Pouco se fala neste caso, mas trata-se de um dos mais emblemáticos casos do marketing universal, embora tenha ocorrido ali naquele interior maranhense pertinho da capital.
No interregno entre os anos de 1950 e 1960, a cidade de Rosário era dividida popularmente em duas partes – Rua de Baixo e Rua de Cima. O divisor desses bairros era a Avenida do cemitério, cuja ponta inicial já era considerada Rua de Cima e a delegacia de polícia que ficava no outro extremo, pertencia à Rua de Baixo. No meio ficava a zona do baixo meretrício, que pertencia aos dois bairros.
Os comércios mais importantes da cidade eram: na Rua de Cima, A Casa Aragão, pertencente à família Aragão; e na Rua de Baixo, a Casa Siló, cujos donos eram os Aquino.
O Rio Itapecuru mirim dividia o município praticamente ao meio. A cidade de Rosário fica à margem esquerda do rio e, do outro lado, vários povoados estão situados: São Simão, Itamirim, Nambuaçu, Lentel, Bom Tempo, Taboca, Pirangi e muitos outros, que de acordo com a geografia atual, nem pertencem mais ao município.
No outro lado do rio, entre São Simão e Bom Tempo, havia um velho ferreiro, que na sua precária oficina forjava instrumentos metálicos e os vendias nos finais de semana na Rua, como costumavam os interioranos denominar a cidade.
Este era o costume em todos os povoados: nos finais de semana, notadamente, aos sábados, cada trabalhador pegava parte do que produzia e ia até à cidade vender e, quando de lá voltava, trazia as mercadorias que precisasse.
Saíam dos lugares onde residiam e chegavam à Prata, como era chamado o Povoado que ficava logo na outra margem do rio e atravessavam em canoas.
Naquele sábado, o velho ferreiro chegou à Rampa da Cadeia às cinco da manhã. Esperou o dia clarear, e como naquela época o comércio abria as portas bem cedo, justamente, no afã de atender a clientela vinda do interior, o Velho, como era conhecido, dirigiu-se à Casa Siló e ofereceu um saco de chocalhos que fizera em sua oficina.
Mas, um dos filhos do velho Siló que estava atendendo no balcão perguntou o preço e o Velho disse, mas, ele querendo comprar por um preço muito mais baixo, disse que não queria, porque chocalho era uma mercadoria que ninguém procurava ali.
O Velho não desanimou e foi para a Rua de Cima, oferecer os tais chocalhos na Casa Aragão, mas, aquele parecia não ser um dia de sorte para o velho ferreiro. Logo que ofereceu o saco de chocalhos, o Zé Aragão sequer perguntou o preço e foi logo dizendo: - Ah, Velho isso ninguém procura aqui, vai lá na Rua de Baixo, na Casa Siló, quem sabe o Kleper até compre uns só para experimentar.
Mas, o Velho, que já tinha passado pela Casa Siló, nada disse, e como ainda era muito cedo para voltar pra casa, foi para a Rampa da Cadeia, aonde todos que vinham do outro lado do rio desembarcavam.
Ali toda canoa que chegava o Velho perguntava, amigo/a você vai pra onde? E se a pessoa respondia que ia para a Rua de Baixo ele dizia: - me faz um favor, passa na Casa Siló e pergunta se lá tem chocalho pra vender. Se a pessoa dizia que ia pra Rua de Cima, o Velho pedia que ela fosse até a Casa Aragão e perguntasse se ali tinha chocalhos. Das oito da manhã até as quatro horas da tarde, na Rampa da Cadeia não desembarcara ninguém que não fosse abordado pelo Velho, que educadamente, pedia sempre o mesmo favor.
Toda pessoa que retornava das compras e vendas dava sempre a mesma informação para o ferreiro: - Velho lá não tem não. Outros, até brincavam com ele, dizendo: - Velho agora você vai ficar mesmo sem chocalho, mas, não tem nada não, nós já te conhecemos pelo chifre. O rosariense é dado a esse tipo de prosa, que sempre é seguida de fartas gargalhadas.
Por outro lado, os informantes falavam também do modo como os comerciantes lamentavam quando eram perguntados sobre a existência de chocalhos.
Lá pelas quatro da tarde, o Velho chegou à Casa Siló, mas desta vez, só levava a metade dos chocalhos. Logo que o balconista o viu foi logo dizendo: - Velho onde foi que você se escondeu? Ele foi de pronto respondendo: Ah, eu vendi minha mercadoria toda logo de manhã cedinho e, como a procura tava demais, eu voltei em casa para buscar mais, já vendi uma parte e sobrou esta que eu vim oferecer aqui, mas, tem uma coisa, agora o preço é outro, porque eu já tive muito trabalho pra trazer esta outra parte. Mas, o balconista nem barganhou, apenas, brincou, dizendo: Ô Velho ladrão!
Logo que fez a venda, o Velho comprou parte da mercadoria que precisava, passou na Rampa da Cadeia, deixou com um amigo e pegou o resto dos chocalhos e foi pra Rua de Cima. Ao chegar à Casa Aragão, um balconista que o conhecia demais, foi logo brincando com ele: - Velho fidumaégua, em que buraco você se enfiou? Seu Zé procurou por ti o dia todo... o que já veio aqui de gente querendo comprar chocalho...me diz quantos tem aí e eu nem vou discutir o preço.
O Velho teve o mesmo procedimento. Vendeu tudo pelo preço que quis, comprou o que lhe faltava e foi-se embora, pensando: - Poxa! Se eu não fosse esperto, minha velha ia ficar sem o vestido pra dançar o pela porco em São Simão...Não resta dúvida que o rosariense Velho foi um dos principais precursores da propaganda indutora da demanda de um produto. E como tal, se este fato tivesse acontecido em nossos dias, ele não iria mais trabalhar como ferreiro, porque não sobraria tempo para isso. Seriam tantos os convites para palestras, que ele seria presença garantida em universidades como Harvard, Oxford, USP, Califórnia, São Francisco e tantas outras.
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No interregno entre os anos de 1950 e 1960, a cidade de Rosário era dividida popularmente em duas partes – Rua de Baixo e Rua de Cima. O divisor desses bairros era a Avenida do cemitério, cuja ponta inicial já era considerada Rua de Cima e a delegacia de polícia que ficava no outro extremo, pertencia à Rua de Baixo. No meio ficava a zona do baixo meretrício, que pertencia aos dois bairros.
Os comércios mais importantes da cidade eram: na Rua de Cima, A Casa Aragão, pertencente à família Aragão; e na Rua de Baixo, a Casa Siló, cujos donos eram os Aquino.
O Rio Itapecuru mirim dividia o município praticamente ao meio. A cidade de Rosário fica à margem esquerda do rio e, do outro lado, vários povoados estão situados: São Simão, Itamirim, Nambuaçu, Lentel, Bom Tempo, Taboca, Pirangi e muitos outros, que de acordo com a geografia atual, nem pertencem mais ao município.
No outro lado do rio, entre São Simão e Bom Tempo, havia um velho ferreiro, que na sua precária oficina forjava instrumentos metálicos e os vendias nos finais de semana na Rua, como costumavam os interioranos denominar a cidade.
Este era o costume em todos os povoados: nos finais de semana, notadamente, aos sábados, cada trabalhador pegava parte do que produzia e ia até à cidade vender e, quando de lá voltava, trazia as mercadorias que precisasse.
Saíam dos lugares onde residiam e chegavam à Prata, como era chamado o Povoado que ficava logo na outra margem do rio e atravessavam em canoas.
Naquele sábado, o velho ferreiro chegou à Rampa da Cadeia às cinco da manhã. Esperou o dia clarear, e como naquela época o comércio abria as portas bem cedo, justamente, no afã de atender a clientela vinda do interior, o Velho, como era conhecido, dirigiu-se à Casa Siló e ofereceu um saco de chocalhos que fizera em sua oficina.
Mas, um dos filhos do velho Siló que estava atendendo no balcão perguntou o preço e o Velho disse, mas, ele querendo comprar por um preço muito mais baixo, disse que não queria, porque chocalho era uma mercadoria que ninguém procurava ali.
O Velho não desanimou e foi para a Rua de Cima, oferecer os tais chocalhos na Casa Aragão, mas, aquele parecia não ser um dia de sorte para o velho ferreiro. Logo que ofereceu o saco de chocalhos, o Zé Aragão sequer perguntou o preço e foi logo dizendo: - Ah, Velho isso ninguém procura aqui, vai lá na Rua de Baixo, na Casa Siló, quem sabe o Kleper até compre uns só para experimentar.
Mas, o Velho, que já tinha passado pela Casa Siló, nada disse, e como ainda era muito cedo para voltar pra casa, foi para a Rampa da Cadeia, aonde todos que vinham do outro lado do rio desembarcavam.
Ali toda canoa que chegava o Velho perguntava, amigo/a você vai pra onde? E se a pessoa respondia que ia para a Rua de Baixo ele dizia: - me faz um favor, passa na Casa Siló e pergunta se lá tem chocalho pra vender. Se a pessoa dizia que ia pra Rua de Cima, o Velho pedia que ela fosse até a Casa Aragão e perguntasse se ali tinha chocalhos. Das oito da manhã até as quatro horas da tarde, na Rampa da Cadeia não desembarcara ninguém que não fosse abordado pelo Velho, que educadamente, pedia sempre o mesmo favor.
Toda pessoa que retornava das compras e vendas dava sempre a mesma informação para o ferreiro: - Velho lá não tem não. Outros, até brincavam com ele, dizendo: - Velho agora você vai ficar mesmo sem chocalho, mas, não tem nada não, nós já te conhecemos pelo chifre. O rosariense é dado a esse tipo de prosa, que sempre é seguida de fartas gargalhadas.
Por outro lado, os informantes falavam também do modo como os comerciantes lamentavam quando eram perguntados sobre a existência de chocalhos.
Lá pelas quatro da tarde, o Velho chegou à Casa Siló, mas desta vez, só levava a metade dos chocalhos. Logo que o balconista o viu foi logo dizendo: - Velho onde foi que você se escondeu? Ele foi de pronto respondendo: Ah, eu vendi minha mercadoria toda logo de manhã cedinho e, como a procura tava demais, eu voltei em casa para buscar mais, já vendi uma parte e sobrou esta que eu vim oferecer aqui, mas, tem uma coisa, agora o preço é outro, porque eu já tive muito trabalho pra trazer esta outra parte. Mas, o balconista nem barganhou, apenas, brincou, dizendo: Ô Velho ladrão!
Logo que fez a venda, o Velho comprou parte da mercadoria que precisava, passou na Rampa da Cadeia, deixou com um amigo e pegou o resto dos chocalhos e foi pra Rua de Cima. Ao chegar à Casa Aragão, um balconista que o conhecia demais, foi logo brincando com ele: - Velho fidumaégua, em que buraco você se enfiou? Seu Zé procurou por ti o dia todo... o que já veio aqui de gente querendo comprar chocalho...me diz quantos tem aí e eu nem vou discutir o preço.
O Velho teve o mesmo procedimento. Vendeu tudo pelo preço que quis, comprou o que lhe faltava e foi-se embora, pensando: - Poxa! Se eu não fosse esperto, minha velha ia ficar sem o vestido pra dançar o pela porco em São Simão...Não resta dúvida que o rosariense Velho foi um dos principais precursores da propaganda indutora da demanda de um produto. E como tal, se este fato tivesse acontecido em nossos dias, ele não iria mais trabalhar como ferreiro, porque não sobraria tempo para isso. Seriam tantos os convites para palestras, que ele seria presença garantida em universidades como Harvard, Oxford, USP, Califórnia, São Francisco e tantas outras.
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