segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Desenvolvimento para quem?

Data de muito longe o debate sobre a necessidade de desenvolvimento e a forma como este é posto em prática em cada país.

Desenvolvimento no Brasil tornou-se sinônimo de grandes obras, construções faraônicas, caras, ambientalmente impactantes e, pasmem, mesmo assim ditas modernas.

Na agricultura, por exemplo, o solo pode ser adubado com eficiência, usando-se esterco de animais (boi, galinha, porco, e outros), ou com o uso eficientíssimo da chamada adubação verde, mas, infelizmente, há quem acredite, para o bem das fábricas de adubos químicos, que estes têm mais eficiência que aqueles. Tudo vaidade, tudo propaganda, tudo engodo... E aí...tome adubo químico, tome poluição de lençóis freáticos, tome poluição de corpos d’águas superficiais diversos, tome envenenamento de trabalhadores rurais, tome destruição da fauna e da flora nativos.

A indústria nacional reclama da falta de energia, da necessidade de energia de baixo custo, da carência de aumento do potencial energético do país. Aí vem a construção de usinas hidrelétricas (UHE) por toda parte. Apesar dos erros cometidos no passado com Balbina, Tucuruí e outras UHE; apesar dos apelos e protestos da sociedade civil organizada, apesar dos estudos feitos por cientistas renomados, o Brasil continua na rota do crescimento pelo crescimento.

Desde o início da década de 1990 o conceito de desenvolvimento se des-envolveu do monômio crescimento, aditando-se a ele os conceitos de justiça social, equidade e sustentabilidade. No entanto, no que pese o discurso oficial no sentido da afirmação do novo conceito, a prática, quando da execução dos grandes projetos nacionais, é lamentável e inobservante.

São gigantescas obras construídas em pobres municípios, causando impactos ambientais, sociais, econômicos e culturais diversos, entretanto, nenhuma ação é projetada para amenizar esses impactos.

Sempre que um grande projeto se instala em um município qualquer, atrai um grande número de migrantes que saem das suas cidades em busca de trabalho. Esse fato é comum e qualquer tecnocrata envolto com esse tipo de empreendimento é cônscio disto. Sabe-se também que a chegada desse contingente em cidades pequenas, exige aumento da capacidade dos equipamentos sociais imprescindíveis, como hospitais e postos de saúde, escolas, segurança pública, saneamento básico, vias de acesso, e outros.

Grandes projetos chegam sob o manto quimérico do desenvolvimento, trazendo consigo problemas sociais imensos, queimando no discurso desenvolvimentista todas as mentes capazes de prever os seus intrínsecos males.

O aumento demográfico dá-se como um tsunami, de uma hora para outra, sem que a cidade tenha qualquer chance de se defender. Dá-se então, a abrupta elevação dos aluguéis, o aumento de casos de violência, homicídios, furtos, acidentes de diversas naturezas, aumento brusco da prostituição, além de outros efeitos...

Qual a contrapartida que esses projetos levam para os municípios no interregno de sua instalação? Nenhuma. As ruas ficam esburacadas em decorrência do aumento do tráfego e da falta crônica de manutenção, os hospitais ficam incapazes para atender ao aumento da demanda decorrente do aumento da população, a segurança vê-se desaparelhada e incapaz se inibir o aumento repentino dos casos de violência urbana, os espaços locais de entretenimento viram palcos de brigas, intranquilidade. A população habituada a tranquilidade, após a chegada do dito, ou melhor, maldito desenvolvimento, fica em pânico. As pessoas da terra não querem mais sair de casa para os habituais lugares de diversão porque sabem que, de repente, ali vão surgir brigas violentas.

O município de Estreito no Estado do Maranhão é um exemplo vivo dessa situação. Alcântara, também no Maranhão, é outro exemplo pulsante deste tipo de desenvolvimento.

Cabe então perguntar: a quem serve esse tipo de desenvolvimento? O desenvolvimento que se materializa com a construção dos chamados grandes projetos nacionais são monstros gerados por mentalidades desenvolvimentistas em nome de povo brasileiro, mas, na verdade, para o povo trazem mais malefícios do que benefícios.

O desenvolvimento posto em prática quando da construção dos chamados grandes projetos nacionais é verdadeiramente antípoda a sustentabilidade, porque ao invés de fomentar a equidade social, fomenta o aumento das desigualdades; ao invés de promover a justiça social, fecha os olhos do estado para as injustiças provocadas pela falta de aparelhamento dos órgãos de segurança e um poder judiciário moroso no atendimento aos anseios da população; ao invés de promover a segurança aos grupos sociais que imemorial ou historicamente trabalham e habitam terras desejadas para a edificação dos tais projetos, tratam do deslocamento compulsório dessas populações sem sequer pensar em recompensá-los decente e dignamente. Ora, se promove tanto dano às populações tradicionais e aos segmentos urbanos ou rurais de baixa ou baixíssima renda, prescinde, indubitavelmente, de qualquer compromisso com as futuras gerações.

No tocante ao meio ambiente, as ações do desenvolvimento em questão, provocam danos irreparáveis: afogam nichos ecológicos inteiros, desviam cursos de rios milenares, matam inúmeros animais e destroem vidas existentes na biodiversidade que não raras vezes sequer chegaram ao conhecimento da ciência. Isso tudo é realizado sob os auspícios do governo e, ironicamente, sob a bandeira da defesa da ecologia.

Diante de tanta irresponsabilidade, nos resta perguntar, a quem interessa esse tipo de desenvolvimento tão danoso a nossa e às futuras gerações?
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