Hoje, quando eu me dirigia para o
trabalho coloquei um disco de música negra que poderia chamar aqui de música
negra ancestral, se me permitem. Moçambique, tambor de mina, tambor de crioula,
reisado, toque do Divino Espírito Santo, coco, entre outras. Comentava com o meu
filho, Paulo César, que mesmo sem eu ser um profundo conhecedor da história do
samba, me arriscaria a duvidar que este seja originário de um único ritmo
ancestral, como o Jongo, por exemplo.
No alguidar de variedades de
músicas negras ancestrais existe um sem número delas com um formato de versos e
refrãos em que o partido alto se assemelha muito. E, pela forma como o povo
negro foi distribuído e adaptado no território brasileiro crê-se que essa
variedade de ritmos e danças emergiu conforme as condições sociais de cada
ambiente em que esse povo vivia.
Instrumentos foram forjados em
consonância com as condições objetivas de cada grupo social. Couro, madeira,
ferro, vísceras de animais e tantos outros materiais encontrados em cada
ambiente foram transformados em instrumentos musicais utilizados na elaboração
dos mais diversos sons. Cabaças foram cobertas com os frutos de Santa Maria
para harmonizar-se com os sons de
retinta feita de ferro e coberta com couro de gato, cuíca, tambor onça,
pandeiro e pandeirão, agogô, tambores de madeira e couro, como os do tambor de
crioula, ou as caixas do Divino, maracá, reco-reco, rabeca, castanhola (como as
do Lêlêlê, ou Pela porco), dos mais diversos materiais.
O tempo encarregou-se da
diversidade, e desse instrumental forjaram-se sons que foram fundidos à poesia
em suas várias formas e nuances, feitas para cantar, sobretudo a vida e tudo
mais que dela decorre. Creio que nessa variedade já existia, assim como um
gene, gotas de samba intrínsecas no sumo cultural desse mostro que se
vivenciava a cada festa de santo, nas brincadeiras ou lazer das comunidades. Em
se tratando de Brasil, é difícil não imaginar a mistura que os diversos povos
que colonizaram esta terra propiciaram. É difícil distinguir quem não foi
influenciado por quem.
O samba é produto desse suco
pisado e amassado no alguidar Brasil, com a influência inegável dos
portugueses, que trouxeram do Norte de Portugal o nosso harmonioso cavaquinho.
Almir Guineto aquiesceu a ideia do saudoso Mussum e adaptou o banjo
(desenvolvido por escravos mexicanos e adaptado à música americana como o Blues
e o jazz) à harmonia do samba, como recurso capaz de sobressair-se ao volume
percussivo comum nas rodas de samba. O violão, a exemplo, do cavaco, também
veio da Europa para temperar essa música maravilhosa. Se estudarmos a história
do samba, perceberemos que em sua linha do tempo variados tipos de tambores
entraram e saíram da sua formação, ora nos terreiros, ora nos salões.
Uma música feita assim não
poderia ser diferente no que respeita a variedade dos tipos de samba criados.
Com o tempo viu-se o samba de diversificar em formatos como: samba canção,
samba de enredo, samba de breque, samba sincopado, samba de gafieira,
sambalanço, bossa nova, sambas de carnaval, partido alto, samba de roda da
Bahia. No Maranhão, temos ritmos inigualáveis como o samba dos blocos
tradicionais e o samba dos Fuzileiros da Fuzarca.
O samba tem ritmos e história que não cabem em
um só artigo, nem eu tenho essa pretensão de fazer aqui uma abordagem com uma
abrangência tão pretensiosa, mas apenas uma forma de homenagear essa música que
nos inspira, serve de lenitivo para as dores da vida, nos diverte, nos alegra,
enfim faz a nossa vida mais gostosa, mais prazerosa. Nada mais correto do que
homenagear essa música. Por tudo que esse ritmo é, viva o samba.Obrigado por comentar.
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