Fico um tanto intrigado quando
alguém se refere a mim falando de ”coisas do meu tempo”. Isso é coisa do seu
tempo, aquilo é coisa do seu tempo. Jovens gostam desse tipo de comportamento.
Às vezes creio que fazem para demarcar o próprio tempo, tipo “o seu tempo já
passou, agora o tempo é meu”. Outras vezes, falam somente para avisar que a
velhice já chegou, como se assim nos empurrassem para baixo do tapete. Você já
está velho.
A velhice é incontestável, embora
as pessoas usem de artifícios para adiar o envelhecimento. Cabelos brancos,
rugas, flacidez da pele, perda de tônus muscular, diminuição ou perda da
libido, entre outros, são sinais de envelhecimento que as pessoas teimam em
camuflar, esconder, adiar. Para isso, usam de tratamentos clínicos, cirúrgicos,
estéticos, alimentares. São muitos os recursos usados e, a sofisticação dos
tratamentos varia conforme a classe social e, consequentemente, o poder
aquisitivo.
Envelhecer faz parte da vida das
pessoas e vivendo numa sociedade em guerra, onde morre um elevado número de jovens,
diariamente, por causas fúteis, nós ao invés de tratarmos a velhice com
sarcasmo, devemos tratá-la com carinho, respeito e certa contemplação.
Mas, que coisa é essa de indicar
um tempo para alguém que está vivendo no mesmo tempo que você? É como se tomar
ciência e acompanhar a linha do tempo fosse algo que pertencesse apenas a
algumas pessoas que vivem em determinada faixa etária. Muitas vezes ouvi
pessoas comentando que fulano se entregou à velhice. Isso significa que essa
pessoa abdicara dos prazeres da vida de tal forma que seus procedimentos
endossam a tese do “já passou o seu tempo”. Sei de casos de casais que se
separaram porque um dos dois achou que não tinha mais idade para amar, enquanto
o outro não só se achava apto como ficava ávido para tanto. Contudo, se negava
a buscar o amor fora do casamento, preferindo desfazê-lo a aderir à traição.
Hoje, as academias estão repletas
de pessoas de todas as faixas etárias. Bares, restaurantes, cinemas, teatros,
estádios de futebol, praias, clubes e tantos outros lugares de diversão estão
repletos de pessoas de todas as idades. Evidente que lugares que se
especializaram na prestação de serviços para determinada faixa etária. Isto faz
parte do capitalismo. Empreendedores observam, aproveitam as aptidões que têm e
dirigem seus produtos e serviços para pessoas de determinadas faixas de idade.
No turismo isso fica muito evidente. Empresas que se especializaram no
transporte, na recepção, ou na oferta de produtos ou serviços correlatos para
jovens, adultos, idosos. Cruzeiros de navios para solteiros, casados, gays e
assim por diante.
O mercado parece mais inteligente
quando trata dos seus interesses. Não perde tempo discriminando A ou B, antes se
dedica à percepção das necessidades, desejos e sonhos e, ora incrementa, ora
cria demandas, ou as desperta, trazendo à tona aquilo que as pessoas aspiravam,
entretanto sentiam-se inibidas a externar. Quebra tabus, esmaga preconceitos,
extingue impossibilidades.
Observadas as limitações próprias
dos diversos intervalos de idade, as pessoas estão aptas a fazerem-se mais
felizes se divertindo, trabalhando, produzindo, criando, participando de
aventuras, melhorando aparência, buscando a elevação da escolaridade,
aprendendo outro idioma, ou uma nova profissão, fazendo o que bem entendem.
Parece que definitivamente as pessoas aprenderam
que felicidade não tem idade e, perderam também o medo de ser felizes. Mais que
isso, decididamente, vão buscar a felicidade em quaisquer formas em que se
apresente, em qualquer lugar que esteja. Porque entendem que velho mesmo são as
mentes pensam que a idade é impeditiva para se viver a vida. Definitivamente,
só há um tempo para ser feliz, o tempo de duração da própria vida. Pois, se a
velhice é incontestável, não é impeditiva. Viva a vida! Obrigado por comentar.