domingo, 3 de maio de 2009

Reminiscências do meu tempo de Rosário

Tenho uma frase que soa latente no meu coração e que mentalmente vivo sempre a repetir: enquanto mais conheço outros lugares, mais eu amo a terra onde nasci – Rosário/MA. Isto é tão forte dentro de mim que eu resolvi escrever coisas da minha reminiscência em Rosário, da minha infância e da minha pré-adolescência, quando eu de lá saí.
Naquela época Rosário era a terra do esporte, e o esporte mais praticado, claro, era o futebol. Futebol de poeira ou de várzea, como era chamada a nossa pelada nos campinhos da cidade; e o futebol de salão (hoje o futsal), que era jogado numa quadra que ficava ao lado do cinema, e depois na quadra do Ginásio Heráclito Nina.
Mas, o mais emocionante, o mais apaixonante era o futebol que jogávamos nos campinhos da cidade. Eram muitos os campinhos, mas, aqui destaco a existência de três que eram essenciais no âmbito da preferência das crianças e dos jovens esportistas da época: o campinho da praça do grupo (leia-se Grupo Escolar Joaquim Santos), o campinho da Praça da Igreja, que ficava em frente à casa do Cesário Rezzo e dona Puluca Rezzo, entre a Igreja da Matriz e a casa de dona Jandira de Zé Lima, onde depois ergueram um jardim da infância. E tinha ainda, o que ficava perto do quiosque de Graziela, quase entre o quiosque de Graziela e o quiosque, ou botequim do Caetano.
Nesses campinhos as peladas eram inflamadas, a platéia era atenta e os craques grassavam. Eram muitos. Em Rosário havia mesmo as proles de craques, que eu poderia concluir este artigo só enumerando-as, mas, para fugir da injustiça que cometemos quando tentamos abarcar um universo tão grande vou deter-me àqueles que no meu entendimento formaram o mais significativo, o mais brilhante time de pelada da minha época.
Com tantos craques, com tantas pessoas apaixonadas pelo futebol, com tantas crianças e jovens cheios de energia, nada melhor que canalizar essa energia para o esporte, melhor falando, para o futebol.
Formaram-se assim os torneios e campeonatos de campinhos. Cada time com cinco atletas. Como costumávamos chamar na época, era o cinco contra cinco. Um goleiro e dois zagueiros laterais e dois pontas. Um time chamava a atenção de todos, pela sua formação: goleiro, se a memória não me trai era Luiz Rezzo, zagueiros, Bimba e Alan Rezzo, e na linha de frente, Chico de Caboclo Ferreiro e Tica de Joaquim Coelho.
Luiz Rezzo era um goleiro, atento e muito corajoso. Alan e Bimba eram jogadores de qualidade mediana, mas, com uma garra e determinação ímpares, que aliadas ao fato de detestarem a derrota, os tornavam monstros sagrados. Mas, nada, nada mesmo se comparava com os geniais dribles, passes, tabelinhas e gol feitos pelos craques Chico e Tica. Estes eram craques de altíssima categoria, para classificá-los poderíamos criar uma categoria extra, que os diferenciasse dos demais.
Chico e Tica constituem, na história de futebol de várzea de Rosário, um capítulo à parte, uma vez que se tratava de uma dupla pra lá de genial. Eram gênios do futebol, chutavam e driblavam com os dois pés, eram mestres em todos os fundamentos – passe, drible, chute com bola parada (faltas e escanteios), cabeceios e tudo mais. Donos de dribles inusitados, passes sensacionais e fenomenais gols de placa. Alvos da perseguição implacável dos adversários sempre propensos a anulá-los por meio de pancadas, não raras vezes desleais. Por isso, Chico e Tica, foram, enquanto crianças, craques de pernas sempre mapeadas com as feridas das pancadas, contusões e outras escoriações correlatas.
Mas, o tempo é mestre em dissolver as alegrias da infância, embora nos deixe as reminiscências. Deste time, em Rosário ainda residem o Luiz Rezzo; o Bimba (Marconi Aquino) é hoje engenheiro civil, e prefeito municipal de Rosário pela segunda vez. Aqui o desejo sucesso, muito sucesso na administração daquela cidade, porque o povo rosariense necessita de uma cidade bem administrada. Alan Rezzo, também é engenheiro civil, professor de física e matemática, empresário e um grande amigo. Pessoa de grande sensibilidade musical pela qual eu guardo grande estima. É, certamente, o maior fã vivo do Chico Buarque de Holanda, compositor do qual Alan sabia todas as músicas. Tica (Riamundo Nonato Coelho), filho de dona Antônia e Joaquim Coelho, deixou Rosário ainda criança, junto com os demais irmãos (Tupinambá, Pina, Lucas, Jackson e Graça).
Quero neste singelo e humilde texto, prestar a minha homenagem àquele que foi um irmão para mim, Chico de Caboclo (Francisco de Jesus Costa), engenheiro mecânico, que só por ser filho de quem era (Caboclo Ferreiro & dona Raimunda Rosa) já merece ser nome de rua na nossa terra. Um amigo, um irmão, pessoa com a qual tive a oportunidade de compartilhar grandes momentos, de aprendizado inclusive, e não é à-toa que neste momento enquanto concluo este texto meus olhos umedecem. Meu querido Chico de Caboclo, você que já está saudade entre nós, deixou uma lacuna irreparável no futebol de várzea da nossa Rosário, porque além de não poder contar para as futuras gerações os seus feitos, não nos resta qualquer arquivo além da falha reminiscência que neste momento usamos para expor este curto interregno da tua passagem pela terra. Por tudo, formalizamos a Deus o pedido para que Ele, o Altíssimo, sempre te ilumine onde quer que estejas na certeza de que iluminarás todos os lugares por onde passares, inclusive o céu, tal como o fizeste nos campinhos de Rosário e demais lugares em que tu marcaste a tua vivência entre nós.
Obrigado por comentar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que felicidade. Morei em São Paulo durante dez anos, hoje novamente estou em Rosário. E sou testemunha que esta certeza que Rosário é a melhor terra é verdadeira. Gostaria de manter mais contato com vc. meu e-mail é euvaldodejesus@hotmail.com