domingo, 29 de maio de 2011

Codozinho: o lugar e as suas personagens

Seu Gonçalo. O Pão de Santo Antônio, o pão de seu Gonçalo. Lembrar de seu Gonçalo é lembrar do pão de Santo Antônio. Dia 13 de junho, Lá vinha ele descendo o Codozinho, com um saco de pão distribuindo Codozinho abaixo. A meninada toda se assanhava, gritando o nome daquele velhinho bondoso, com cara de Santo, distribuindo o pão de Santo Antônio, ou o pão-de-santontonho, como chamava a meninada daquela época.
- Seu Gonçalo, seu Gonçalo, um pra mim – Gonçalo atendia a criança e logo ela dizia:
– mais um pro meu irmão. E Gonçalo o atendia novamente. Descia Codozinho abaixo com o saco cheio de pães, distribuindo-os feito a boa árvore frutífera que dá os seus frutos sem escolher a quem. Assim era Gonçalo a distribuir os seus pães-de-Santo Antônio. Crianças de toda índole, de todas as cores, de todos os credos, de toda estirpe eram dignas do pão do seu Gonçalo.
Gonçalo era morador do Codozinho, depois se mudou lá para a Rua de São Pantaleão onde tinha comércio. Era um homem do qual todos só falavam bem. Um homem calmo, simples, discreto, de grande credibilidade, muito benquisto e admirado por todos codozinhenses dos 1970.

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Francisco Bahia, o nosso querido Chiquinho Bahia
No momento hodierno, quando assisto na televisão essa nova-antiga moda de humorista apresentar diante da platéia textos humorísticos, logo me vem à mente a lembrança de Chiquinho Bahia. Chiquinho Bahia é um humorista nato, tem o dom de falar coisas engraçadas, ou de dar um tom satírico em determinados fatos sociais.
Chiquinho Bahia era capaz de deixar-nos hipnotizados durante horas a sorrir das suas narrativas sobre fatos ocorridos no bairro do Codozinho, com pessoas do Codozinho, ou quaisquer outros fatos de repercussão social, econômica, política, ocorridos no território nacional. Ficávamos ali, na calçada de dona Belisa uma tarde inteira sorrindo das piadas e dos fatos sociais contados na versão humorística de Chiquinho Bahia.
Francisco Bahia é um homem das letras, bom papo, sempre muito bem humorado. Quando jovem, era arguto, mulherengo, galante. Falava um português brilhante, acima da média dos jovens codozinhenses. Foi um participante ativo do Mojore – Movimento Jovem Renascença.
Como falei anteriormente, Chiquinho é de fato uma pessoa das letras, cronista social de requinte singular, poeta notável, de fina estirpe. Suas poesias ocuparam várias páginas de periódicos e livros dos anos 1970 e 1980. Pena que esse poeta ainda não nos brindou com um livro de poesias. São muitas, de boa qualidade e em quantidade suficiente para fazer um excelente livro.
Francisco Bahia não fez parte da Turma do Saco, mas foi uma presença nos primórdios da construção da sede. Ajudou na limpeza do terreno, bateu bola ali conosco e sempre passava lá para bater um papo com a rapaziada. Sua opção evangélica o mantinha distante dos carnavais, preferia participar dos retiros com os correligionários da Igreja que frequentava. Na sua vida, o limite entre o profano e o sagrado foi sempre um dilema mal resolvido.
No bairro, as pessoas tinham o hábito de cumprimentar as outras de longe. Passavam do outro lado da rua e praticamente gritavam. Era costume alguém passar e de longe gritar:
- E aí Chiquinho, como vai? E ele respondia também em alto som
– Passando... e só para os que estavam perto ele dizia:
– A mão na sua bunda seu fdp. E todos, é claro, sorriam muito.
Numa noite de sábado, como era de costume, a turma no bairro saiu a procura de uma festa. Alguém havia falado que numa casa na Belira ou Vila Bessa havia um aniversário de 15 anos. Resolvemos entrar de penetra e o bom penetra não pode dar pinta, vai chegando e entrando como se fosse o próprio dono da festa. Assim procedemos, Chiquinho Bahia à frente e todos os outros rapazes o seguiam. Deparamos com um porteiro que nos solicitou o convite e, claro, não tínhamos e o porteiro disse: - só entra com convite. Quisemos argumentar, mas não logramos êxito e ficamos todos na porta da festa na maior cara de pau.
De repente, ouvimos um grito – Bahia, Bahia..., era um amigo de Chiquinho Bahia, que o conhecia do Colégio Ateneu Teixeira Mendes. Chiquinho, gentilmente, correspondeu ao cumprimento e o amigo chegou bem perto dele e disse: - O que você faz aqui na porta? Por que não entrou na festa? Chiquinho, educadamente, respondeu: - É... nós até que tentamos, mas o cara da porta nos impediu. O amigo do Chiquinho disse, um tanto espantado - o quê? Como pode fazer isso com um amigo meu, na minha casa? Chamou Chiquinho e os demais, colocou todos para dentro da festa e tirou o porteiro do cargo. Esse fato foi comentado no Codozinho por muito tempo.
Chiquinho Bahia tem hestórias e está vivinho para contá-las e nos brindar com o humor que lhe é característico. Enquanto morou no Codozinho, contribuiu para que o bairro fosse mais alegre e mais culto. Contou hestórias engraçadas, escreveu esquetes, peças teatrais, músicas e poesias, mas é pelo bom humor que eu o saúdo com um forte abraço.

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José Henrique Franco de Sá, Henrique Pilu, Zeca Pilu, ou Zé Cabeça. Esse cara tem hestória. Henrique foi um destacado líder do bairro do Codozinho. Ele fundou o bloco carnavalesco tradicional Os Intocáveis, os times de futebol de salão América e depois o Benfica. Fundou o time de várzea que se chamava Clube do Remo e, foi um dos principais fundadores da Turma do Saco e ainda o primeiro presidente do bloco. Pilu era o cara.
No Codozinho dos 1970, 1980 e 1990 não houve movimento em que Henrique não fizesse parte.
Poderíamos dizer que Henrique fez parte da primeira geração brilhante que o Codozinho teve. Dela fazia parte também: Francisco Bahia, Roberto, Negro Sebastião, João Quim, o saudoso Eliezer, Joca, Reginaldo Raposo (Seu Reco), Wallace, Baima (Totonho), Joca de Serrote, César Viégas e tantas outras pessoas. Foi essa geração que participava do bloco Os Intocáveis e dos times de Futsal, Benfica e América.
Essa geração também fez parte do time de várzea Clube do Remo, mas nesse momento uma outra geração chega à adolescência e passa a exigir maior participação na vida do bairro.
Desde então a geração de Henrique Pilu passa a ser identificada, pela geração emergente, como “a panelinha”. Daí em diante, fosse nas peladas da Areinha ou do centro esportivo do Colégio Maristas onde jogávamos bola, fosse na Turma do Saco, os novos exigiam participação, maior participação.
Barreiras foram quebradas de forma pacífica e consensual. Tanto no futebol quanto no carnaval mesclaram-se as gerações e o movimento comunitário ganhou enorme substância de felicidade. O Clube do Remo tornou-se um time de várzea quase imbatível. Na Areinha, ganhamos todos os torneios e campeonatos que participamos.
No tocante ao carnaval, a Turma do Saco ganhou novos talentos, novas idéias e, consequentemente, visibilidade no âmbito do carnaval maranhense. A sede da Turma do Saco passou a ser palco de grandes eventos sociais. Festas dançantes com as melhores bandas musicais da cidade. Disputa de samba enredo, comemorações natalinas, dias das mães, dia dos anciãos, rua de lazer e inúmeros eventos.
Foi um momento em que a presença feminina fez uma enorme diferença na organização do bloco. Beth, Maria Bacabal, Odila, Vaninha, Odineia, Dadinha, Eliane de Serrote, Dedé, Lourimar, Tereza de Bebé e inúmeras outras figuras contribuíram fortemente para o crescimento da Turma do Saco.
Henrique deixou de ser presidente do bloco, mas nunca deixou de ser uma pessoa influente e respeitada por todos. Um outro movimento, ou melhor evento da Turma do Saco e do Codozinho que Henrique participou ativamente, foi o jogo entre solteiros e casados, que acontecia uma vez por ano, logo no início do ano. Esse evento tomou uma dimensão imensa a ponto de tornar-se uma tradição. Contudo, após algum tempo o evento foi esquecido e esse feliz e disputado encontro nunca mais aconteceu.
Henrique é uma pessoa da qual não se pode prescindir quando falamos da hestória do Codozinho sob pena de deixá-la sem a devida riqueza de fatos sociais brilhantes.
Obrigado por comentar.

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