Quem via aquele senhor calefatando canoas em Rosário, à beira do rio Itapecuru, pensava se tratar de um simples carpinteiro naval, como tantos outros nascidos ali. Baixinho de porte atarracado o que, por certo lhe valeu o apelido – Dico Baiacu. O Dico deriva do nome Raimundo, cujo diminutivo popular seria Mundico e para os mais chegados apenas Dico. Baiacu, acredito ser uma alusão comparativa e, claro, caricata da comparação da expressão corporal com o peixe que tem este nome e é comum nos mares do Maranhão, nas proximidades de Rosário.
Mestre na arte da construção de pequenas embarcações tinha uma vida simples como todo rosariense daquela época. Dedicava-se ao ofício durante a semana. Como era um autônomo, entre um trabalho e outro costumava pescar de espinhel, para pegar mandubé, bico de pato, papista, piau e outros peixes característicos do então piscoso rio Itapecuru-mirim.
Nos finais de semana, porém, sua aptidão musical aflorava. Descia a Rua de Baixo, ia lá para as bandas do Alto Paraíso, lá pra perto da capela de São Benedito da Garrafa, onde se juntava a outros companheiros amantes do bom samba rosariense e, ali na escola de samba faziam as mais lindas pérolas musicais que Rosário já conheceu.
Nativista por excelência, como bom rosariense cantou a terrinha no mais alto estilo:
Rosário,
Ó meu Rosário
Terra de grande valor
Rosário,
Ó meu Rosário
Terra que Deus abençoou
Para ele a beleza global de Rosário era em decorrência das suas maravilhosas partes. Isto ele deixa bem claro ao cantar um certo Bairro da Princesa. Várias vezes ouvi as pessoas cantando este samba, mas, confesso não saber exatamente qual é a parte que o mestre assim chamava.
Você quer vê
O que é que é beleza
É só descer
Ir pro Bairro da Princesa
Sei, porém que para ele e outros sambistas da época o Bairro da Princesa era o lugar do mais fino samba rosariense. Um lugar onde a boemia se instalara e proliferara – o berço da boemia rosariense. Era ali naquele meio, onde tudo era simples brincadeira, que Dico Baiacu se sobressaia como um verdadeiro gênio da música popular rosariense. Foi naquele ambiente, entre os Amigos do Samba que ele fez o primeiro samba ecológico em defesa da palmeira do babaçu, do meio ambiente, a favor da preservação da agricultura tradicional de Rosário e contra a colonização japonesa naquelas terras, naquela época – acredito que entre segunda metade dos anos 1950 e início dos anos 1960.
É verdade que o samba é de uma força de expressão tamanha que de pronto foi proibido pela autoridade maior da terra – Ivar Saldanha. Ivar como político experiente que era, um homem sensível e sobretudo educado, logo viu que o tratamento dado aos irmãos nipônicos não era de bom alvitre, mas, até hoje, não há quem não se lembre na Rua de Baixo o samba que deixou entre nós a fama do seu autor.
Em respeito à comunidade japonesa eu deixo de colocar a letra integralmente, mas, por ser também um símbolo tão significativo da história do povo rosariense eu cometeria pecado de semelhante magnitude se deixasse aqui de mencionar alguma parte deste samba. Portanto, apresento as minhas desculpas à comunidade japonesa no Brasil e aos seus descendentes.
Vejam, Dico Baiacu é um autor que a exemplo de Dorival Caimmi, João do Vale e tantos outros ícones da música popular brasileira, tinha no amor telúrico uma das suas principais fontes de inspiração. Este samba é uma verdadeira demonstração de amor pela terra rosariense, seus recursos naturais e os nossos conterrâneos.
Era só o que faltava em nossa terra...
Mas, agora desta vez
Vai haver um sururu
Estão derrubando as palmeiras
E acabando o babaçu
Não temos mais o direito
De ganhar o nosso pão
....grita de lá
Aqui não se mete mais a mão
Enfim, o nosso Raimundo Brito, Dico Baiacu, carregava o talento musical desde a barriga da sua genitora, mas, não se contentara com isso, resolveu aprender as técnicas da música. Para isso entrou na escola de música de João Agripino dos Santos – o nosso saudoso e inteligentíssimo João dos Santos. Lá aprendeu os pormenores das notas musicais, chegando mesmo a tocar tuba no Jazz 4 de Março.
Seu Dico compôs um conjunto de excelentes sambas, mas não há registro escrito e, muito menos, fonográfico. No entanto, Rosário é uma terra sensível à cultura telúrica, por isso eu pergunto se já não era hora de catalogarmos a obra deste grande compositor da nossa terra e fazermos um registro fonográfico para que as novas e futuras gerações possam conhecer melhor a História da música rosariense?Creio que seguindo o caminho da memória oral daquelas pessoas que foram contemporâneas do compositor seria um bom caminho.
Obrigado por comentar.
Mestre na arte da construção de pequenas embarcações tinha uma vida simples como todo rosariense daquela época. Dedicava-se ao ofício durante a semana. Como era um autônomo, entre um trabalho e outro costumava pescar de espinhel, para pegar mandubé, bico de pato, papista, piau e outros peixes característicos do então piscoso rio Itapecuru-mirim.
Nos finais de semana, porém, sua aptidão musical aflorava. Descia a Rua de Baixo, ia lá para as bandas do Alto Paraíso, lá pra perto da capela de São Benedito da Garrafa, onde se juntava a outros companheiros amantes do bom samba rosariense e, ali na escola de samba faziam as mais lindas pérolas musicais que Rosário já conheceu.
Nativista por excelência, como bom rosariense cantou a terrinha no mais alto estilo:
Rosário,
Ó meu Rosário
Terra de grande valor
Rosário,
Ó meu Rosário
Terra que Deus abençoou
Para ele a beleza global de Rosário era em decorrência das suas maravilhosas partes. Isto ele deixa bem claro ao cantar um certo Bairro da Princesa. Várias vezes ouvi as pessoas cantando este samba, mas, confesso não saber exatamente qual é a parte que o mestre assim chamava.
Você quer vê
O que é que é beleza
É só descer
Ir pro Bairro da Princesa
Sei, porém que para ele e outros sambistas da época o Bairro da Princesa era o lugar do mais fino samba rosariense. Um lugar onde a boemia se instalara e proliferara – o berço da boemia rosariense. Era ali naquele meio, onde tudo era simples brincadeira, que Dico Baiacu se sobressaia como um verdadeiro gênio da música popular rosariense. Foi naquele ambiente, entre os Amigos do Samba que ele fez o primeiro samba ecológico em defesa da palmeira do babaçu, do meio ambiente, a favor da preservação da agricultura tradicional de Rosário e contra a colonização japonesa naquelas terras, naquela época – acredito que entre segunda metade dos anos 1950 e início dos anos 1960.
É verdade que o samba é de uma força de expressão tamanha que de pronto foi proibido pela autoridade maior da terra – Ivar Saldanha. Ivar como político experiente que era, um homem sensível e sobretudo educado, logo viu que o tratamento dado aos irmãos nipônicos não era de bom alvitre, mas, até hoje, não há quem não se lembre na Rua de Baixo o samba que deixou entre nós a fama do seu autor.
Em respeito à comunidade japonesa eu deixo de colocar a letra integralmente, mas, por ser também um símbolo tão significativo da história do povo rosariense eu cometeria pecado de semelhante magnitude se deixasse aqui de mencionar alguma parte deste samba. Portanto, apresento as minhas desculpas à comunidade japonesa no Brasil e aos seus descendentes.
Vejam, Dico Baiacu é um autor que a exemplo de Dorival Caimmi, João do Vale e tantos outros ícones da música popular brasileira, tinha no amor telúrico uma das suas principais fontes de inspiração. Este samba é uma verdadeira demonstração de amor pela terra rosariense, seus recursos naturais e os nossos conterrâneos.
Era só o que faltava em nossa terra...
Mas, agora desta vez
Vai haver um sururu
Estão derrubando as palmeiras
E acabando o babaçu
Não temos mais o direito
De ganhar o nosso pão
....grita de lá
Aqui não se mete mais a mão
Enfim, o nosso Raimundo Brito, Dico Baiacu, carregava o talento musical desde a barriga da sua genitora, mas, não se contentara com isso, resolveu aprender as técnicas da música. Para isso entrou na escola de música de João Agripino dos Santos – o nosso saudoso e inteligentíssimo João dos Santos. Lá aprendeu os pormenores das notas musicais, chegando mesmo a tocar tuba no Jazz 4 de Março.
Seu Dico compôs um conjunto de excelentes sambas, mas não há registro escrito e, muito menos, fonográfico. No entanto, Rosário é uma terra sensível à cultura telúrica, por isso eu pergunto se já não era hora de catalogarmos a obra deste grande compositor da nossa terra e fazermos um registro fonográfico para que as novas e futuras gerações possam conhecer melhor a História da música rosariense?Creio que seguindo o caminho da memória oral daquelas pessoas que foram contemporâneas do compositor seria um bom caminho.
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