sábado, 10 de abril de 2010

Conversa entre pais e filhos II


Para continuar a conversa sobre a diferença entre adversários e inimigos, podemos ainda usar o futebol como um exemplo. Os ditos clássicos são realizados entre times de rivalidade tradicional, mas, a rivalidade entre jogadores e dirigentes de equipes distintas se restringe aos ambientes próprios à competição – o estádio de futebol, a estância de decisão jurídica específica. Aqui o adversário é o time, o ente coletivo, ou sua representação, cujo mandado deriva da autorização (voto) de um coletivo, portanto também deve ser observada como coletividade. Fora das instâncias de competição, jogadores, técnicos, dirigentes, torcedores podem conviver perfeita e harmoniosamente com os profissionais de equipes adversárias, nutrindo, não raras vezes, relação de íntima amizade.

As brigas entre torcidas organizadas são excessos, criminalizados, indesejados, repudiados por toda sociedade, justamente porque constituem eventos socialmente vistos como desnecessários, violentos, inoportunos, impróprios e geradores de inimizade.

A inimizade é cega, não distingue ambiente, ou ocasião, não percebe a dinâmica da vida e, consequentemente, lhe passa despercebida também a mudança, as variações propiciadas pelo decurso do tempo. Como se trata de sentimento sem limite, pessoas ou grupos sociais que se sentem inimigos costumam se posicionar sempre contra o outro lado. Não importa o tempo, o lugar, ou o motivo. Não desejam o bem estar do outro lado, pelo contrário, desejam-lhes a derrota, o infortúnio e toda natureza de perdas. Para tanto, podem recorrer à instância de poder legal ou ilegal, praticar atos lícitos e ilícitos, pois à proporção que os sentimentos que os movem se amesquinham os expedientes a que recorrem tendem à exacerbação, à força bruta e até mesmo à barbárie.

A competição constitui evento próprio da disputa entre adversários, concorrentes com objetivos semelhantes – um título, um nicho de clientes, instalação de uma organização em determinado local, outros fins. É norteada por regras instituídas, possui limites e tende a observá-los, caso contrário, o lado infrator estará sujeito aos efeitos punitivos da instância responsável pela manutenção do estado de regularidade. Entre adversários a competição se realiza em espaço regular, oportuno e, sobretudo, dentro de limites socialmente cabíveis.

A vida em sociedade pressupõe o convívio com diferentes. Daí a necessidade de saber conviver com as diferenças e, para tanto, necessitamos conhecê-las de per si. O conhecimento das pessoas com as quais convivemos nos permite mais capacidade para compreender os seus atos, o modo como se comportam e expressam, dando-nos maior suporte social de convivência harmoniosa. É, como o piloto que planeja uma viagem, necessário conhecer o plano de voo dos outros, para se posicionar e, à medida do possível, evitar entrar em rota de colisão. Como em nossas vidas, no espaço, aeronaves com distintos objetivos, passam por rotas semelhantes a todo instante. Por isso, aeronaves com planos de voo que as leve a cruzar uma mesma posição (coordenada geográfica) no espaço, devem ter alturas (altitudes) diferentes para evitar uma catástrofe.

Em nossos planos de vida, passaremos por diversos lugares onde encontraremos com pessoas que diferem da gente em vários pontos: religião, etnia, nacionalidade, posicionamento político, opção sexual, posição social, modo de expressão, temperamento, entre outras diferenças. Entretanto, essas diferenças não são indicativas de superioridade ou inferioridade, mas, simplesmente constituem traços específicos comuns a cada pessoa que o apresenta. É importante sabermos conviver com cada um dos tipos que encontramos ou encontraremos nos lugares que freqüentamos ou que haveremos de passar. O que não devemos perder de vista é o nosso plano de voo. Portanto, continuaremos a nossa conversa, em outro momento, a partir deste ponto – o nosso plano de voo. Até lá.
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