O Codozinho tivera outra experiência carnavalesca, com o bloco tradicional Os Intocáveis, cujo líder era o Zeca Pilu, o Henrique Pilu, José Henrique Franco de Sá, filho do saudoso seu Walterloo, que eu chamava respeitosamente de seu Walter. Não sei qual foi o motivo da desmobilização do bloco Os Intocáveis, mas quando eu cheguei lá no Codozinho já não botavam mais o bloco na rua.
Nos anos 1970 o carnaval iniciava cedo na ilha. Lembro-me de um bloco de sujo chamado Os Gaviões (que nada tem a ver com o bloco de mesmo nome que existia no bairro do Lira) que saía do Beco do Gavião, cujo líder era o Chico, figura muito conhecida na redondeza de São Pantaleão (Praça da Saudade, Madre de Deus, Lira, Codozinho, Belira, Vila Bessa). Chico tinha uma oficina de conserto de geladeiras e congeladores. Pessoa pacífica, mansa, fala fina, carismática, Chico juntava toda vizinhança de São Pantaleão no bloco. Fazia um arrastão. Saía de manhã do Beco do Gavião, passava pela Madre de Deus, Praça da Saudade, Rua do Norte, Rua do Passeio e desembocava no Caminho da Boiada, passava pela Vila Bessa, subia a Belira, o Codozinho de Baixo, o Codozinho de Cima, Lira e depois voltava para o seu lugar de origem.
Era manhã do primeiro Domingo de Janeiro de 1974, e nós, jovens do Codozinho de Cima, esperávamos ansiosos pela passagem de Os Gaviões. Queríamos cair na folia e o bloco era bom demais. Mas, ficamos um tanto decepcionados, quando o bloco entrou no Codozinho de Cima e isto nos deixou meio que paralisados, então resolvemos não acompanhar Os Gaviões. Explico. No Codozinho de Baixo, naquela época, havia uma quantidade significativa de jovens usuários da Canabis sativa (maconha, diamba). Esses jovens entraram todos no bloco e o cheiro de mato queimado era grande. Adite-se a isso, entreveros ocorridos entre uma liderança dos jovens do Codozinho de Baixo (Joacy, o chamado Capanga) e naquela época a liderança maior dos jovens do Codozinho de Cima, o Zeca Pilu, ou Henrique Pilu.
Bem, passado o bloco, ficamos ali na calçada de Nanã, nossa saudosa dona Belisa e, entre uma dose e outra, surgiu a ideia de fazermos uma brincadeira do Codozinho de Cima. Mas, como? Henrique ainda tinha uns surdos e contratempos velhos que sobraram do bloco Os Intocáveis; Sérgio Gordo tinha uns primos que lideravam o bloco tradicional Os Vigaristas (se não me engano), um bloco cuja sede era lá na Rua Jansen Müller. Daí, saímos juntando tambores, consertamos uns, fizemos outros mais e a bateria da brincadeira ficou pronta. Veja que, a princípio, a Turma do Saco aderiu ao ritmo dos blocos tradicionais.
E a fantasia? Como íamos fazer uma fantasia assim de última hora? O carnaval estava em cima... Foi então que uma alma luminosa teve a ideia de comprarmos sacos usados para acondicionar trigo, na Panificadora São Luís, e os transformassem em fantasia, que seria uma blusa com as extremidades desfiada e pintada na frente e atrás.
Depois de tudo pronto, o Henrique lembrou que faltava fazer o estandarte do bloco. E, é mesmo... Mas, para ter um estandarte temos que dar um nome... Qual seria o nome? Turma do Saco... Acredito que foi o próprio Zeca Pilu e o João Quim que deram o nome e todos concordamos unanimemente. Acreditávamos ser um nome um tanto revolucionário, diferente e, até involuntariamente, antagônico à denominação da vizinha Turma do Lamê, originária da Vila Gracinha.
Contada assim parece simples, mas, tudo era feito com muita dificuldade e muita garra. Aliás, se tivermos que nomear a maior característica da Turma do Saco, eu diria que é a garra. O povo do Codozinho é, sobretudo um povo aguerrido.
Toda pequena conquista resultava de um imenso esforço coletivo. O bairro que no passado teve brigas entre vizinhos, agora, com a formação da Turma do Saco, despertara uma união enorme entre as famílias. Mãe ou pai que havia, no passado, brigado por causa de brigas entre os seus filhos, agora estava pasmo sem saber o que fazer, porque via o filho do vizinho invadindo a sua casa junto com o seu filho, antes desafetos, agora unidos pela Turma do Saco, em busca de uma ferramenta, ou um material qualquer para o bloco.
Essa era a grande força, o grande capital coletivo da Turma do Saco, a união entre os seus membros. A união era tão grande que contagiou os bairros vizinhos. Era muito bonito se ver a Turma evoluindo na sua organização: bingos, rifas, piqueniques, rodas de samba, bailes, venda de camisas, eram formas que tínhamos de prover o bloco dos recursos financeiros necessários para o carnaval.
Muita gente ajudou. De Os Intocáveis remanesciam vários amigos que ajudaram a fundar a Turma do Saco - Henrique Pilu, João Quim, Reginaldo Raposo (Seu Reco), Nego Sebastião, entre outros. A esses se juntavam César Viegas, Sérgio Gordo, Antônio Carlos BAIMA (o Tontonho), Zeco Quim, Rogério Guaianaz (Ratinho), Reginaldo Guaianaz (Gago), Osvaldo e Inaldo Loureiro, eu, todos os meus primos (Joca, Eliane, Lelé, João, João, Zequinha e os saudosos Sérgio e Burunga,) filhos do saudoso Serrote e minha tia Eunice. Seria bem mais fácil para mim, se dissesse que toda família do Codozinho participava. Mas, eu cometeria erro de deixar implícitos nomes de destaque como o de Francisco ASSIS, Beth, Dedé, Odila, Zequinha Costa, Ezu, Deco, Zeco Quim, Vaninha, Dadinha, Zeca e Maria Bacabal, Odinéia, Fátima Baixinha, Heleno Fournier, Colozinho, Wallace, o saudoso Eliézer, Neném de seu Walter, e tantas outras pessoas que eu vou citar à proporção que eu for lembrando, em outros artigos.
Apesar dos nomes, na verdade, de cada casa toda a família participava. Era legal. A Turma do Saco mal nascia e já tinha uma velha guarda formada pelos nossos pais. Walterloo, Serrote, Seu Valter, Vó Viró (nossa queridíssima saudosa dona Elvira Baima – avó de todo bairro), Almir, Iramar, Jota Alves e tantos outros amigos queridos. Ali estava todo o bairro unido independente da faixa etária, ou quaisquer outras diferenças. A Turma do Saco surgira pra ser o grande movimento do bairro do Codozinho. Algo muito bonito, envolvente, gostoso de participar, fantástico.
Saímos às ruas embalados por sambas e marchinhas compostos por João Quim e, ainda tocávamos em ritmo de bloco tradicional o gostoso carimbó de Pinduca. Comancheira ô ô ô, comancheira ah, ah, ah, vai lá vai lá vai, comancheira vai bailar. Vou ensinar a sinhá Pureza/a dançar o meu carimbo... O pinto quando nasce/ele dorme debaixo da mãe... e assim, saíamos do Codozinho às duas da tarde e retornávamos às duas da manhã.
No outro dia à mesma hora mobilizávamos o Codozinho cantando, Olha a onda oiô, oiô, olha a onda aia, é a Turma do Saco que acabou de chegar... Assim, saíamos de casa em casa de componentes que convidavam o bloco para as visitas domiciliares. Ótimos tempos: bebida e comida fartas e, o melhor de tudo a camaradagem, amizade, consideração. É interessante lembrar que havia pessoas que ajudavam muito, mas não saíam no bloco. Ajudavam por se verem representados enquanto moradores do bairro, ou mesmo simpatizantes do movimento. Por isso, adianto as minhas desculpas a todos cujos nomes não foram listados aqui.
Nos anos 1970 o carnaval iniciava cedo na ilha. Lembro-me de um bloco de sujo chamado Os Gaviões (que nada tem a ver com o bloco de mesmo nome que existia no bairro do Lira) que saía do Beco do Gavião, cujo líder era o Chico, figura muito conhecida na redondeza de São Pantaleão (Praça da Saudade, Madre de Deus, Lira, Codozinho, Belira, Vila Bessa). Chico tinha uma oficina de conserto de geladeiras e congeladores. Pessoa pacífica, mansa, fala fina, carismática, Chico juntava toda vizinhança de São Pantaleão no bloco. Fazia um arrastão. Saía de manhã do Beco do Gavião, passava pela Madre de Deus, Praça da Saudade, Rua do Norte, Rua do Passeio e desembocava no Caminho da Boiada, passava pela Vila Bessa, subia a Belira, o Codozinho de Baixo, o Codozinho de Cima, Lira e depois voltava para o seu lugar de origem.
Era manhã do primeiro Domingo de Janeiro de 1974, e nós, jovens do Codozinho de Cima, esperávamos ansiosos pela passagem de Os Gaviões. Queríamos cair na folia e o bloco era bom demais. Mas, ficamos um tanto decepcionados, quando o bloco entrou no Codozinho de Cima e isto nos deixou meio que paralisados, então resolvemos não acompanhar Os Gaviões. Explico. No Codozinho de Baixo, naquela época, havia uma quantidade significativa de jovens usuários da Canabis sativa (maconha, diamba). Esses jovens entraram todos no bloco e o cheiro de mato queimado era grande. Adite-se a isso, entreveros ocorridos entre uma liderança dos jovens do Codozinho de Baixo (Joacy, o chamado Capanga) e naquela época a liderança maior dos jovens do Codozinho de Cima, o Zeca Pilu, ou Henrique Pilu.
Bem, passado o bloco, ficamos ali na calçada de Nanã, nossa saudosa dona Belisa e, entre uma dose e outra, surgiu a ideia de fazermos uma brincadeira do Codozinho de Cima. Mas, como? Henrique ainda tinha uns surdos e contratempos velhos que sobraram do bloco Os Intocáveis; Sérgio Gordo tinha uns primos que lideravam o bloco tradicional Os Vigaristas (se não me engano), um bloco cuja sede era lá na Rua Jansen Müller. Daí, saímos juntando tambores, consertamos uns, fizemos outros mais e a bateria da brincadeira ficou pronta. Veja que, a princípio, a Turma do Saco aderiu ao ritmo dos blocos tradicionais.
E a fantasia? Como íamos fazer uma fantasia assim de última hora? O carnaval estava em cima... Foi então que uma alma luminosa teve a ideia de comprarmos sacos usados para acondicionar trigo, na Panificadora São Luís, e os transformassem em fantasia, que seria uma blusa com as extremidades desfiada e pintada na frente e atrás.
Depois de tudo pronto, o Henrique lembrou que faltava fazer o estandarte do bloco. E, é mesmo... Mas, para ter um estandarte temos que dar um nome... Qual seria o nome? Turma do Saco... Acredito que foi o próprio Zeca Pilu e o João Quim que deram o nome e todos concordamos unanimemente. Acreditávamos ser um nome um tanto revolucionário, diferente e, até involuntariamente, antagônico à denominação da vizinha Turma do Lamê, originária da Vila Gracinha.
Contada assim parece simples, mas, tudo era feito com muita dificuldade e muita garra. Aliás, se tivermos que nomear a maior característica da Turma do Saco, eu diria que é a garra. O povo do Codozinho é, sobretudo um povo aguerrido.
Toda pequena conquista resultava de um imenso esforço coletivo. O bairro que no passado teve brigas entre vizinhos, agora, com a formação da Turma do Saco, despertara uma união enorme entre as famílias. Mãe ou pai que havia, no passado, brigado por causa de brigas entre os seus filhos, agora estava pasmo sem saber o que fazer, porque via o filho do vizinho invadindo a sua casa junto com o seu filho, antes desafetos, agora unidos pela Turma do Saco, em busca de uma ferramenta, ou um material qualquer para o bloco.
Essa era a grande força, o grande capital coletivo da Turma do Saco, a união entre os seus membros. A união era tão grande que contagiou os bairros vizinhos. Era muito bonito se ver a Turma evoluindo na sua organização: bingos, rifas, piqueniques, rodas de samba, bailes, venda de camisas, eram formas que tínhamos de prover o bloco dos recursos financeiros necessários para o carnaval.
Muita gente ajudou. De Os Intocáveis remanesciam vários amigos que ajudaram a fundar a Turma do Saco - Henrique Pilu, João Quim, Reginaldo Raposo (Seu Reco), Nego Sebastião, entre outros. A esses se juntavam César Viegas, Sérgio Gordo, Antônio Carlos BAIMA (o Tontonho), Zeco Quim, Rogério Guaianaz (Ratinho), Reginaldo Guaianaz (Gago), Osvaldo e Inaldo Loureiro, eu, todos os meus primos (Joca, Eliane, Lelé, João, João, Zequinha e os saudosos Sérgio e Burunga,) filhos do saudoso Serrote e minha tia Eunice. Seria bem mais fácil para mim, se dissesse que toda família do Codozinho participava. Mas, eu cometeria erro de deixar implícitos nomes de destaque como o de Francisco ASSIS, Beth, Dedé, Odila, Zequinha Costa, Ezu, Deco, Zeco Quim, Vaninha, Dadinha, Zeca e Maria Bacabal, Odinéia, Fátima Baixinha, Heleno Fournier, Colozinho, Wallace, o saudoso Eliézer, Neném de seu Walter, e tantas outras pessoas que eu vou citar à proporção que eu for lembrando, em outros artigos.
Apesar dos nomes, na verdade, de cada casa toda a família participava. Era legal. A Turma do Saco mal nascia e já tinha uma velha guarda formada pelos nossos pais. Walterloo, Serrote, Seu Valter, Vó Viró (nossa queridíssima saudosa dona Elvira Baima – avó de todo bairro), Almir, Iramar, Jota Alves e tantos outros amigos queridos. Ali estava todo o bairro unido independente da faixa etária, ou quaisquer outras diferenças. A Turma do Saco surgira pra ser o grande movimento do bairro do Codozinho. Algo muito bonito, envolvente, gostoso de participar, fantástico.
Saímos às ruas embalados por sambas e marchinhas compostos por João Quim e, ainda tocávamos em ritmo de bloco tradicional o gostoso carimbó de Pinduca. Comancheira ô ô ô, comancheira ah, ah, ah, vai lá vai lá vai, comancheira vai bailar. Vou ensinar a sinhá Pureza/a dançar o meu carimbo... O pinto quando nasce/ele dorme debaixo da mãe... e assim, saíamos do Codozinho às duas da tarde e retornávamos às duas da manhã.
No outro dia à mesma hora mobilizávamos o Codozinho cantando, Olha a onda oiô, oiô, olha a onda aia, é a Turma do Saco que acabou de chegar... Assim, saíamos de casa em casa de componentes que convidavam o bloco para as visitas domiciliares. Ótimos tempos: bebida e comida fartas e, o melhor de tudo a camaradagem, amizade, consideração. É interessante lembrar que havia pessoas que ajudavam muito, mas não saíam no bloco. Ajudavam por se verem representados enquanto moradores do bairro, ou mesmo simpatizantes do movimento. Por isso, adianto as minhas desculpas a todos cujos nomes não foram listados aqui.
5 comentários:
so esquecestes q Wallace foi um dos fundadores(a concentraçao era da calcada de Pilu ate lá em casa, reuniaoes que iam até na madrugada e so terminava quando D. Jove botava todos pra dormir p q ja era tarde da noite) e ainda tocava retinta, hj é o neto George Filho, tocando o mesmo instrumento na turma do saco
Sandra
compadre,com tanta informação, vejo que dai pode sair o próximo tema samba,para o carnaval de 2012.vai ser fantástico há TURMA DO SACO contar sua propia Historia.
Luiz, fala um pouco do Messias Rabelo, o Messias Peru.
RSRSSSR.
Messias Peru foi o maior dançarino de bolero que São Luis conheceu.Só andava impecavelmente vestido, de preferencia paletó de linho belga branco, engomado com goma matarazzo.Sou Nonato Cavalcante, sou do tempo em que o saudoso seu Gonçalo distribuia pão no dia de Santo Antonio e Zé Pedrada vestido de fofão assustava as crinçascomsuas mascaras horriveis.
Tenho a maior satisfação em dizer que sou um dos fundadores da Turma do saco e dizer também que a Turma do Saco nasceu de uma quadrilha junina da qual eu era o gritador e o padre.
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