sábado, 9 de junho de 2012

Mercado imobiliário vive distorção entre a procura e a oferta


Já faz algum tempo que eu observo os rumos do mercado imobiliário no Maranhão, de modo especial, em Santa Inês e em São Luís, principalmente. Leio artigos de especialistas e esses falam de bolha inflacionária desse mercado. Algo tipo, os preços são extrema e artificialmente elevados, quando o mercado não possui um excesso de dinheiro disponível para comprar os imóveis colocados à venda. Há uma demanda grande de imóveis? Há. Há uma grande quantidade de recursos disponíveis para a aquisição de imóveis? Não. De onde vem a maior parte dos recursos disponibilizados para a aquisição de imóveis no Brasil? Dos bancos oficiais, principalmente, da Caixa Econômica Federal.
Para as camadas populares, o governo federal desenhou o programa Minha casa, minha vida, as demais classes que precisam de recursos para aquisição da casa própria recorre aos bancos.
Os corretores de imóveis dominam todo o trâmite do processo de aquisição e têm na ponta da língua o passo a passo de todo o procedimento. Conhecem alguém aqui que facilita isso, conhecem alguém ali, que facilita aquilo, mas, tudo depende de dindin, é claro.
Mas, o que me causa estranheza no mercado imobiliário hoje é o valor dos imóveis diante da quantidade ofertada. Observem, as pessoas não possuem liquidez para a compra de imóveis e, há muitos imóveis disponíveis no mercado.
Hoje, a maioria das pessoas que desejam adquirir um imóvel, recorre à Caixa Econômica Federal, ou outro banco que disponibilize recursos específicos à aquisição destes.
Outro dado que me intriga da mesma forma, é que, de modo geral, o aluguel de um imóvel equivale a 1% do seu valor total. Contudo, quando se fala em compra, essa relação desaparece. Um imóvel cujo aluguel vale em torno de R$ 700,00 a R$ 1.000,00, é oferecido à venda por R$ 200 mil a R$ 300 mil. Por que isso está acontecendo? Há um fenômeno novo na economia brasileira que provoca o aumento do preço do produto com o aumento da oferta?
Qual é o fenômeno que regula o preço do aluguel? É a relação entre a demanda e a oferta, ou seja, o próprio mercado. Então, aí oferta e demanda se ajustam, pois de um lado está o locador com o seu imóvel e do outro está o locatário com o seu salário, a sua renda, seja ela qual for, mas, ninguém recorre mensalmente ao mercado de capitais para pagar aluguel. Note-se que a reclamação sobre a alta do preço do aluguel não é pequena, mas, ainda assim, quando o imóvel é oferecido à venda o seu preço duplica ou triplica.
Por que isso acontece? Basicamente, porque o mercado financeiro habitacional não empresta dinheiro para a pessoa que deseja comprar um imóvel, mas o oferta diretamente àquelas que o constroem. De fato, quando no Brasil o governo faz um programa de oferta de imóveis à classe média ou à classe de baixa renda, ele, o governo, não deseja satisfazer as necessidades dessas classes, mas, a da classe empresarial que os ofertará ou construirá os imóveis que as tais classes sociais desejam ou necessitam.
De onde vem essa prática? Vem do Brasil colônia, do Brasil escravista, que achava que os recursos do governo não devem ser repartidos com os pobres ou as classes menores, mas, deve ser um privilégio daqueles que fazem a maioria política, os da mais alta classe econômica, social e política. Porque, de acordo com a ideologia colonialista e escravista, estes sabem o que fazer com o dinheiro, estes são trabalhadores, estes têm pedgree para mamar na teta do governo, os demais não. Ah, mas, de acordo com a carta magna somos todos iguais em direitos. Daí a razão do dá aqui e toma lá. É preciso fazer de conta que todos temos os mesmos direitos. Como diz o Maquiavel, não basta ser, tem que parecer que é. É essa necessidade de parecer democrático que faz o governo emprestar aos pobres o dinheiro que ele, o governo carimba para ir diretamente para as mãos do rico.
Ah, então eu estou dizendo que o governo faz mal aos pobres quando disponibiliza recursos para a aquisição da casa própria, facilitando que as classes de baixa e média renda realizem o sonho da residência própria? Não, absolutamente, não. Estou dizendo que o governo quando age do jeito que sempre agiu, ajuda a inflacionar o mercado imobiliário, porque no Brasil há uma cultura de multiplicação dos preços dos produtos e serviços que sejam pagos com recursos oficiais – herança da nossa colonização. No caso do mercado imobiliário, embora esse dinheiro seja pago pelo adquirente do imóvel, mesmo assim, esse recurso é assimilado pelo vendedor como um recurso do governo que vai ser pago a perder de vista e por isso, ele eleva o preço do imóvel a níveis estratosféricos, multiplicando os seus lucros e deixando a dívida para o comprador.
O que se deve observar? Da parte dos Bancos, a relação valor do imóvel-aluguel permanece inalterada. Isto significa que o comprador vai pagar por muitos anos o valor correspondente a 1% do valor do imóvel. Só que agora não se trata mais de aluguel, mas da casa própria, o sonho da casa própria. O bom senso econômico diz-nos que uma pessoa pode disponibilizar para o pagamento de dívidas no máximo 30% da sua renda líquida. Logo, desembolsar R$ 2 mil reais ou R$ 3 mil reais mensalmente, faz o sonho de aquisição da casa própria tornar-se um pesadelo para o médio assalariado brasileiro.
Mas, o que fazer? Como mudar esse cenário? Ora, os bancos ao fazer o financiamento da casa própria daria maior poder de barganha aos tomadores de financiamento se transformassem o recurso tomado em carta ou cartão de crédito. Assim, o tomador iria ao mercado imobiliário e escolheria o imóvel fazendo proposta a partir de um valor real de mercado, fazendo o percurso no rumo inverso: primeiro ele tomaria os recursos no banco, depois compraria o imóvel. Enquanto isso, o recurso ficaria disponibilizado no Banco de modo a não perder o valor, podendo ser aplicado em um fundo de investimento no interregno em que o tomador procura o imóvel do seu gosto. O recurso disponibilizado poderia, inclusive, não ser utilizado todo, caso o tomador solicitasse um teto e adquirisse um imóvel com o valor abaixo do teto solicitado. Deste modo, creio, tal como no caso do aluguel os preços se ajustariam pelo movimento do mercado, quebrando assim esse paradigma nefasto de cobrar mais caro tudo que é pago pelo estado brasileiro.

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