sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Um bom guardião, como tal deve ser reconhecido

De repente eu telefono para um amigo e soube que a Turma do Saco estaria passando por uma daquelas fases lamentáveis comuns em blocos organizados ou organizações comunitárias da mesma estirpe.
Márcio Cavalcante, responsável pela reabilitação da TS estaria deixando o cargo de presidente e passando a faixa para outros amigos numa zona de desconfortável contentamento, embora seu discurso não denote isso. Lamentei, lamento, sinto muito pelo que está acontecendo. Um comandante não pode deixar o seu batalhão às vésperas de uma batalha, da mesma forma que não fica bem para um presidente abandonar o seu bloco às proximidades do carnaval. O certo é colocar o bloco na rua e, independente do resultado, convocar a eleição, dar curso ao processo eletivo e passar a faixa e os bens patrimoniais à pessoa escolhida pela Assembleia Geral para comandar o bloco.
Márcio Cavalcante e o Zé Roberto seguraram a barra quando o bloco estava numa situação difícil. Fizeram o bloco chegar aos 40 anos com uma apresentação ao nível da tradição sacolense. Quem já presidiu uma agremiação carnavalesca sabe do quanto se precisa de ajuda, da participação da comunidade, da parceria de cada integrante, da cumplicidade da comunidade. Enfim, esta é uma empreitada em que toda ajuda é pouca, levando-se em conta que a causa que nos faz levar o barco para a frente não é outra senão o amor pela TS.
Por tudo isso, cabe-nos fazer esse tipo de transição de forma pacífica, respeitosa e, na medida do possível, amigável. Assim, as pessoas deixam o cargo, mas não deixam o bloco e, isso é salutar. Quando isto acontece o/a presidente futuro/a poderá contar com a ajuda e a experiência do seu antecessor.
Não sei o quanto a minha participação na TS a marcou, mas sei do quanto eu estou para sempre marcado pela História da Mocidade Independente Turma do Saco e pela minha passagem no bairro do Codozinho. Nela eu fiz amigos, irmãos, aprendi a trabalhar em equipe, aprendi o sentido de ser comunidade, a importância de exercer a cidadania em sua plenitude e, sobretudo, a respeitar os limites das pessoas que nos cercam. Nela eu aprendi a perder com dignidade e, quando da vitória, ser parcimonioso na comemoração. Aprendi ainda, que cada entidade concorrente é uma agremiação irmã, com problemas, aspirações, necessidades comuns as nossas.
 Hoje, eu encontro com amigos compositores e muitos deles me contam com orgulho que ganharam o samba enredo em bloco tal, ou na escola tal e eu participo da alegria deles e os admiro muito pelas maravilhas que fazem e pelas pessoas que são.
Se pelos sambas que eu fiz para a Turma do Saco posso ser chamado de compositor, trago em mim uma felicidade enorme – a de ser compositor exclusivo da Turma do Saco. Na minha vida somente uma vez eu fiz uma música para outra entidade, foi o afoxé Pérolas Negras, que compus em 1984, para o Centro de Cultura Negra, uma homenagem ao povo negro do Maranhão.
Nunca tive vontade de compor para outro bloco carnavalesco, ou escola de samba, nunca encontrei motivação para isso. No entanto, quando se trata da MITS, a coisa é diferente, viro criança, fico ansioso, faço várias letras para escolher uma, vivo o dilema do perfeccionismo, tudo impulsionado pela vontade de fazer mais e melhor. Isto me ocorre desde o primeiro samba que eu fiz para a TS. É esse tipo de motivação que, eu tenho a certeza, me fez surpreender muita gente quando, após 30 anos sem compor sambas de enredo, eu fiz o samba dos 40. Creiam, é essa conjunção de sentimentos que me afeta ao perceber indícios de desavença na nossa querida MITS.
Por tudo isso, eu dirijo o meu apelo a todos/as amigos/as que fazem a TS, que nesse momento ajudem o Márcio Cavalcante a colocar o bloco na rua e após o carnaval nos unamos para fazer um processo eletivo harmonioso, em acordo com os quereres da comunidade.
Sei do quanto as mudanças são necessárias para o fortalecimento do processo democrático, entretanto, elas podem ser realizadas no sentido do fortalecimento da agremiação, da preservação das amizades, do rejuvenescimento das causas que nos fazem sacolenses. Reconheçamos, Márcio Cavalcante e o Zé Roberto são guardiões das tradições da Turma do Saco, por isto eu peço a todos que se unam para colocar o Saco na avenida junto com eles.
A todos/as o meu respeito!
Obrigado por comentar.

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