domingo, 17 de junho de 2012

Ressaca, monotonia, tédio...


Lembra da música Roda viva, do Chico Buarque? “Há dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”. Não é sem sentido essa música, aliás, nada que o Chico faz padece de falta de sentido. Quem sabe ele já se sentiu assim, num dia desses em que amanhece com ressaca, sono, tédio, cercado por uma monotonia infinita, ou quase infinita.
Na televisão, programas sofríveis preenchem horas de soberbo vazio, de qualidade ínfima, eles não servem para qualquer distração. Mas, graças a Deus existem os amigos e, quando se tem eles, a coisa fica mais fácil porque o vazio que nos enche o peito pode no primeiro aperto de mão ceder lugar à alegria. Até tentei recorrer a eles, mas, os mais próximos estão a 240 Km de distância.
Ah, ainda bem que existe a internet e muitos dos meus amigos gostam de navegar nela, entretanto, eu não os estou encontrando. Devem estar nos bares, visitando parentes ou amigos, dormindo, curtindo uma ressaca, assim como eu sem vontade de nada. Que coincidência...
Ah, de repente, um filho meu entra no eme-esse-ene, legal, vibrei. Pensei: agora vou poder espantar esse tédio e bater um papo com alguém. Engano, redondo, redondíssimo engano. Eu o cumprimentei, ele respondeu, aí eu fui logo falando empolgado sobre uma poesia que li no blog dele. O cobri de elogios, em vão. Ele simplesmente manteve-se indiferente aos meus elogios. Pensei, esse negócio de elogios de pai não deve servir pra nada, ainda mais numa tarde de domingo.
Não desanimei, afinal, detesto o tédio, detesto mais ainda mantê-lo sem hostilizá-lo. O tédio não serve para nada, por isso deve ser hostilizado como uma barata que aparece na sala de estar, ou um rato que invade a nossa despensa. Detesto dar mole ao tédio, ele não merece isso. Para a ressaca, cada um tem os seus truques, os seus remédios, embora todos sejam de comprovada ineficácia é sempre bom acreditar na eficácia daquele que você nomeia como o da sua preferência.
Remédio para a o sono todos nós conhecemos o mais eficaz, mas a minha teimosia se negava a entregar-me a simples três horas de bom e sossegado sono. Para quem padece de insônia a noite é curta demais e o dia pode transformar-se num momento propício a disfarçados bocejos. O insone sempre reclama, a cada bocejo, de provável acometimento de quebranto, pura desculpa, mas, mesmo sabendo que basta dormir algumas horas ele prefere buscar uma benzedeira. Pura cara de pau, mas faz parte da crença e do ritual de quem sofre de insônia crônica.
Para remediar a monotonia, até que eu acho mais fácil, basta um bom livro, de autor bem humorado, bem divertido, desse que trata o humor com muita intimidade. Jorge Amado é leitura indicada para isso. Da segunda página em diante, o leitor começa a se divertir com os personagens de forma que parece que está assistindo a um filme em 3D. E até interage com os personagens: toma parte da história, apartando brigas, participando de serenatas, bebedeiras, noitadas no baixo meretrício. Outro remédio que eu adoto é a leitura dos escritos bem humorados de João Ubaldo Ribeiro. Ele é fantástico, traz o bom humor à ponta da caneta, ou, para ser mais moderno, à tecla do computador.
Bem, mas, se o tempo passar e você não conseguir fazer nada daquilo que você pensa que serve para combater a ressaca, a monotonia, ou o tédio, não perca espírito esportivo. Como bom brasileiro, satirize-se, faça uma piada do seu sofrimento, ria de si mesmo, como último recurso escreva sobre tudo que está ao seu redor, observando, contudo, o lado humorado que há em cada coisa, em cada pessoa, em cada relação real ou fictícia que esteja no âmbito da sua percepção. Lembre-se, nada de mau humor, ou ficar em crise como se tivesse com tê-pê-eme, afinal, o dia só tem 24 horas e, como disse o poeta citado, “amanhã vai ser novo dia”.

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sábado, 9 de junho de 2012

Mercado imobiliário vive distorção entre a procura e a oferta


Já faz algum tempo que eu observo os rumos do mercado imobiliário no Maranhão, de modo especial, em Santa Inês e em São Luís, principalmente. Leio artigos de especialistas e esses falam de bolha inflacionária desse mercado. Algo tipo, os preços são extrema e artificialmente elevados, quando o mercado não possui um excesso de dinheiro disponível para comprar os imóveis colocados à venda. Há uma demanda grande de imóveis? Há. Há uma grande quantidade de recursos disponíveis para a aquisição de imóveis? Não. De onde vem a maior parte dos recursos disponibilizados para a aquisição de imóveis no Brasil? Dos bancos oficiais, principalmente, da Caixa Econômica Federal.
Para as camadas populares, o governo federal desenhou o programa Minha casa, minha vida, as demais classes que precisam de recursos para aquisição da casa própria recorre aos bancos.
Os corretores de imóveis dominam todo o trâmite do processo de aquisição e têm na ponta da língua o passo a passo de todo o procedimento. Conhecem alguém aqui que facilita isso, conhecem alguém ali, que facilita aquilo, mas, tudo depende de dindin, é claro.
Mas, o que me causa estranheza no mercado imobiliário hoje é o valor dos imóveis diante da quantidade ofertada. Observem, as pessoas não possuem liquidez para a compra de imóveis e, há muitos imóveis disponíveis no mercado.
Hoje, a maioria das pessoas que desejam adquirir um imóvel, recorre à Caixa Econômica Federal, ou outro banco que disponibilize recursos específicos à aquisição destes.
Outro dado que me intriga da mesma forma, é que, de modo geral, o aluguel de um imóvel equivale a 1% do seu valor total. Contudo, quando se fala em compra, essa relação desaparece. Um imóvel cujo aluguel vale em torno de R$ 700,00 a R$ 1.000,00, é oferecido à venda por R$ 200 mil a R$ 300 mil. Por que isso está acontecendo? Há um fenômeno novo na economia brasileira que provoca o aumento do preço do produto com o aumento da oferta?
Qual é o fenômeno que regula o preço do aluguel? É a relação entre a demanda e a oferta, ou seja, o próprio mercado. Então, aí oferta e demanda se ajustam, pois de um lado está o locador com o seu imóvel e do outro está o locatário com o seu salário, a sua renda, seja ela qual for, mas, ninguém recorre mensalmente ao mercado de capitais para pagar aluguel. Note-se que a reclamação sobre a alta do preço do aluguel não é pequena, mas, ainda assim, quando o imóvel é oferecido à venda o seu preço duplica ou triplica.
Por que isso acontece? Basicamente, porque o mercado financeiro habitacional não empresta dinheiro para a pessoa que deseja comprar um imóvel, mas o oferta diretamente àquelas que o constroem. De fato, quando no Brasil o governo faz um programa de oferta de imóveis à classe média ou à classe de baixa renda, ele, o governo, não deseja satisfazer as necessidades dessas classes, mas, a da classe empresarial que os ofertará ou construirá os imóveis que as tais classes sociais desejam ou necessitam.
De onde vem essa prática? Vem do Brasil colônia, do Brasil escravista, que achava que os recursos do governo não devem ser repartidos com os pobres ou as classes menores, mas, deve ser um privilégio daqueles que fazem a maioria política, os da mais alta classe econômica, social e política. Porque, de acordo com a ideologia colonialista e escravista, estes sabem o que fazer com o dinheiro, estes são trabalhadores, estes têm pedgree para mamar na teta do governo, os demais não. Ah, mas, de acordo com a carta magna somos todos iguais em direitos. Daí a razão do dá aqui e toma lá. É preciso fazer de conta que todos temos os mesmos direitos. Como diz o Maquiavel, não basta ser, tem que parecer que é. É essa necessidade de parecer democrático que faz o governo emprestar aos pobres o dinheiro que ele, o governo carimba para ir diretamente para as mãos do rico.
Ah, então eu estou dizendo que o governo faz mal aos pobres quando disponibiliza recursos para a aquisição da casa própria, facilitando que as classes de baixa e média renda realizem o sonho da residência própria? Não, absolutamente, não. Estou dizendo que o governo quando age do jeito que sempre agiu, ajuda a inflacionar o mercado imobiliário, porque no Brasil há uma cultura de multiplicação dos preços dos produtos e serviços que sejam pagos com recursos oficiais – herança da nossa colonização. No caso do mercado imobiliário, embora esse dinheiro seja pago pelo adquirente do imóvel, mesmo assim, esse recurso é assimilado pelo vendedor como um recurso do governo que vai ser pago a perder de vista e por isso, ele eleva o preço do imóvel a níveis estratosféricos, multiplicando os seus lucros e deixando a dívida para o comprador.
O que se deve observar? Da parte dos Bancos, a relação valor do imóvel-aluguel permanece inalterada. Isto significa que o comprador vai pagar por muitos anos o valor correspondente a 1% do valor do imóvel. Só que agora não se trata mais de aluguel, mas da casa própria, o sonho da casa própria. O bom senso econômico diz-nos que uma pessoa pode disponibilizar para o pagamento de dívidas no máximo 30% da sua renda líquida. Logo, desembolsar R$ 2 mil reais ou R$ 3 mil reais mensalmente, faz o sonho de aquisição da casa própria tornar-se um pesadelo para o médio assalariado brasileiro.
Mas, o que fazer? Como mudar esse cenário? Ora, os bancos ao fazer o financiamento da casa própria daria maior poder de barganha aos tomadores de financiamento se transformassem o recurso tomado em carta ou cartão de crédito. Assim, o tomador iria ao mercado imobiliário e escolheria o imóvel fazendo proposta a partir de um valor real de mercado, fazendo o percurso no rumo inverso: primeiro ele tomaria os recursos no banco, depois compraria o imóvel. Enquanto isso, o recurso ficaria disponibilizado no Banco de modo a não perder o valor, podendo ser aplicado em um fundo de investimento no interregno em que o tomador procura o imóvel do seu gosto. O recurso disponibilizado poderia, inclusive, não ser utilizado todo, caso o tomador solicitasse um teto e adquirisse um imóvel com o valor abaixo do teto solicitado. Deste modo, creio, tal como no caso do aluguel os preços se ajustariam pelo movimento do mercado, quebrando assim esse paradigma nefasto de cobrar mais caro tudo que é pago pelo estado brasileiro.

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