quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A dádiva pessoal e o descompromisso coletivo


Eu estava atendendo a uma cliente e na minha mesa havia um santinho de um colega de serviço que está candidato a vereador em Santa Inês. A moça olhou e perguntou se era o meu candidato. Eu disse que era um colega de serviço e que se tratava de uma pessoa íntegra e bem intencionada, contudo eu não ia votar nele, pois, eu voto em outra cidade. Então veio a pergunta: - Esse candidato aí é bom de dinheiro? Respondi que não sabia, pois não tenho qualquer relação de troca com ele. Somos colegas de serviço e nossa relação não é mercantil. Depois não pude sufocar a vontade de sorrir, tive mesmo uma crise de riso.
As pessoas em volta, também começaram a sorrir, mesmo sem saber por que, mas apenas porque eu sorria – era o chamado efeito dominó.
Naquela conversa estava fortemente colocada uma prática coletiva da relação políticos-candidatos/eleitores de baixa renda, no Maranhão e no Brasil, o tal “toma lá, dá cá”.
Hoje, candidatos a prefeituras e câmaras de vereadores acreditam menos na mobilização do povo por meio de um plano de ações e mais pela compra do voto.
Morei em outro estado, numa cidade onde havia um político, muito querido ali, que dizia que enquanto naquela cidade tivesse cachaça e gente sem vergonha ele não perdia eleição.
Recentemente, um amigo que é candidato numa cidade maranhense e já foi eleito cinco vezes, me confidenciava: “Desta vez, não faço cartazes, santinhos, outdoor, ou qualquer tipo de propaganda, vou apenas visitar as pessoas, as famílias e me prover de grana para os dias próximos da votação”. Disse-me, ainda, do quanto precisava para ganhar a eleição. Falou sobre o preço dos votos e como era abordado pelos eleitores às vésperas e no dia da eleição.
O que subjaz a essa prática de compra e venda de votos? É um descompromisso total com a política propriamente dita, com a polis, com a coisa pública. Uma vez mercantilizada a vontade popular, o sufrágio, o candidato logo que eleito sente-se sem qualquer obrigação diante do eleitorado. O compromisso coletivo com a saúde, a segurança, o saneamento básico, a moradia, a cultura, o meio ambiente, a educação e tantos outros, fica, a propósito, negligenciado, deixado em segundo plano, pois, os eleitos passam a ter como foco principal os seus próprios interesses.
Nos dias hodiernos, está cada vez mais em uso a candidatura hipotecada. O que significa isso? O candidato populista que ludibria o povo e vê-se diante da possibilidade de ser eleito prefeito, entretanto não possui dinheiro para bancar a campanha. Esse sujeito, de posse de resultados de pesquisas e outras evidências que apontam para a possibilidade da sua eleição, procura capitalistas que o bancam, emprestando-lhe dinheiro a juros exorbitantes que deverão ser pagos logo que ele for eleito. Quando eleito, com o mandato hipotecado, o prefeito fica totalmente impossibilitado de administrar o município, uma vez que toda a verba que recebe é, ora desviada para pagamento da dívida de campanha, ora desviada para suprir vaidades que emanam dos seus interesses particulares. Essa prática nefasta é a causa que agudiza a miséria, a precariedade das cidades e de municípios inteiros. Adite-se a isso o enriquecimento ilícito.
A ignorância que mercantiliza o voto é alienada e alienante a ponto de não ter qualquer capacidade de se mobilizar contra as irregularidades políticas que afetam a vida pública, a cidade. Disto, dentre outras coisas mais, resulta a imobilidade reivindicatória que se prostra diante de uma realidade nauseante em que toda uma elite eleita para representar o povo encontra-se em pleno julgamento, com toneladas de provas indicativas de roubo do dinheiro público e até o presente momento ninguém foi levado à prisão.
Nosso país precisa de um choque de moralidade, mas isto jamais acontecerá se as pessoas decentes não se manifestarem, não se indignarem contra esses atos de mau alvitre que são cometidos por pessoas inidôneas que se locupletam de cargos públicos para o exercício de falcatruas prejudiciais ao povo. É necessário combatermos a comercialização voto popular que incentiva a dádiva particular em detrimento do compromisso coletivo.

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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Santa Inês: a política e a sociedade organizada


Foi dada a largada. Os partidos fizeram as suas convenções municipais, as coligações os conchavos, as coalizões estão consolidados e o povão já está discutindo: “este é bom, aquele é ruim”, “este é orgulhoso, aquele é popular”, “este fala com a gente, aquele não”, ou ainda, “fulano ganha porque tem dinheiro”, “fulano perde por causa das suas ligações”.
Para variar, a disputa política no interior do Brasil, quase sempre está polarizada numa disputar entre famílias tradicionais. Pessoas que, de modo geral são adeptas do patrimonialismo de que fala o autor Sérgio Buarque de Holanda, no seu famoso livro Raízes do Brasil, um clássico sobre a formação do povo brasileiro.
No âmbito municipal, as pessoas tratam a política como se fora algo pessoal, tão pessoal que mesmo quando abordada como uma ação coletiva, o coletivo torna-se simplesmente algo estritamente grupal, ou seja, todo discurso dá-se em torno de grupos majoritários que polarizam a disputa. Esses grupos, uma vez de posse ao poder executam a política que bem entendem e, de modo geral tratam a coisa pública como se fizesse parte dos seus patrimônios pessoais.
Nos palanques, os discursos são menos propositivos e mais desqualificativos, ou qualifcativos, de acordo com quem o faz e do lado para o qual aponta com elogios ou insultos. Isto é uma regra? Não. Esta é uma prática imutável? Também não. O povo gosta dessa prática? Não. Os políticos estão propensos a mudar essa prática? Sim, basta que a sociedade, por meio das suas organizações passe a cobrar dos políticos atitudes nesse sentido.
No tocante a disputa política em Santa Inês, duas perguntas podem contribuir para um debate político civilizado em torno desta terra. A primeira: O que é Santa Inês hoje? O que pretendemos que Santa Inês seja no futuro? Ora, essas perguntas são geradoras de inúmeras outras que estão intimamente relacionadas. O que pretendemos para a cidade no que diz respeito a emprego e renda? Que futuro os políticos pensam para a juventude? O que pensam em termos de segurança, saúde, previdência, educação, saneamento básico (esgoto e lixo, principalmente), meio ambiente, cultura?
O exercício da cidadania nos obriga a dirigir estas perguntas aos políticos locais, principalmente os postulantes da chefia do executivo municipal. É essencialmente, a partir do programa político e da história de vida de cada um deles que o eleitor deverá nortear o seu voto.
Este é o momento da sociedade organizada promover eventos em que cada um dos postulantes ao  cargo de prefeito municipal fale sobre o projeto político que tem para a cidade, especificamente, nos planos econômico, social, ambiental e cultural. É a partir da proposta de hoje que se erguerá a administração de amanhã. Se não se comprometerem agora com um programa político de governo, no futuro administrarão de acordo com a própria vontade, sem qualquer participação do povo. Ë alicerçado no discurso de hoje que serão feitas as cobranças de amanhã. Entretanto, se esse discurso for vazio, evasivo, baseado puramente na distinção inferiorizante dos adversários, nada sobrará que se aproveite para alavancar o desenvolvimento do município.

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