sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Rio de Janeiro, violência, ficção e realidade

Lembro-me quando, no início desta década, foi lançado o filme Cidade de Deus. Na época eu trabalhava na Fundação Cultural Palmares, em Brasília, e, certo dia, estava reunido com alguns colegas de trabalho e alguém comentou que não gostou de ver a imagem do negro ligada àquela criminalidade cruel. Naquele momento, comentei que o aspecto que mais chamou a minha atenção foi o desprezo com que o poder público tratara àquela comunidade e a forma como, em virtude da ausência do estado, as lideranças da comunidade se formavam.

À medida era o crime, a frieza de praticá-lo com requintados atos de crueldade, e com tal frequência a ponto de banalizá-lo, materializando o seu clímax com a naturalização do homicídio e o comércio organizado das drogas.

O filme, na verdade, não é uma ficção, mas uma fotografia da realidade que se passara ali naquela comunidade num determinado momento da sua história. E por mais que o autor quisesse lhe dar termos de ficção, a realidade vivenciada nas favelas e morros do Rio de Janeiro cuidava de neutralizar esforços nesse sentido dirigidos.

Pelo contrário, Cidade de Deus, o filme, se configura agora como um estado elementar, quase caricatura romântica diante da realidade brutal desenhada hoje nas favelas, nos morros, do Estado do Rio de Janeiro.

Tamanho foi o desprezo, o descuido, a indiferença dos entes governamentais para com aquelas comunidades que o próprio descaso se encarregou de forjar ali as lideranças junto ao tráfico de drogas para cuidar daquela gente.

Gente que jamais fez parte do planejamento urbano daquela metrópole; gente cujos direitos foram, no mínimo, esquecidos pelas autoridades oficiais. Gente citadina sem lugar no plano diretor da cidade que escolhera para morar e trabalhar, para dizer que a ela pertence e, com o orgulho que o carioca tem de ali ter nascido. Gente, sobretudo rechaçada pela visão embaçada dos governantes de todas as esferas de poder que o estado democrático comporta.

Lá estão as favelas, os morros, um amontoado de barracos, construídos dos mais variados materiais que vão desde o papelão, passando pela tábua aproveitada de caixotes até a alvenaria. Lugares de arruamentos precários e tortuosos, sem traçados de ruas que ensejem qualquer tipo de planejamento, sem praças, sem cinemas, sem teatro, sem postos médicos, sem postos policiais, sem órgãos de assistência social, sem praças esportivas, sem parques com áreas verdes, sem centros de capacitação profissional e com todas as carências de direitos inalienáveis que todas as pessoas necessitam ter satisfeitos.

Até hoje qualquer assunto que se refira à favela é tratado pelas autoridades constituídas como caso de polícia.

Relegada à indiferença do poder público e da sociedade envolvente, das comunidades faveladas surgiu um poder paralelo cuja base financeira não se forjara de impostos e taxas cobradas dos moradores, mas da venda de drogas e de outras ilicitudes componentes da economia da contravenção, que encontrou nas comunidades carentes do Rio o seu mais prolífico habitat.

Como em qualquer parte do mundo, não há poder que se sustente sem o seu braço armado. Nos morros e favelas do Rio de Janeiro o poder emerso do comércio das drogas não se esqueceu das armas. E, para isso, foi buscar aliados no seio corrupto das forças armadas e em outros países. Por meio de contrabando ou simplesmente, através da compra a domicílio. Aliou-se ainda a guerrilheiros, e plantadores de coca. Com os primeiros buscou o abastecimento de armas, com os outros se colocou como interface comercial com a incubência de ser o elo que liga o produtor ao consumidor, completando, deste modo a cadeia produtiva das drogas.

Hoje, esse poder paralelo que se estabeleceu nessas comunidades cresceu tanto e, de tal forma, organizado, que o governo não pode mais se dar o luxo de ignorá-lo, como fez (ou faz?) com a maioria das pessoas que lá residem de forma pacífica e ordeira. E para infelicidade geral dos moradores dos morros e favelas, os lugares onde moram, agora viraram campos de batalha cotidianamente travadas ora entre o crime organizado entre si – facções criminosas disputando espaços de domínio comercial, ora essas facções se confrontam com a polícia.

Tudo que decorre desses confrontos só nos inclina a lamentações. Lamentamos por aqueles que morrem por serem atingidos por balas perdidas; lamentamos pelos trabalhadores que ficam impedidos de trabalhar por já não poderem exercer o direito de ir e vir. Lamentamos pelas crianças que perdem aulas quando precisam tanto de educação; lamentamos pelos policiais que são mortos nesses embates e deixam precocemente os seus familiares; lamentamos pela morte de jovens pobres e pretos que uma vez abatidos pela polícia são identificados apenas como bandidos, não por serem bandidos, mas por serem pobres e pretos. Lamentamos pelos turistas que vão ao Rio para desfrutar das suas lindas paisagens, das suas belezas naturais e se veem, de uma hora pra outra impedidos de visitar lugares maravilhosos. Lamentamos pela imagem que se forma do Brasil no exterior.

Entretanto, apesar de todo esse lamento, jamais podemos esquecer que toda essa violência é fruto de anos de indiferença dos poderes constituídos em relação a essas comunidades. Portanto, de nada adiantará lamentarmos por tantos danos sociais se as nossas autoridades não aprenderem que os direitos inalienáveis da pessoa humana não devem ser esquecidos em detrimento de grupos sociais desfavorecidos, enquanto as camadas sociais mais prósperas se comprazem na esbórnia da corrupção do dinheiro público.

Também não devemos esquecer que o combate ao crime organizado é coisa séria e por isso deve ser constante, sem tréguas... e o combate à pobreza e a todo tipo de privação que as camadas pobres passam, não podem ser objeto de um trabalho demagógico e pontual, de um momento olímpico.
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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Desenvolvimento para quem?

Data de muito longe o debate sobre a necessidade de desenvolvimento e a forma como este é posto em prática em cada país.

Desenvolvimento no Brasil tornou-se sinônimo de grandes obras, construções faraônicas, caras, ambientalmente impactantes e, pasmem, mesmo assim ditas modernas.

Na agricultura, por exemplo, o solo pode ser adubado com eficiência, usando-se esterco de animais (boi, galinha, porco, e outros), ou com o uso eficientíssimo da chamada adubação verde, mas, infelizmente, há quem acredite, para o bem das fábricas de adubos químicos, que estes têm mais eficiência que aqueles. Tudo vaidade, tudo propaganda, tudo engodo... E aí...tome adubo químico, tome poluição de lençóis freáticos, tome poluição de corpos d’águas superficiais diversos, tome envenenamento de trabalhadores rurais, tome destruição da fauna e da flora nativos.

A indústria nacional reclama da falta de energia, da necessidade de energia de baixo custo, da carência de aumento do potencial energético do país. Aí vem a construção de usinas hidrelétricas (UHE) por toda parte. Apesar dos erros cometidos no passado com Balbina, Tucuruí e outras UHE; apesar dos apelos e protestos da sociedade civil organizada, apesar dos estudos feitos por cientistas renomados, o Brasil continua na rota do crescimento pelo crescimento.

Desde o início da década de 1990 o conceito de desenvolvimento se des-envolveu do monômio crescimento, aditando-se a ele os conceitos de justiça social, equidade e sustentabilidade. No entanto, no que pese o discurso oficial no sentido da afirmação do novo conceito, a prática, quando da execução dos grandes projetos nacionais, é lamentável e inobservante.

São gigantescas obras construídas em pobres municípios, causando impactos ambientais, sociais, econômicos e culturais diversos, entretanto, nenhuma ação é projetada para amenizar esses impactos.

Sempre que um grande projeto se instala em um município qualquer, atrai um grande número de migrantes que saem das suas cidades em busca de trabalho. Esse fato é comum e qualquer tecnocrata envolto com esse tipo de empreendimento é cônscio disto. Sabe-se também que a chegada desse contingente em cidades pequenas, exige aumento da capacidade dos equipamentos sociais imprescindíveis, como hospitais e postos de saúde, escolas, segurança pública, saneamento básico, vias de acesso, e outros.

Grandes projetos chegam sob o manto quimérico do desenvolvimento, trazendo consigo problemas sociais imensos, queimando no discurso desenvolvimentista todas as mentes capazes de prever os seus intrínsecos males.

O aumento demográfico dá-se como um tsunami, de uma hora para outra, sem que a cidade tenha qualquer chance de se defender. Dá-se então, a abrupta elevação dos aluguéis, o aumento de casos de violência, homicídios, furtos, acidentes de diversas naturezas, aumento brusco da prostituição, além de outros efeitos...

Qual a contrapartida que esses projetos levam para os municípios no interregno de sua instalação? Nenhuma. As ruas ficam esburacadas em decorrência do aumento do tráfego e da falta crônica de manutenção, os hospitais ficam incapazes para atender ao aumento da demanda decorrente do aumento da população, a segurança vê-se desaparelhada e incapaz se inibir o aumento repentino dos casos de violência urbana, os espaços locais de entretenimento viram palcos de brigas, intranquilidade. A população habituada a tranquilidade, após a chegada do dito, ou melhor, maldito desenvolvimento, fica em pânico. As pessoas da terra não querem mais sair de casa para os habituais lugares de diversão porque sabem que, de repente, ali vão surgir brigas violentas.

O município de Estreito no Estado do Maranhão é um exemplo vivo dessa situação. Alcântara, também no Maranhão, é outro exemplo pulsante deste tipo de desenvolvimento.

Cabe então perguntar: a quem serve esse tipo de desenvolvimento? O desenvolvimento que se materializa com a construção dos chamados grandes projetos nacionais são monstros gerados por mentalidades desenvolvimentistas em nome de povo brasileiro, mas, na verdade, para o povo trazem mais malefícios do que benefícios.

O desenvolvimento posto em prática quando da construção dos chamados grandes projetos nacionais é verdadeiramente antípoda a sustentabilidade, porque ao invés de fomentar a equidade social, fomenta o aumento das desigualdades; ao invés de promover a justiça social, fecha os olhos do estado para as injustiças provocadas pela falta de aparelhamento dos órgãos de segurança e um poder judiciário moroso no atendimento aos anseios da população; ao invés de promover a segurança aos grupos sociais que imemorial ou historicamente trabalham e habitam terras desejadas para a edificação dos tais projetos, tratam do deslocamento compulsório dessas populações sem sequer pensar em recompensá-los decente e dignamente. Ora, se promove tanto dano às populações tradicionais e aos segmentos urbanos ou rurais de baixa ou baixíssima renda, prescinde, indubitavelmente, de qualquer compromisso com as futuras gerações.

No tocante ao meio ambiente, as ações do desenvolvimento em questão, provocam danos irreparáveis: afogam nichos ecológicos inteiros, desviam cursos de rios milenares, matam inúmeros animais e destroem vidas existentes na biodiversidade que não raras vezes sequer chegaram ao conhecimento da ciência. Isso tudo é realizado sob os auspícios do governo e, ironicamente, sob a bandeira da defesa da ecologia.

Diante de tanta irresponsabilidade, nos resta perguntar, a quem interessa esse tipo de desenvolvimento tão danoso a nossa e às futuras gerações?
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Particular ou pública? Qual universidade escolher para os filhos?

Bem, agora que os filhos acabaram de concluir o ensino médio, chegou a hora de ajudá-los a escolher uma faculdade para que façam aquele sonhado curso que nem sempre têm a certeza definitiva que querem.

Estou falando apenas de ajudar o filho a escolher aquilo que ele deseja, não estou ensejando uma interferência na vontade dele. Nessa hora, surgem as dúvidas: para qual universidade deverei mandar o meu filho? Para a universidade pública ou para a universidade particular?

Como esta é uma conversa que envolve diversos aspectos e pontos de vista, vamos aqui nos referir a alguns deles. A escolha da alternativa certa nos remete à análise de algumas variáveis: o seu filho é um aluno estudioso, tem força de vontade para enfrentar as horas de estudos que a concorrência por uma vaga nas melhores universidades exige? Ele/a já escolheu o curso e a universidade que ele deseja estudar? O curso e a universidade escolhidos têm um bom conceito? O seu filho tem um perfil e aptidão compatíveis com o curso? Se o curso escolhido é de universidade particular, o preço da mensalidade cabe no seu bolso? O curso escolhido é oferecido na universidade pública, com a mesma qualidade da universidade particular? O curso que o seu filho escolheu e tem aptidão coincide com o que você desejaria que ele fizesse? Você é daqueles pais que incentivam o filho a estudar e enfrentar a concorrência, ou é dos que acham que ficar reprovado no vestibular é perder tempo, por isso prefere que seu filho vá direto para uma universidade particular na qual você tem certeza que ele passará, mesmo que esteja mal preparado?

Estas são algumas perguntas que se deve fazer, caso se deseje tomar uma decisão certa, coerente com os princípios que ensejam uma boa educação e uma relação de amizade e respeito entre pais e filhos.

É comum os estudantes profissionais, devidamente antenados com esta particularidade, em decorrência do envolvimento com o momento em que estão concluindo o ensino médio, pesquisarem sobre a importância dos cursos, das universidades, e escolherem o curso que mais se aproxima do seu perfil. Neste caso, ainda que o trabalho dos pais se resuma a dar apoio à ideia do filho, nada impede que se estabeleça um diálogo a respeito da escolha no sentido de verificar a convicção do filho.

Está cada dia mais comum o estilo de pais tô nem aí, ou seja, aqueles pais que colocam os filhos na escola e atribuem a responsabilidade pelo desenvolvimento deles somente aos professores e aos próprios filhos. A filosofia desses pais é: se passar, bem; se não passar eu meto a mão no bolso e pago uma universidade particular.

Há também o estilo Maria vai com as outras. Este tem como filosofia o seguinte: - ah, o filho do meu vizinho fez a universidade particular se formou e o pai já o colocou em tal instituição, por isso eu não vou deixar que o meu filho perca tempo fazendo vestibular na federal.

O estilo poderoso chefão não admite nem discutir o assunto e, ao tratar do tema é taxativo: - já comprei um apartamento na capital e, logo que meu filho termine o ensino médio eu o mandarei pra lá e o matriculo numa universidade particular. Não tem nem conversa, enquanto eu puder, ele não vai perder tempo fazendo vestibular todo ano, afinal, tempo é dinheiro.

O estilo ortodoxo extremista filosofa como se fora o dono da verdade. Fala como se fosse profundo conhecedor de universidades que ele nunca freqüentou, ou pior, quando a freqüentou, se faz de demente e fala como se não a conhecesse. Por isso, nesse último caso, pode também ser chamado de quem te viu quem te vê, porque é sempre categórico ao afirmar: não vou deixar meu filho perder tempo na universidade pública, porque nelas só se sabe quando se entra não se sabe quando sai, porque todo ano tem greve.

O estilo o que que eu sou, se caracteriza pela confusão que o acompanha quando se mete a tratar desse assunto: estou guardando as minhas joias, já fiz uma poupança, estou me preparando para me desfazer da minha casa e morar numa menor, quando o meu filho terminar o ensino médio. Vou vender tudo pra pagar a faculdade dele. Ele fará o curso de medicina na universidade particular. Isto tudo sem ter sequer conversado com o filho sobre o assunto.

Nesse meio também há o estilo Içami Tiba, que é o pai que ama e educa. Por isso está sempre ao lado do seu filho, acompanha-o mesmo quando está distante. Mostra que a sociedade tem regras a serem respeitadas, que tudo que se faz ou se deseja conquistar nesta vida tem um preço. Que toda ação individual deve obedecer limites, que o nosso direito finda onde se inicia o direito do outro. Que a concorrência faz parte da nossa vida desde os primórdios da sociedade. Deixa sempre claro que a relação pais/filhos deve ser de muito diálogo, mas, sem que os pais percam a prerrogativa de pais. A eles cabe a decisão em determinadas horas e durante o interregno em que os filhos estão sob a sua responsabilidade. Apesar disto, mesmo quando ainda sob o domínio dos pais os filhos devem assumir responsabilidades por seus atos e, conforme o efeito do que fizerem serão incentivados, advertidos, punidos, reprovados, aconselhados ou desaconselhados pelos pais.

Neste contexto, pai não tem vergonha de ser pai e filho não tem vergonha de ser filho. Ser filho, sentir-se filho é sobretudo, sentir-se amado, apoiado, querido por seus pais. Nada tem a ver com o pejorativo pagar mico.

Neste contexto, o vestibular é uma porta de entrada para uma nova vida. Uma porta concorridíssima, cuja passagem obedece a critérios, condições postas àqueles que desejam chegar do outro lado da porta – a vida profissional. Só que para chegar do outro lado é necessário que os postulantes à entrada estejam preparados para tanto – está dada a condição. Ao contrário de tantas outras, nesta porta terão prioridade aqueles que tiverem maior bagagem. O acúmulo dessa bagagem não se faz diante da universidade horas antes do enfrentamento da prova; resulta de uma construção longeva que segue o curso de três anos de educação infantil, quatro anos do ensino fundamental menor, mais quatro anos do ensino fundamental maior, e três anos de ensino médio. Esse espaço temporal inclui o papel dos pais de educar e disciplinar os filhos para que estes dediquem parte do seu tempo ao estudo caseiro, preparando lições complementares à escola. Para incentivá-los a leitura, buscando nos livros caminhos até então desconhecidos, que lhes abrirão portas e janelas de conhecimentos que os levarão a abrir outras portas e janelas, inclusive a do vestibular, numa sucessão determinada pelo limite da existência de cada um.

Neste meio está a prática esportiva e competitiva que os ensina os caminhos da vitória e da derrota. Estão também os cursos de língua estrangeira, o despertar do interesse pela cultura: música, pintura, cinema, teatro, poesia, contos, política, economia e outras manifestações culturais.

Seguindo esse curso da vivência educacional, são imprescindíveis a assimilação de princípios éticos, morais, balizadores do comportamento individual e coletivo, Princípios religiosos, de comportamento familiar, de ética e de etiqueta. Da relação com o doméstico, o caseiro, com o externo, com o desconhecido, com as situações conhecidas e com as adversas, inusitadas. Dos princípios formadores/norteadores do caráter intrínseco a cada um. Daquilo nos prepara não apenas para o vestibular, mas para a vida. Aqui se trata de um processo dinâmico no qual pais e filhos são aprendizes e mestres, sempre juntos, coesos, livres e, o mais importante, cônscios do seus papeis. Na relação de estímulo, incentivo, de aprendizado e ensinamento, não faltará respeito, simplesmente porque filhos e pais sabem o que cabe a cada um.

Nesta relação interativa, veja, não tem importância se a faculdade que se vai cursar é pública ou particular. Aliás, isto nem entra em questão, o que interessa é sobretudo a preparação dos filhos. Não está em jogo se os pais têm bom patrimônio ou se são trabalhadores assalariados, o que está em foco é o melhor para o seu filho, cuja escolha a ele cabe. Não se escolhe a faculdade particular por ser de fácil acesso, mas a por ser de boa qualidade. Não se pretere a particular pela pública para simplesmente economizar, mas por que esta apresenta mais qualidade do que aquela. Nesta relação não há espaço para a ostentação, não está em jogo se um é pobre ou se outro é rico, o que se pretende é dar o melhor para o filho. Habilitar mais e melhor os filhos para o mercado de trabalho, para vida. Aqui os pais afogam suas ansiedades para permitir que seus filhos caminhem com suas próprias pernas e aprendam no caminhar coisas que os pais os impedem quando pensando em protegê-los, sobrepõem as suas vontades às deles. E se estamos pensando no melhor, não devemos esquecer que o papel da universidade é produzir conhecimento, interagir com a sociedade, para que os conhecimentos engendrados a partir de pesquisas ali promovidas possam, ulteriormente, servir à comunidade de alguma forma. Universidade não é Shopping Center. Logo, seus cursos não devem ser escolhidos por modismo.

Pais e filhos devem, sobretudo, visar o ensino de qualidade, sem medo, porém do exercício de cidadania que o curso dessa caminha poderá exigir. Essa qualidade deve ser buscada sempre, seja na universidade privada, seja na universidade pública e, sempre que houver negligência de qualquer das partes, o protesto, as reivindicações, as greves serão expressões democráticas próprias deste contexto.