sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

As chuvas do Brasil

Desta vez são os estados do Espírito Santo e Minas Gerais com municípios submersos, com suas ruas inundadas, comunidades inteiras desabrigadas, milhares de famílias abrigadas em escolas, igrejas, clubes e outros prédios de uso coletivo. Governos estaduais e municipais habilmente declaram estado de calamidade pública. A presidente Dilma foi rápida na resposta, criou um cartão de crédito destinado às despesas imediatas para a recuperação dos municípios atingidos.
Até aí, da parte das autoridades brasileiras, nada errado. São irmãos brasileiros atingidos mais uma vez por uma catástrofe natural e, por isso, são merecedores de toda nossa solidariedade. Afinal, todos estamos, de alguma forma, sujeitos a este tipo de acidente, ainda mais quando se trata de algo que se repete país a dentro, ano após ano e nós não procuramos tirar qualquer lição dos erros que implicam a ação humana que de alguma forma colabora para que esses desastres se repitam cada vez mais intensos no que respeita ao poder de destruição que eles têm.
Maranhão, Rio de Janeiro, os estados nordestinos que compõem o chamado polígono das secas e tantos outros mais, já sofreram os efeitos desastrosos das intensas chuvas de final e de começo de ano. Lembram-se da música que Fagner e outros cantores cantaram falando sobre a “seca d’água” no ano que o Nordeste brasileiro, sempre atacado pelas secas, sofreu os efeitos das intensas chuvas cujos resultados foram tão ou mais desastrosos que a seca, uma vez que as chuvas caíram numa intensidade tamanha, num curto espaço de tempo, tendo um efeito arrasador de modo que em nada beneficiou aquela região historicamente tão marcada pelos efeitos das secas?
Fala-se que Euclides da Cunha antes de viajar para cobrir a guerra de Canudos, passou no Ceará e ali leu tudo sobre a escassez de chuvas no Nordeste, leu todos os discursos do senador Pompeu a respeito do assunto. Na Bahia, ele teve acesso às informações meteorológicas existentes na época e estudou o que havia de mais atual sobre a antropologia do povo nordestino, com o qual ele ficou tão impressionado que o tratou em seus escritos como se fosse verdadeira etnia. É certo que desde sempre se tem informações técnicas sobre as causas e os efeitos das secas e, o mesmo se pode dizer das inundações provenientes das fortes chuvas que caem de dezembro a abril nas diversas regiões do país. Também não podemos negar o esforço técnico de bons brasileiros engendrando as mais diversas alternativas de combate à seca e, isto também é verdadeiro quando nos referimos às inundações.
Os recursos alocados para combater a seca no Nordeste e as inundações nas diversas partes do país não são poucos, contudo, o mesmo não se pode dizer do montante que, de fato, chegou ao seu destino. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do semiárido ao longo dos anos tem contribuído bastante, disponibilizando tecnologias que amenizam os efeitos da seca nessa região. Universidades e ONG’s também têm realizado pesquisas e experiências nesse sentido. O que falta mesmo é a honestidade para que as autoridades destinem a totalidade dos recursos dirigidos ao combate das catástrofes naturais nas ações demandadas pelas áreas atingidas. Que sejam verdadeiramente empregados nas ações imediatas e naquelas de médio e longo prazo cujos efeitos também são mais duradouros.
Precisamos nos espelhar no exemplo do Japão, apesar de termos experiência de sobra com os problemas que nos afligem. E, pelo tempo que os sofremos, se empregarmos honestamente os recursos que temos disponíveis para tanto (financeiros, tecnológicos, humanos), não tenho dúvidas que esse país, mais do que nunca, se tornará um exemplo universal a ser seguido. Acredito muito no meu país, tenho a esperança que o efeito Joaquim Barbosa haverá de inibir a prática de patrimonialismo dos recursos públicos, para que os irmãos atingidos pelas catástrofes naturais sejam devidamente atendidos e tenham as suas vidas restauradas, apesar de todas as perdas que experimentaram.

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