De repente eu telefono para
um amigo e soube que a Turma do Saco estaria passando por uma daquelas fases
lamentáveis comuns em blocos organizados ou organizações comunitárias da mesma
estirpe.
Márcio Cavalcante,
responsável pela reabilitação da TS estaria deixando o cargo de presidente e
passando a faixa para outros amigos numa zona de desconfortável contentamento, embora
seu discurso não denote isso. Lamentei, lamento, sinto muito pelo que está
acontecendo. Um comandante não pode deixar o seu batalhão às vésperas de uma
batalha, da mesma forma que não fica bem para um presidente abandonar o seu
bloco às proximidades do carnaval. O certo é colocar o bloco na rua e,
independente do resultado, convocar a eleição, dar curso ao processo eletivo e
passar a faixa e os bens patrimoniais à pessoa escolhida pela Assembleia Geral
para comandar o bloco.
Márcio Cavalcante e o Zé
Roberto seguraram a barra quando o bloco estava numa situação difícil. Fizeram
o bloco chegar aos 40 anos com uma apresentação ao nível da tradição sacolense.
Quem já presidiu uma agremiação carnavalesca sabe do quanto se precisa de
ajuda, da participação da comunidade, da parceria de cada integrante, da
cumplicidade da comunidade. Enfim, esta é uma empreitada em que toda ajuda é
pouca, levando-se em conta que a causa que nos faz levar o barco para a frente
não é outra senão o amor pela TS.
Por tudo isso, cabe-nos
fazer esse tipo de transição de forma pacífica, respeitosa e, na medida do
possível, amigável. Assim, as pessoas deixam o cargo, mas não deixam o bloco e,
isso é salutar. Quando isto acontece o/a presidente futuro/a poderá contar com a
ajuda e a experiência do seu antecessor.
Não sei o quanto a minha
participação na TS a marcou, mas sei do quanto eu estou para sempre marcado
pela História da Mocidade Independente Turma do Saco e pela minha passagem no
bairro do Codozinho. Nela eu fiz amigos, irmãos, aprendi a trabalhar em equipe,
aprendi o sentido de ser comunidade, a importância de exercer a cidadania em
sua plenitude e, sobretudo, a respeitar os limites das pessoas que nos cercam.
Nela eu aprendi a perder com dignidade e, quando da vitória, ser parcimonioso
na comemoração. Aprendi ainda, que cada entidade concorrente é uma agremiação
irmã, com problemas, aspirações, necessidades comuns as nossas.
Hoje, eu encontro com amigos compositores e
muitos deles me contam com orgulho que ganharam o samba enredo em bloco tal, ou
na escola tal e eu participo da alegria deles e os admiro muito pelas
maravilhas que fazem e pelas pessoas que são.
Se pelos sambas que eu fiz
para a Turma do Saco posso ser chamado de compositor, trago em mim uma
felicidade enorme – a de ser compositor exclusivo da Turma do Saco. Na minha
vida somente uma vez eu fiz uma música para outra entidade, foi o afoxé Pérolas
Negras, que compus em 1984, para o Centro de Cultura Negra, uma homenagem ao
povo negro do Maranhão.
Nunca tive vontade de
compor para outro bloco carnavalesco, ou escola de samba, nunca encontrei
motivação para isso. No entanto, quando se trata da MITS, a coisa é diferente,
viro criança, fico ansioso, faço várias letras para escolher uma, vivo o dilema
do perfeccionismo, tudo impulsionado pela vontade de fazer mais e melhor. Isto
me ocorre desde o primeiro samba que eu fiz para a TS. É esse tipo de motivação
que, eu tenho a certeza, me fez surpreender muita gente quando, após 30 anos
sem compor sambas de enredo, eu fiz o samba dos 40. Creiam, é essa conjunção de
sentimentos que me afeta ao perceber indícios de desavença na nossa querida
MITS.
Por tudo isso, eu dirijo o
meu apelo a todos/as amigos/as que fazem a TS, que nesse momento ajudem o
Márcio Cavalcante a colocar o bloco na rua e após o carnaval nos unamos para
fazer um processo eletivo harmonioso, em acordo com os quereres da comunidade.
Sei do quanto as mudanças
são necessárias para o fortalecimento do processo democrático, entretanto, elas
podem ser realizadas no sentido do fortalecimento da agremiação, da preservação
das amizades, do rejuvenescimento das causas que nos fazem sacolenses. Reconheçamos,
Márcio Cavalcante e o Zé Roberto são guardiões das tradições da Turma do Saco,
por isto eu peço a todos que se unam para colocar o Saco na avenida junto com
eles.
A todos/as o meu respeito!
Obrigado por comentar.
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