Em 2003, quando retornei de
Brasília para São Luís, fomos morar no condomínio Barra Mar, no bairro do
Calhau. Ali alugamos uma cobertura e nos instalamos. Naquela época, tínhamos
quatro crianças em casa e precisávamos de alguém que nos ajudasse nas tarefas
domésticas. A Sílvia anunciou no condomínio a nossa necessidade e alguém nos
recomendou a Maria, uma empregada doméstica que já havia trabalhado em um
condomínio próximo e era uma pessoa de confiança.
Maria era, de fato, uma pessoa de
confiança, trabalhadora, cumpridora dos seus deveres. Por isso a Sílvia e todos
na casa gostavam muito dela. Era uma interiorana de Miranda do Norte que emigrou
para a periferia de São Luís. Vivia em um daqueles bairros violentos, entre os
bairros Olho D´Água e Araçagi. Morava de aluguel em um quartinho. Um cubículo
multifuncional, cujo uso ia de lavanderia a dormitório. Mas chamava a nossa
atenção pelo seu bom humor, pontualidade, destreza, tempestividade, habilidade
culinária e senso de arrumação de tudo que havia na casa. Pessoa nova, uns 30
anos ou menos naquela época, gostava de se divertir, tomar uma cerveja no fim
de semana, mas deixava-nos muito tristes quando chegava à nossa casa com o
rosto cheio de hematomas. Coitada! Mesmo cheia de dores, trabalhava de bom
humor, embora em algumas ocasiões pedisse para sair mais cedo, ou a Sílvia,
quando via o seu estado, pedia de imediato que ela procurasse médico e depois
fosse repousar. Uma realidade triste, que graças a Deus, hoje é combatida com
veemência, graças a Lei Maria da Penha.
Um dia Maria chegou atrasada e
foi logo justificando que daquele dia em diante seria sempre assim, a bicicleta
que ela usava para chegar ao serviço estava toda desmontada e, de tão velha o
conserto seria caro demais para ela pagar. Daquele dia em diante trabalharia
com o objetivo de juntar uns trocados para comprar outra bicicleta. Para não
dar “de mão beijada”, como falava a minha mãe, uma bicicleta nova para a Maria,
pedi que ela me vendesse a bicicleta dela do jeito que estava, que eu lhe daria
dinheiro suficiente para comprar outra. Assim foi feito, um dia Maria chegou
com um saco de estopa cheio de peças de bicicleta e eu a paguei, de forma que
de imediato ela comprou outra bicicleta.
Procurei um mecânico de bicicleta
lá no bairro do Vinhais, nas imediações do Cemitério, e o solicitei um reparo
total daquele monte de peças, pintura do quadro, de modo que a bicicleta
parecesse nova. O cara fez tudo conforme eu pedi, mas nem usei muito a
bicicleta em São Luís. Em junho de 2004 fui chamado a assumir o cargo de
agrônomo no Banco da Amazônia, no Estado do Tocantins, na cidade de
Tocantinópolis. Ali eu a usei mais. De vez em quando eu pedalava ao lado do meu
filho mais novo, outras vezes eu pedalava sozinho, mas esporadicamente. A
verdade é que durante esses doze anos que possuo essa bicicleta, ela ficou
muito tempo sem uso.
Em 2010 vim transferido para
Santa Inês e a usei uma ou duas vezes e a coloquei de volta na despensa. E,
somente, em meados deste 2015, após a minha desilusão e até angústia decorrente
da minha experiência em academias resolvi tirá-la do “estaleiro” e,
concomitantemente, comecei a ler sobre o ciclismo de estrada, especificamente.
Como escolher a bicicleta apropriada para o seu tamanho? Qual a bicicleta
específica para as diversas modalidades de ciclismo? Quais são as peças de uma
bicicleta? Cuidados que devem ser tomados quando o ciclista vai pegar a
estrada. Quais as possibilidades e diferenças entre bicicletas aro 26, aro 29 e
as novas aro 27,5. Fabricantes de peças, especificidades do ciclismo de
estrada.
Tive também a oportunidade de
conversar com o ciclista Marinho, vizinho dos meus sogros, Luis e Moema Aranha,
no condomínio Barra Mar, também
praticante do ciclismo de estrada, que o meu querido amigo/irmão Átila Roque
chama de ciclismo da selva urbana, pois ele pratica
em São Luís naquele trânsito maluco, entre carros e motos. Em meia hora de
papo, o Marinho me ensinou muita coisa e me indicou sites especializados no
assunto. Valeu, Marinho!
A
partir dessa conversa e das leituras que tenho feito em páginas especializadas
eu dei uma pequena incrementada na minha magricela. Pintei-a novamente, troquei
o cassete de sete, por um de oito marchas; mudei os cubos, coloquei cubos com
rolamentos que deixam a bicicleta mais leve. Troquei os passadores e os manetes
dos freios, que eram velhos, por um conjunto da marca
Shimano. Troquei o selim que era duríssimo, por um selim mais macio, coloquei
nos pneus fitas anti-furos. Passei a usar bermuda de ciclista, que ameniza o
impacto do glúteo no selim, passei a usar luvas, pois o Marinho disse-me que
este é um equipamento muito importante em casos de quedas. Comprei também os
faróis de sinalização dianteiro e traseiro, além de um ciclo computador.
Troquei as rodas por um tipo mais leve e mais atual, com raios mais finos.
A minha
bicicleta não é do tipo speed, muito menos do tipo montain bike, é uma bicicleta comum dessas que os trabalhadores do
Pindaré usam para chegar ao trabalho. Eu apenas fiz essas adaptações, tomando o
cuidado para não descaracterizá-la.
Quando
eu comecei a pedalar com ela no seu estado “original”, a velocidade máxima que
eu alcançava era de 33 Km/h; hoje, de acordo com o ciclo computador, eu já
alcancei a velocidade de 47,8 Km/h, justamente, nesta última viagem que eu fiz
até o município de Igarapé do Meio. Confesso que quando vi o velocímetro
mostrando que eu estava ultrapassando a marca dos 40, eu fiquei muito feliz,
muito entusiasmado, muito emocionado. Creio que isto me ajudou a superar as
minhas limitações físicas. Claro que eu adito a esta aquele cumprimento do
motoqueiro que me deu o título de cidadão do Pindaré.
Nem
preciso falar da minha satisfação, todos percebem que a minha magricela é o
brinquedinho que eu descobri aos 58 anos de vida. Prometo que na próxima vou
falar para vocês sobre o meu conceito da palavra brinquedinho.
Tenho a pretensão de deixá-la, pelo menos, dois
quilos mais leve. Pretendo alcançar esse objetivo com a substituição de algumas
peças por outras feitas com materiais de menor densidade. Apesar de pretender
ter uma bicicleta mais moderna, no futuro, a médio prazo; no momento estou
curtindo a minha magricela tradicional. Paixão mesmo! Obrigado por comentar.
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