A humildade brilha na
festa de São João
Segundo o amigo José Henrique
Formiga este foi o oitavo ano de participação da Maçonaria no arraial junino de
Santa Inês. Destes pude participar de dois e constatei que se trata de uma
festividade com uma organização ímpar. Em nenhum ano eu vi um caso sequer de
violência, o movimento é imenso, as brincadeiras que fazem o espetáculo são da
mais alta qualidade: boi de Morros, boi de Axixá, boi Barrica, quadrilhas,
danças portuguesas, entre outras brincadeiras. Todas da mais alta qualidade.
Aliada às brincadeiras citadas tem as apresentações musicais dos chamados
artistas da terra: Papete, Beto Pereira, Erasmo Dibel e tantos outros.
A criançada aproveita para
desfrutar de todo esse espetáculo junino e ainda dos brinquedos do parque de
diversões sempre presentes nesses eventos. Nas barracas, comidas típicas
diversas: vatapá, caruru, galinha caipira, carne de sol, arroz Maria Isabel,
arroz de cuxá, baião de dois, bode
cozido, mingau, canjica, churrasco, comidas para todos os gostos.
No âmbito de toda essa alegria a
humildade maçônica se sobressai da forma mais singular que poderia acontecer
num ambiente junino. Enquanto a sociedade de Santa Inês se diverte, vários expoentes
desta, obreiros sociais, pessoas de bons costumes irmanadas pelo elo que os
ligam ao bem estar comum, no afã de arrecadarem recursos para ações
filantrópicas, se revezam como garçons, cozinheiras, ajudantes de cozinha,
caixa, controlador de fichas, distribuidor de bebidas, coletor de lixo e outras
funções próprias de barracas juninas.
Ora, pelo que essa plêiade de
expoentes sociais representa economicamente, bastaria que se fizesse uma pequena quota e certamente se arrecadaria
mais recursos que em quinze dias de trabalho numa barraca instalada no parque
junino. Isto é óbvio, todos sabemos disso, como sabemos também que a nossa
devoção pelo nosso padroeiro São João representa algo que está fora de cotejo
com qualquer valor monetário que se possa pensar. E, sem dúvidas, é essa
devoção que faz com que durantes quinze dias, médicos, empresários, bancários,
militares, comerciantes, industriais, proprietários rurais, funcionários
públicos, engenheiros, professores, veterinários e tantos outros profissionais
se despissem dos seus bem talhados ternos e vestissem serenamente a camisa da
humildade para dedicar algumas noites de trabalho a São João.
Vi pessoas comuns da nossa
sociedade muito orgulhosas pelo bom tratamento que receberam dos garçons da
Maçonaria. Ouvi pessoas revelarem a alegria por serem servidas pelo Dr. Fulano,
pelo engenheiro tal, ou por um empresário. Observei pessoas receberem
tratamento tão esmerado, pautado na boa educação, no respeito, na delicadeza,
na elegância, nos bons costumes, de tal forma que, não raras vezes, quando iam
sair elas procuravam os garçons que lhes serviram para se despedirem deles. O
gesto, na verdade era mais que uma despedida simplesmente, para além disso,
expressava a gratidão pelo tratamento recebido. Presenciei a alegria imensa
exteriorizada por um empregado ao ser servido por seu padrão, ali, a serviço de
São João, apenas um garçon.
O quadro ali me lembrou, em alguns instantes, a
samba enredo A Praia Grande, que o grande poeta César Teixeira fez para a Turma
do Quinto, que num verso dizia “tinha tanto rei vestido de mendigo/e tanto
mendigo vestido de rei”. Como os versos de César Teixeira, igualmente lindo foi
o gesto desses homens e mulheres de bons costumes, que num movimento justo e perfeito
de filantropia, exercitaram serenamente sem parcimônia a mais elegante
humildade junina. Exemplo esse perfeitamente seguido pelos jovens demoleys que
de tanto entusiasmo contaminaram os seus pais, e assim, sob a confiança do dono
da Festa, São João, se destacou a família maçônica quando, no meio de tanto
brilho e toda a pirotecnia junina se cobriu com a fosca camisa da humildade,
para bem servir a sociedade de Santa Inês.
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