Ainda sob a ressaca do
Natal entro na internet e está lá “Inter chega a acordo e tira Dida do
arquirrival Grêmio”. Mas, o que aqui interessa não é a rivalidade existente
entre o Inter e o Grêmio, não é o salário que o Dida irá receber, nada disso. O
que a reportagem destaca é a idade do Dida, 40 anos. O currículo ou a ficha
técnica do Dida também não é algo que dá para passar despercebido, ao
contrário, o goleiro tem uma história de vida invejável, coisa de craque.
No futebol é raro um jogador
chegar aos 40 anos jogando em alto nível, até porque há entre eles uma postura
ditada por um tácito código de conduta consuetudinário, que diz ser melhor
deixar os gramados quando ainda se está jogando bem, pois assim a imagem que
fica para os torcedores é a do craque bem sucedido, que deixou o futebol
jogando um bolão; caso contrário, a lembrança será a do jogador decadente que
persiste em jogar, contudo os clubes já não lhe abrem mais as portas para o
exercício da profissão, daí a aposentadoria compulsória.
O caso Dida não é único na
história do futebol brasileiro. Manga, um dos maiores goleiros que o Brasil já
teve, jogou muita bola até essa idade que no futebol brasileiro chega a ser
considerada um absurdo. Dida voltou da Europa e jogou uma temporada na
Portuguesa de Desportos, mas, logo em seguida foi para o futebol gaúcho jogar
no Grêmio. Ali fez uma temporada razoável e agora muda-se de malas e cuia para
jogar no maior rival do Grêmio, o Internacional.
Dida é um jogador
brasileiro bem sucedido. Comedido, nunca se envolveu com o modismo
espalhafatoso, não procura chamar a atenção da mídia pelo corte do cabelo ou
pelo carro internacional caríssimo. Ao contrário, calmo, quase sisudo, passaria
até despercebido, não fosse a sua qualidade de grande goleiro.
Para além de tudo que já
foi dito aqui, Dida não está numa condição financeira ruim, querendo caçar
níquel em qualquer clube de futebol. Dida quer jogar e jogar bem. Sabe da
responsabilidade que tem um profissional que joga na posição que ele joga. Sabe
que o exercício da profissão exige que o goleiro tenha bom reflexo e uma
elasticidade felina. Por isso, a ele, o goleiro, é dispensada atenção especial,
o que implica em treinamento árduo, intenso, específico, duro. Entretanto,
mesmo assim o craque insiste em permanecer na ativa. Por quê? Porque Dida,
sobretudo, ainda tem condições física, psicológica, emocional para continuar
defendendo grandes clubes de futebol, em alta performance. Eis no que consiste
o gol de Dida. Sem qualquer pretensão ou necessidade, Dida dá a sua
contribuição para quebrar esse tabu que dita que a carreira de um jogador acaba
com o limite da idade (32 até 36 anos). Dida com o seu magnífico gesto vem nos
mostrar que o que determina o exercício de uma profissão não é necessariamente
a idade, mas a sua condição física e, ou intelectual para exercê-la e, claro, o
seu tesão para enfrentar a rotina diária de um profissional, que no caso dele
são treinos, concentração, viagens, jogos, intensa cobrança de resultados da
parte da torcida, técnicos e dos dirigentes dos clubes.
Não sou torcedor do
Grêmio, nem do Internacional, aliás, o único time que o Dida jogou que eu torço
é a seleção brasileira. Todavia, confesso que no momento, pelo feito, eu desejo
muito sucesso ao Dida pelo golaço que ele faz ao exercer a sua profissão com
condição, responsabilidade, serenidade, entre outras qualidades que lhes são
próprias. Salve Dida! Golaço!
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