Eu
estava atendendo a uma cliente e na minha mesa havia um santinho de um colega
de serviço que está candidato a vereador em Santa Inês. A moça olhou e
perguntou se era o meu candidato. Eu disse que era um colega de serviço e que
se tratava de uma pessoa íntegra e bem intencionada, contudo eu não ia votar
nele, pois, eu voto em outra cidade. Então veio a pergunta: - Esse candidato aí
é bom de dinheiro? Respondi que não sabia, pois não tenho qualquer relação de
troca com ele. Somos colegas de serviço e nossa relação não é mercantil. Depois
não pude sufocar a vontade de sorrir, tive mesmo uma crise de riso.
As
pessoas em volta, também começaram a sorrir, mesmo sem saber por que, mas
apenas porque eu sorria – era o chamado efeito dominó.
Naquela
conversa estava fortemente colocada uma prática coletiva da relação
políticos-candidatos/eleitores de baixa renda, no Maranhão e no Brasil, o tal
“toma lá, dá cá”.
Hoje,
candidatos a prefeituras e câmaras de vereadores acreditam menos na mobilização
do povo por meio de um plano de ações e mais pela compra do voto.
Morei
em outro estado, numa cidade onde havia um político, muito querido ali, que
dizia que enquanto naquela cidade tivesse cachaça e gente sem vergonha ele não
perdia eleição.
Recentemente,
um amigo que é candidato numa cidade maranhense e já foi eleito cinco vezes, me
confidenciava: “Desta vez, não faço cartazes, santinhos, outdoor, ou qualquer
tipo de propaganda, vou apenas visitar as pessoas, as famílias e me prover de
grana para os dias próximos da votação”. Disse-me, ainda, do quanto precisava
para ganhar a eleição. Falou sobre o preço dos votos e como era abordado pelos
eleitores às vésperas e no dia da eleição.
O
que subjaz a essa prática de compra e venda de votos? É um descompromisso total
com a política propriamente dita, com a polis,
com a coisa pública. Uma vez mercantilizada a vontade popular, o sufrágio, o
candidato logo que eleito sente-se sem qualquer obrigação diante do eleitorado.
O compromisso coletivo com a saúde, a segurança, o saneamento básico, a
moradia, a cultura, o meio ambiente, a educação e tantos outros, fica, a propósito,
negligenciado, deixado em segundo plano, pois, os eleitos passam a ter como
foco principal os seus próprios interesses.
Nos
dias hodiernos, está cada vez mais em uso a candidatura hipotecada. O que
significa isso? O candidato populista que ludibria o povo e vê-se diante da
possibilidade de ser eleito prefeito, entretanto não possui dinheiro para
bancar a campanha. Esse sujeito, de posse de resultados de pesquisas e outras
evidências que apontam para a possibilidade da sua eleição, procura capitalistas
que o bancam, emprestando-lhe dinheiro a juros exorbitantes que deverão ser
pagos logo que ele for eleito. Quando eleito, com o mandato hipotecado, o
prefeito fica totalmente impossibilitado de administrar o município, uma vez
que toda a verba que recebe é, ora desviada para pagamento da dívida de
campanha, ora desviada para suprir vaidades que emanam dos seus interesses particulares.
Essa prática nefasta é a causa que agudiza a miséria, a precariedade das
cidades e de municípios inteiros. Adite-se a isso o enriquecimento ilícito.
A
ignorância que mercantiliza o voto é alienada e alienante a ponto de não ter
qualquer capacidade de se mobilizar contra as irregularidades políticas que
afetam a vida pública, a cidade. Disto, dentre outras coisas mais, resulta a
imobilidade reivindicatória que se prostra diante de uma realidade nauseante em
que toda uma elite eleita para representar o povo encontra-se em pleno
julgamento, com toneladas de provas indicativas de roubo do dinheiro público e
até o presente momento ninguém foi levado à prisão.
Nosso país precisa de um choque de moralidade, mas
isto jamais acontecerá se as pessoas decentes não se manifestarem, não se
indignarem contra esses atos de mau alvitre que são cometidos por pessoas inidôneas que se locupletam de cargos públicos para o exercício de
falcatruas prejudiciais ao povo. É necessário combatermos a comercialização voto
popular que incentiva a dádiva particular em detrimento do compromisso
coletivo.
Obrigado por comentar.
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