Jamais me esqueci do momento em
que estávamos no Laborarte, em 1979, em um encontro dos (posteriormente)
fundadores do Centro de Cultura Negra com o então professor José Carlos Saboia.
Naquele instante, liderados por Mundinha Araújo, conversávamos sobre a nossa
experiência com o racismo no Brasil. Algumas pessoas emocionadíssimas falaram
de situações em que sofreram discriminação racial, ao mesmo tempo em que
mostravam muita vontade de mudarem a situação, com fundamento na história do negro
no Brasil.
Após ouvir os depoimentos de
várias pessoas, José Carlos Saboia num sinal de apoio a iniciativa do grupo,
nos disse uma frase que eu jamais esqueci: “O povo que não conhece a sua
história está fadado a perecer”. Ali o grupo sentiu que estava no caminho certo
ao priorizar como uma das diretrizes, aprofundar o conhecimento sobre a
história do negro no Brasil.
Ontem (19/08/2013) fui chamado à
sede da Mocidade Independente Turma do Saco - MITS, entidade carnavalesca,
classificada na categoria de bloco organizado. Na oportunidade, jovens
dirigentes do bloco, liderados por Márcio Cavalcante, Rosário Costa e o
deputado José Roberto Costa, convocaram antigos componentes fundadores para
conversarem sobre a comemoração dos 40 anos de fundação da MITS que será no
próximo ano.
Encontros como esse são sempre
eivados de emoção, imaginem eu encontrar com o Zeco Quim, pessoa amada, um
irmão, com a qual eu compartilhei a composição de vários sambas vitoriosos da
Turma do Saco. É mais que uma alegria, é algo muito prazeroso. Isto falando só
do Zeco, mas, além dele, encontramos amigos das antigas como Rogério e
Reginaldo Guaianaz, Henrique Franco de Sá (Zeca Pilu), Darlan, Chiquinho Baía, Basinho
Viégas Guimarães e muitos outros cujo encontro sempre nos propicia muito júbilo.
Chama à atenção a vontade destes
jovens, em parceria com os antigos fundadores da Mocidade Independente, de
compilar e sistematizar documentos históricos da entidade. Nesse sentido,
mostraram-se inclinados a fazer um registro fonográfico com todos os sambas
campeões levados à avenida pela entidade; uma revista que resgate momentos
históricos da linha do tempo da entidade, para a qual estamos solicitando a
todo/a e qualquer componente novo ou antigo que puder colaborar com
fotografias, reportagens jornalísticas, quaisquer outros documentos que tenham
um pouquinho da História da Turma do Saco, que empreste à diretoria atual para
que a mesma possa elaborar um estudo consistente; e ainda, um documentário que
resgate a conjunção de momentos dos desfiles da Turma do Saco nos carnavais de
São Luís e depoimentos de ícones cuja vida se confunde com a história dessa
entidade carnavalesca. Acreditamos que as empresas de comunicação de São Luís têm
enorme capacidade de colaboração para o enriquecimento da ilustração da
história deste bloco organizado. A Rádio/TV Difusora, a TV Educativa, a
Rádio/TV Mirante e as demais empresas do ramo têm, sem dúvida, muitos momentos
preciosos de vídeo/filme da Mocidade.
Da mesma forma, os jornais da
cidade: O Jornal Pequeno, O Estado do Maranhão e o Imparcial, principalmente.
Torço e colaborarei no que for
necessário para que o projeto dessa nova diretoria se concretize com consistência.
Zé Roberto e Márcio foram criados no Codozinho, sempre participaram da Turma do
Saco. Fizeram parte da bateria mirim que foi treinada por Rogério Guaianaz e
Laurindo Teixeira. Este, aliás também emergiu da bateria mirim, da qual fez
parte na Elesbão (Lelé de Maria Maçarico), Valber Pô, Zé Maria de Serrote,
Acrísio, Robson, Fussura, Marquinhos, Xororó, Basinho e tantos outros
percussionistas que no período que vai de meados dos anos 1980 aos anos de 1990,
compuseram a que eu reputo como a melhor bateria que a Mocidade Independente
Turma do Saco já teve nestes quase 40 anos de existência.
Trata-se de um projeto de
considerável envergadura, contudo, se a comunidade codozinhense/sacolense for
devidamente mobilizada vai faltar serviço para tantos obreiros. Conheço os
amantes da Turma do Saco e, estes quando estão motivados são capazes de
verdadeiros milagres. Estou exagerando? Não, não estou. Basta lembrarmos do ano
em que a Turma do Saco foi campeã com o tema A Fonte do Ribeirão. Naquele ano
padecíamos com a falta de um artista plástico, um carnavalesco que fizesse as
carrancas da referida fonte, quando estávamos quase ao desespero, o nosso
saudoso Babá chamou a responsabilidade para si e fez um trabalho de altíssima
qualidade – lindo! Nem precisa repetir qual foi o resultado. Só a título de
ajuda-memória, durante o desfile na passarela a nossa alegoria quebrou e de
imediato o nosso pessoal, que o nosso saudoso Serrote chamava de A Barreira do Som,
segurou o carro no pulso e os jurados sequer perceberam do que se tratava. O
nosso querido Preto Cunha foi um dos liderou todo esse processo.
Ontem, a partir das falas de Márcio Cavalcante,
do Zé Roberto e de outros jovens presentes na reunião na sede da MITS, eu
percebi a motivação que levou esses jovens não deixarem que a Turma do Saco se
perdesse no tempo, sucumbisse. Foi o fato de lutarem permanentemente pela
preservação dos marcos históricos que nortearam as suas infâncias, a vida em
comunidade que marcou fortemente as nossas vidas, que se confunde, enfim com a
história de um bairro inteiro. É essa história que haveremos de concatenar num
registro singular para que futuras gerações, com fulcro nela, possam dar
continuidade a esse projeto grandioso que iniciou com a união de um punhado de
jovens amigos moradores do bairro do Codozinho. Obrigado por comentar.
Um comentário:
Fico orgulho quando vejo a história de nossa Instituição ser contada por quem realmente esteve presente desde o início, fazendo também a história de sacrifício de uma geração sofredora, que teve a capacidade de mudar para melhor, o caminho de muitas vidas. Parabéns a nossa geração. A Turma do Saco que havia sido idealizada e criada por nós com a finalidade de diversão, a sua história caminhou por unir famílias, como dissestes em escrito anterior, e muito principalmente pela concretização de unir corações, tais como: namoros, noivados e casamentos.
Meu Irmão, Luiz Fernando (prego), a Turma do Saco como Instituição Carnavalesca, na década de 80, impôs respeito as Órgãos responsáveis pela Administração do Carnaval e as Brincadeiras coirmãs, devido, sem sombra de dúvidas, à qualidade das letras e melodias dos sambas que fizestes juntamente com ZECO QUIM. Na minha visão, sem medo de errar, vocês dois escreveram uma história de luta, de respeito aos jovens do codozinho, de música e de premiação consecutiva de samba em São Luís, pois nos últimos 40 anos, acredite, foram os maiores vencedores.
Continue escrevendo, pois somente falando de nossas raízes, manterás viva a chama dessa abençoada Turma do Saco, bem como a de nossa Comunidade. Que o Grande Arquiteto do Universo te ilumine.
Rogério Guayanaz.
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