Bem, agora que os filhos acabaram de concluir o ensino médio, chegou a hora de ajudá-los a escolher uma faculdade para que façam aquele sonhado curso que nem sempre têm a certeza definitiva que querem.
Estou falando apenas de ajudar o filho a escolher aquilo que ele deseja, não estou ensejando uma interferência na vontade dele. Nessa hora, surgem as dúvidas: para qual universidade deverei mandar o meu filho? Para a universidade pública ou para a universidade particular?
Como esta é uma conversa que envolve diversos aspectos e pontos de vista, vamos aqui nos referir a alguns deles. A escolha da alternativa certa nos remete à análise de algumas variáveis: o seu filho é um aluno estudioso, tem força de vontade para enfrentar as horas de estudos que a concorrência por uma vaga nas melhores universidades exige? Ele/a já escolheu o curso e a universidade que ele deseja estudar? O curso e a universidade escolhidos têm um bom conceito? O seu filho tem um perfil e aptidão compatíveis com o curso? Se o curso escolhido é de universidade particular, o preço da mensalidade cabe no seu bolso? O curso escolhido é oferecido na universidade pública, com a mesma qualidade da universidade particular? O curso que o seu filho escolheu e tem aptidão coincide com o que você desejaria que ele fizesse? Você é daqueles pais que incentivam o filho a estudar e enfrentar a concorrência, ou é dos que acham que ficar reprovado no vestibular é perder tempo, por isso prefere que seu filho vá direto para uma universidade particular na qual você tem certeza que ele passará, mesmo que esteja mal preparado?
Estas são algumas perguntas que se deve fazer, caso se deseje tomar uma decisão certa, coerente com os princípios que ensejam uma boa educação e uma relação de amizade e respeito entre pais e filhos.
É comum os estudantes profissionais, devidamente antenados com esta particularidade, em decorrência do envolvimento com o momento em que estão concluindo o ensino médio, pesquisarem sobre a importância dos cursos, das universidades, e escolherem o curso que mais se aproxima do seu perfil. Neste caso, ainda que o trabalho dos pais se resuma a dar apoio à ideia do filho, nada impede que se estabeleça um diálogo a respeito da escolha no sentido de verificar a convicção do filho.
Está cada dia mais comum o estilo de pais tô nem aí, ou seja, aqueles pais que colocam os filhos na escola e atribuem a responsabilidade pelo desenvolvimento deles somente aos professores e aos próprios filhos. A filosofia desses pais é: se passar, bem; se não passar eu meto a mão no bolso e pago uma universidade particular.
Há também o estilo Maria vai com as outras. Este tem como filosofia o seguinte: - ah, o filho do meu vizinho fez a universidade particular se formou e o pai já o colocou em tal instituição, por isso eu não vou deixar que o meu filho perca tempo fazendo vestibular na federal.
O estilo poderoso chefão não admite nem discutir o assunto e, ao tratar do tema é taxativo: - já comprei um apartamento na capital e, logo que meu filho termine o ensino médio eu o mandarei pra lá e o matriculo numa universidade particular. Não tem nem conversa, enquanto eu puder, ele não vai perder tempo fazendo vestibular todo ano, afinal, tempo é dinheiro.
O estilo ortodoxo extremista filosofa como se fora o dono da verdade. Fala como se fosse profundo conhecedor de universidades que ele nunca freqüentou, ou pior, quando a freqüentou, se faz de demente e fala como se não a conhecesse. Por isso, nesse último caso, pode também ser chamado de quem te viu quem te vê, porque é sempre categórico ao afirmar: não vou deixar meu filho perder tempo na universidade pública, porque nelas só se sabe quando se entra não se sabe quando sai, porque todo ano tem greve.
O estilo o que que eu sou, se caracteriza pela confusão que o acompanha quando se mete a tratar desse assunto: estou guardando as minhas joias, já fiz uma poupança, estou me preparando para me desfazer da minha casa e morar numa menor, quando o meu filho terminar o ensino médio. Vou vender tudo pra pagar a faculdade dele. Ele fará o curso de medicina na universidade particular. Isto tudo sem ter sequer conversado com o filho sobre o assunto.
Nesse meio também há o estilo Içami Tiba, que é o pai que ama e educa. Por isso está sempre ao lado do seu filho, acompanha-o mesmo quando está distante. Mostra que a sociedade tem regras a serem respeitadas, que tudo que se faz ou se deseja conquistar nesta vida tem um preço. Que toda ação individual deve obedecer limites, que o nosso direito finda onde se inicia o direito do outro. Que a concorrência faz parte da nossa vida desde os primórdios da sociedade. Deixa sempre claro que a relação pais/filhos deve ser de muito diálogo, mas, sem que os pais percam a prerrogativa de pais. A eles cabe a decisão em determinadas horas e durante o interregno em que os filhos estão sob a sua responsabilidade. Apesar disto, mesmo quando ainda sob o domínio dos pais os filhos devem assumir responsabilidades por seus atos e, conforme o efeito do que fizerem serão incentivados, advertidos, punidos, reprovados, aconselhados ou desaconselhados pelos pais.
Neste contexto, pai não tem vergonha de ser pai e filho não tem vergonha de ser filho. Ser filho, sentir-se filho é sobretudo, sentir-se amado, apoiado, querido por seus pais. Nada tem a ver com o pejorativo pagar mico.
Neste contexto, o vestibular é uma porta de entrada para uma nova vida. Uma porta concorridíssima, cuja passagem obedece a critérios, condições postas àqueles que desejam chegar do outro lado da porta – a vida profissional. Só que para chegar do outro lado é necessário que os postulantes à entrada estejam preparados para tanto – está dada a condição. Ao contrário de tantas outras, nesta porta terão prioridade aqueles que tiverem maior bagagem. O acúmulo dessa bagagem não se faz diante da universidade horas antes do enfrentamento da prova; resulta de uma construção longeva que segue o curso de três anos de educação infantil, quatro anos do ensino fundamental menor, mais quatro anos do ensino fundamental maior, e três anos de ensino médio. Esse espaço temporal inclui o papel dos pais de educar e disciplinar os filhos para que estes dediquem parte do seu tempo ao estudo caseiro, preparando lições complementares à escola. Para incentivá-los a leitura, buscando nos livros caminhos até então desconhecidos, que lhes abrirão portas e janelas de conhecimentos que os levarão a abrir outras portas e janelas, inclusive a do vestibular, numa sucessão determinada pelo limite da existência de cada um.
Neste meio está a prática esportiva e competitiva que os ensina os caminhos da vitória e da derrota. Estão também os cursos de língua estrangeira, o despertar do interesse pela cultura: música, pintura, cinema, teatro, poesia, contos, política, economia e outras manifestações culturais.
Seguindo esse curso da vivência educacional, são imprescindíveis a assimilação de princípios éticos, morais, balizadores do comportamento individual e coletivo, Princípios religiosos, de comportamento familiar, de ética e de etiqueta. Da relação com o doméstico, o caseiro, com o externo, com o desconhecido, com as situações conhecidas e com as adversas, inusitadas. Dos princípios formadores/norteadores do caráter intrínseco a cada um. Daquilo nos prepara não apenas para o vestibular, mas para a vida. Aqui se trata de um processo dinâmico no qual pais e filhos são aprendizes e mestres, sempre juntos, coesos, livres e, o mais importante, cônscios do seus papeis. Na relação de estímulo, incentivo, de aprendizado e ensinamento, não faltará respeito, simplesmente porque filhos e pais sabem o que cabe a cada um.
Nesta relação interativa, veja, não tem importância se a faculdade que se vai cursar é pública ou particular. Aliás, isto nem entra em questão, o que interessa é sobretudo a preparação dos filhos. Não está em jogo se os pais têm bom patrimônio ou se são trabalhadores assalariados, o que está em foco é o melhor para o seu filho, cuja escolha a ele cabe. Não se escolhe a faculdade particular por ser de fácil acesso, mas a por ser de boa qualidade. Não se pretere a particular pela pública para simplesmente economizar, mas por que esta apresenta mais qualidade do que aquela. Nesta relação não há espaço para a ostentação, não está em jogo se um é pobre ou se outro é rico, o que se pretende é dar o melhor para o filho. Habilitar mais e melhor os filhos para o mercado de trabalho, para vida. Aqui os pais afogam suas ansiedades para permitir que seus filhos caminhem com suas próprias pernas e aprendam no caminhar coisas que os pais os impedem quando pensando em protegê-los, sobrepõem as suas vontades às deles. E se estamos pensando no melhor, não devemos esquecer que o papel da universidade é produzir conhecimento, interagir com a sociedade, para que os conhecimentos engendrados a partir de pesquisas ali promovidas possam, ulteriormente, servir à comunidade de alguma forma. Universidade não é Shopping Center. Logo, seus cursos não devem ser escolhidos por modismo.
Pais e filhos devem, sobretudo, visar o ensino de qualidade, sem medo, porém do exercício de cidadania que o curso dessa caminha poderá exigir. Essa qualidade deve ser buscada sempre, seja na universidade privada, seja na universidade pública e, sempre que houver negligência de qualquer das partes, o protesto, as reivindicações, as greves serão expressões democráticas próprias deste contexto.
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