de entrarmos no estádio, começa logo depois que você deixa o estacionamento e escala a escada de acesso ao Castelão.
É ali, bem ali, depois que se sobe a escada e respira-se profundamente, levanta-se a cabeça e vemos diante dos nossos olhos uma porção de vendedores ambulantes, ao abrigo de árvores, com caixas de isopor cheias de bebidas e churrasqueiras exalando o cheiro dos churrasquinhos ou espetinhos, como preferem alguns torcedores. São dezenas de vendedores ao redor de todo o estádio, preferencialmente, nas entradas de cada setor. Particularmente, gosto de ficar diante do acesso ao setor 4. Ali começa a resenha, ali a resenha é mais intensa, alegre, divertida, fanática, entendida, sábia, eufórica, discreta, indiscreta, e tudo mais que o torcedor possa exteriorizar como sentimento, ou paixão que o futebol inspira.
Naquele calor das 15:00 horas em São Luís, 32° ou mais à sombra, poucos são os que resistem a uma cervejinha gelada.
É maravilhoso ver uma multidão de maranhenses trabalhando informalmente para divertir milhares de torcedores animados, dispostos a consumir água mineral, espetinho, refrigerante, vinho suave, bandeira, camisa e souvenir do clube do coração, pasteis, coxinhas, ingressos de cambistas e tudo mais que o comércio informal apresenta.
Nessa multidão não faltam torcedores fantasiados com o propósito de chamar a atenção dos demais. Naqueles instantes que antecedem o início da partida, ao redor do estádio, tudo é diversão, vaias, brigas de cachorros, palpites, escalação do time, o desfile de camisas do clube (cada uma mais bonita que a outra), a gatinha malhada de academia vestindo um vestido do Sampaio Corrêa coladinho ao corpo, gritos inesperados de torcedor que só deseja chamar atenção, um torcedor que inesperadamente cai da cadeira. Tudo ocorre enquanto se toma uma gelada para irrigar o papo que só tem pausa na hora em que se decide entrar no estádio.
Nada é mais interessante que o movimento em torno do estádio Castelão, nos momentos que antecedem o jogo, onde aquela mistura de sentimentos se exterioriza na diversidade humana e na forma própria do povo brasileiro. Fico pensando, como povo brasileiro deve sofrer quando está longe daqui... Não sei se existe no mundo um povo com a capacidade de expressar-se de tantas formas como o povo brasileiro.
A resenha que antecede o jogo do Sampaio Corrêa Futebol Clube no Castelão é um desses momentos que entra nas nossas mentes para nunca mais ser esquecido e, ainda, que só depois de escrever tudo isso, vejo o quanto fiz tão pouco para descrevê-la.


[1] Escrito em Santa Inês/MA, no dia 24 de agosto de 2015.
 

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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Sampaio Corrêa Futebol Clube – “Yes, we can”[1]



Com a ascensão do Sampaio Corrêa Futebol Clube à série B do futebol brasileiro e, ainda, depois da boa campanha feita em 2014, o futebol maranhense elevou a sua autoestima e tacitamente vive uma espécie de “Yes, we can”.
“Sim, nós podemos” – é isto que fala cada torcedor maranhense que no dia a dia exibe as camisas do Sampaio Corrêa Futebol Clube em todas as cidades do estado, no Brasil e no exterior. Aliás, é bom lembrar que jamais um clube de futebol maranhense vendeu tantas camisas, quanto o Sampaio Corrêa vende hoje.
Lembram que todo maranhense tinha um clube do coração além do Sampaio Corrêa, Moto Club, Maranhão Atlético Clube, ou outro clube qualquer do estado? A coisa mudou, hoje muitos dos bolivianos que torciam por times do Rio de Janeiro, São Paulo, ou de outro estado brasileiro, agora torcem apenas pelo Sampaio Corrêa Futebol Clube. Só por provocação eu  perguntei para alguns bolivianos que antes torciam pelo Flamengo, Fluminense, Botafogo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, ou outros clubes, por que razão agora eles/as só torcem pelo Sampaio. Muitos me responderam com outra pergunta: - “pergunte aos cariocas, paulistas, ou aos brasileiros de outros estados, para qual clube maranhense eles torcem?”, e completaram, “faça isso e você será motivo de chacota”.
O estádio não tem lotado completamente, mas, hoje a média de torcedores no estádio Castelão é de aproximadamente 15 mil torcedores por jogo. A presença dos torcedores nos jogos de mando do Sampaio é tão significativa que não raras vezes quando o serviço de alto-falantes anuncia a renda e o número de pagantes a torcida vaia, porque o que se vê no estádio diverge muito do que se fala nos meios de comunicação e no serviço de alto-falantes do Castelão.
Uma rede de lojas esportivas anunciou que para cada camisa vendida do clube de futebol de maior torcida do Brasil ela vende três camisas do Sampaio Corrêa Futebol Clube. Veja que essa é a estatística apenas dessa rede de lojas. Não temos estatísticas das lojas do clube, que quase  sempre estão sem estoque suficiente para atender o torcedor, além de venderem camisas mais caras que a rede de lojas esportivas aludida (Lojas do clube – R$ 165,00, rede de lojas esportivas – R$ 146,00).
São mais de 1600 sócios torcedores, que quase sem qualquer benefício além da entrada gratuita pagam mensalmente prestações que variam entre R$ 15,00 e R$ 90,00, esperançosos de verem o Paio, como chamam carinhosamente, subir para a primeira categoria do futebol brasileiro. Ainda é muito pouco, mas os serviços de marketing do clube ainda são incipientes. Há muita coisa a fazer para atrair mais sócios torcedores. Temos que aprender com clubes como São Paulo, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Grêmio, Internacional, Barcelona. Temos que chamar o torcedor para dentro do clube, de modo que se desperte nele um forte sentimento  de pertencimento.
Outro fato que não podemos deixar de ressaltar é que hoje o torcedor isolado – o homem que ia só ao estádio – tende a ser substituído pela família torcedora. Agora a família toda vai ao estádio vestida com a camisa do Sampaio Corrêa, até porque, graças a Deus, aqui no Maranhão temos segurança e não temos problema de violência.
 Do mesmo modo que os torcedores do Atlético Mineiro explodiu o grito de “Sim, eu acredito”, na campanha passada do clube, os torcedores do Sampaio Corrêa têm um grito preso na garganta de “Sim, nós podemos”, porque todos nós acreditamos na possibilidade do Sampaio Corrêa fazer essa passagem e, tenho a certeza que num futuro muito próximo o Castelão explodirá com uma palavra de ordem que demonstre o crédito que o torcedor boliviano dá ao clube do seu coração, uma vez que acreditamos que o sonho se realizará, porque, de fato, nós podemos – “Yes, we can” – sim, nós podemos passar para a série A do futebol brasileiro.


[1] Escrito em Santa Inês, no dia 24 de agosto de 2015.