O que é mercado afinal? Poderíamos
aqui optar por um espaço social onde se estabelecem trocas. Da mesma forma,
conceituaríamos por um espaço geográfico dirigido às trocas. Definiríamos
também como um campo de poder, onde as diversas forças atuantes, conforme uma
diversidade de interesses, se relacionam, estabelecendo, de alguma forma,
trocas em acordo com as suas necessidades, conveniências, convicções.
Já há algum tempo, a figura do
mercado tem atuado nos noticiários como uma entidade, um ser além do bem e do
mal – o mercado. Um ente de uma sensibilidade de pétala, um organismo com
sensor intestino ou à flor da pele capaz de acusar golpes de ações
governamentais que ora lhes causam desarranjos intestinais, ora lhe empurram à
depressão. Um deus capaz de saber nomes corretos para cada pasta de governo, um
conhecedor dos filhos do Brasil adequados a cada um dos ministérios da
Esplanada e das autarquias a estes vinculadas. Surge uma vaga a ser preenchida
no governo, logo o mercado reage e indica nomes de seres superiores dotados de
conhecimentos, no mínimo adequados para assumir o cargo, ou a função. Mas quem
tem o poder legítimo para indicar é a presidente, cujo poder foi conquistado de
forma lícita, democrática, clara e legitima, nas urnas. A presidente exerce o
seu poder da indicação, o mercado reage e a imprensa azul e amarela logo exibe
o bico expressivo do descontentamento, afirmando que o mercado reagiu mal,
sempre mal. Como a sua majestade (ou santidade) o mercado mostra a sua
desconfiança, os seus resmungos, cochichos, boatos? Através das bolsas de
valores, tendo como os seus intérpretes favoritos economistas, assessores de
instituições financeiras e, ou de consultorias que lhes prestem serviços,
momentaneamente enfocados pela imprensa bicuda, azul e amarela. Há também
aqueles contratados pela televisão, cuja expressão maledicentemente categórica,
contrária a quaisquer ações governamentais, constitui o caráter mais elevado do
seu intelecto.
E por que isso? Porque como mais
um fator da pressão ao governo federal engendrado e enfatizado, a cada
noticiário, pela imprensa azul e amarela do Brasil que se prestidigita em uma
entidade imparcial para expressar seu descontentamento com a derrota tucana,
mal digerida até hoje.
Mas, de qual mercado a imprensa
fala que reagiu mal a cada indicação do governo eleito pelo povo brasileiro?
Trata-se de pessoas físicas e jurídicas, atuantes, especialmente, no mercado
financeiro, que historicamente sempre levaram vantagens com a miséria do povo
brasileiro, que no momento não se contenta com o lucro que têm, apesar da
cotação do dólar. Essas pessoas, a título de ajuda-memória, adoram ver o dólar
alto em relação à moeda brasileira, embora finjam o contrário – só misancene.
Essas pessoas, historicamente, aumentaram os seus patrimônios com os ganhos que
tiveram com as ações da Petrobrás e hoje gritam desesperadamente, pelas
eventuais e momentâneas perdas com as quedas das ações desta ou de outra empresa
estatal. Creiam, apesar de toda a reclamação, essas pessoas ficaram mais ricas
durante o governo que eles chamam de “Governo do PT”. Aumentaram os seus
patrimônios, viajaram e gastaram bastante no exterior e, apesar de tudo que
têm, fazem e podem fazer, se dizem descontentes. Não se bastando com o que têm,
agora querem voltar ao Poder, como crianças mimadas, querem o poder a todo
custo e para tanto já falam até mesmo em golpe fantasiado de impeachment, embora não tenham qualquer
plano para o país que vá além do robustecimento do próprio patrimônio.
Vejo em tudo isso um desrespeito com a
maturidade do estado democrático brasileiro e, sobretudo, com o povo brasileiro que foi às
urnas em dois turnos e escolheu a pessoa em que acredita e deu-lhe um mandato
de mais quatro anos para conduzir a nação.
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