A minha simpatia pelo Sampaio Corrêa Futebol Clube vem da
minha família. Lembro-me, quando ainda criança, em Rosário, da minha mãe
lavando roupas no banco de lavar, no quintal da nossa casa, junto ao tanque de
cimento distribuído pela Fundação Sesp. Às vezes cantando sambas cantados na
Madre Deus da sua época, às vezes contando histórias daquela gente alegre,
divertida que desde sempre habita aquele maravilhoso bairro da ilha de São
Luís. Foi num desses momentos que ela me falou que o meu tio Raimundo Reis
(Cacaraí) foi jogador do Sampaio Corrêa e o meu tio e padrinho Joaquim Paz de
Linhares – o Careca, compositor e fundador da Turma do Quinto, jogou no Tupã. Acredito
que, como o Tupã era menos midiático do que o Sampaio Corrêa e, ainda, porque a
minha mãe demonstrava sua paixão pelo Sampaio, eu preferi torcer por este clube
de futebol.
Como toda criança brasileira, pobre, negra, eu desde sempre adoro
o futebol. Em Rosário, terra onde eu nasci, torcia pelo Esporte Clube Comercial
e, em São Luís, pelo Sampaio Corrêa. Mas sempre gostei mais de jogar bola do
que ir ao estádio torcer. Fui várias vezes ao estádio Nhozinho Santos e mesmo
ao Castelão para ver a seleção de Rosário, ou times de lá disputando o torneio
intermunicipal – eu até hoje adoro ver o futebol rosariense. Rosário é terra de
muitos craques. As vezes que fui ao Rio de Janeiro, nunca desejei conhecer o
Maracanã, nem outros estádios de outras cidades brasileiras que eu conheci ao
longo da minha vida profissional.
Foi a partir de 1997, após a minha viuvez, que eu descobrir o
estádio de futebol como alternativa para diversão. O Sampaio estava na série D,
com possibilidades de passar para a série C do futebol brasileiro, então, eu
comecei a ir assistir aos jogos do Sampaio. Levava os meus filhos, o filho de
um vizinho, íamos com o meu compadre Laurindo, boliviano ranzinza, que até hoje
é o meu companheiro de torcida. Mas, foi em tempos mais recentes que eu
observei que o jogo de futebol que se assiste inicia bem antes de entrarmos no
estádio, começa logo depois que você deixa o estacionamento e escala a escada
de acesso ao Castelão.
É ali, bem ali, depois que se sobe a escada e respira-se
profundamente, levanta-se a cabeça e vemos diante dos nossos olhos uma porção
de vendedores ambulantes, ao abrigo de árvores, com caixas de isopor cheias de
bebidas e churrasqueiras exalando o cheiro dos churrasquinhos ou espetinhos,
como preferem alguns torcedores. São dezenas de vendedores ao redor de todo o
estádio, preferencialmente, nas entradas de cada setor. Particularmente, gosto
de ficar diante do acesso ao setor 4. Ali começa a resenha, ali a resenha é
mais intensa, alegre, divertida, fanática, entendida, sábia, eufórica,
discreta, indiscreta, e tudo mais que o torcedor possa exteriorizar como
sentimento, ou paixão que o futebol inspira.
Naquele calor das 15:00 horas em São Luís, 32° ou mais à
sombra, poucos são os que resistem a uma cervejinha gelada.
É maravilhoso ver uma multidão de maranhenses trabalhando
informalmente para divertir milhares de torcedores animados, dispostos a
consumir água mineral, espetinho, refrigerante, vinho suave, bandeira, camisa e
souvenir do clube do coração, pasteis, coxinhas, ingressos de cambistas e tudo
mais que o comércio informal apresenta.
Nessa multidão não faltam torcedores fantasiados com o
propósito de chamar a atenção dos demais. Naqueles instantes que antecedem o
início da partida, ao redor do estádio, tudo é diversão, vaias, brigas de
cachorros, palpites, escalação do time, o desfile de camisas do clube (cada uma
mais bonita que a outra), a gatinha malhada de academia vestindo um vestido do
Sampaio Corrêa coladinho ao corpo, gritos inesperados de torcedor que só deseja
chamar atenção, um torcedor que inesperadamente cai da cadeira. Tudo ocorre
enquanto se toma uma gelada para irrigar o papo que só tem pausa na hora em que
se decide entrar no estádio.
Nada é mais interessante que o movimento em torno do estádio
Castelão, nos momentos que antecedem o jogo, onde aquela mistura de sentimentos
se exterioriza na diversidade humana e na forma própria do povo brasileiro.
Fico pensando, como povo brasileiro deve sofrer quando está longe daqui... Não
sei se existe no mundo um povo com a capacidade de expressar-se de tantas
formas como o povo brasileiro.
A resenha que antecede o jogo do Sampaio Corrêa
Futebol Clube no Castelão é um desses momentos que entra nas nossas mentes para
nunca mais ser esquecido e, ainda, que só depois de escrever tudo isso, vejo o
quanto fiz tão pouco para descrevê-la.
Obrigado por comentar.
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