domingo, 25 de março de 2012

A reinvenção de si



Luiz Fernando do Rosário Linhares[i]
Nestes tempos de mudanças constantes temos que estar atentos a todo o momento, como fala o compositor Paulinho da Viola, na sua linda música Rumo dos ventos, “A toda hora rola uma história que é preciso estar atento/A todo instante rola um movimento que muda o rumo dos ventos”. Hoje, na era da informação, as histórias fluem de maneira tão intensa e numa velocidade tamanha, que se não estivermos atentos ficaremos à margem dos acontecimentos. Pior: sucumbiremos a eles.
Profissionalmente não é diferente, o que fazemos hoje é visto, lido, apreciado, consumido instantaneamente. Como numa partida de basquete, não temos muito tempo para comemorar o ponto que se converte, a velocidade da informação nos empurra de volta ao campo da criação, para onde devemos retornar à busca constante de novos conhecimentos que nos leve à geração de novos fatos profissionalmente positivos.
Veja na música, por exemplo. A cada quinze minutos a mídia apresenta um sucesso, ou um pseudossucesso. Aí entra em cena um cantor desconhecido que vai estar em todos os programas de televisão cantando, de modo geral, uma música de letra fútil e melodia escrachada, pouco criativa, mas que está na boca do povo. Surfa na onda: vende discos, apresenta-se na televisão, faz shows, ganha algum dinheiro e desaparece, não raras vezes, para sempre.
A aparição do artista, a superexposição na mídia o deixa acostumado e, quando a mídia não lhe permite mais o espaço de outrora ele/a cai em depressão, se afoga em drogas, bebidas, acaba a festa. Poucos lhe procuram; o campo de trabalho míngua, as oportunidades escasseiam. É a hora de respirar, voltar ao campo da criação, da renovação e procurar reinventar-se, mas, algumas das vezes as pessoas, ao invés de aproveitarem o momento para dar descanso à mente e devolvê-la o poder criativo, tornam-se refém do sucesso a qualquer preço e uns até se expõem ao ridículo.
Com os profissionais anônimos, a coisa não é tão diferente. Apesar de não estarem sujeitos a superexposição, são da mesma forma exigidos pelas empresas para as quais trabalham que produzam como máquinas. Quem trabalha com vendas sabe disso, quanto mais vende, mais lhe exigem que venda. São metas e metas e metas a bater, num mercado supercompetitivo, onde se convive, muitas vezes, com concorrentes de superior competitividade. Mas, no mercado há espaço para todo mundo. Acredito.
Um profissional brilhante no ano passado pode perder espaço neste ano para um novo profissional que surge na empresa. Isto é normal, embora as pessoas não o aceitem facilmente. Todos querem estar no pódio sempre. Por esta razão poucos se permitem correr risco, sair da chamada zona de conforto. Conquistam uma posição dentro de uma área que dominam e não querem mais sair dali. Ir para outra área significa disponibilizar tempo para aprender coisas novas, correr risco e ao mesmo tempo produzir. Eis a mudança, coisa que mete medo até mesmo aos mais competentes profissionais. Mudança mais que uma palavra é uma situação cheia de sentidos que exige dos profissionais plasticidade suficiente para adequar-se a ela. Aqui reside a razão pela qual muitos abdicam até mesmo da ascensão profissional – mudanças, ou o medo de mudarem.
Hoje eu ouvi uma frase de um diretor de futebol, que dizia, referindo-se a um jogador brasileiro internacionalmente famoso, mas que no momento atravessa uma fase delicada: “Aqui não se trabalha com o nome”. Traduzindo: para ele , o que o famoso jogador fez no passado passou, o que interessa são os resultados que ele porventura apresentasse dali para diante, conforme o interesse do clube. Lembrem-se, o clube é uma empresa e o jogador é um funcionário, um servidor, um fornecedor de resultados. Não dá resultado, vai embora.
No mundo em que vivemos, ao que tudo indica, não há da parte da empresa muita paciência para esperar aqueles/as que passam por má fase. Se são bons, se deram resultados no passado, dane-se, para algumas empresas o que interessa é o aqui e agora. É o rolo compressor do mercado passando por sobre a história de cada um.
Diante dessa situação é que se deve ter mais calma. É evidente a necessidade de se planejar, traçar objetivos factíveis nos traz a firmeza e a serenidade nos momentos difíceis, simplesmente porque quem assim o faz sabe exatamente onde deseja chegar. Os tropeços, os erros, as derrotas eventuais, são eventos passageiros, creiam. O que não se pode é abrir mão de um projeto que exige de si mesmo a constante alimentação do saber profissional.
Portanto, o que pode parecer uma má fase para outro profissional, para os que se planejam constitui um tempo que foi reservado ao aprendizado, à higiene mental, às viagens de conhecimento e autoconhecimento, ao descanso, à diversão, à reinvenção de si, o que lhe permitirá atuar no seu espaço profissional de forma competente, e ativamente cônscio.
A reinvenção pessoal passa por um desprendimento do profissional, um momento no âmbito do qual você deve se desligar totalmente daquilo que fez em seu trabalho durante o ano. Momento em que você deve experimentar o diferente. Viajar para lugares desconhecidos, conviver com pessoas diferentes, ler um novo livro, escrever, assistir filmes diversos, assistir espetáculos teatrais, esportivos, circenses, musicais. Abrir-se a novas experiências pode ajudar profissionalmente. Dar vazão a potenciais que você tem para além do que faz profissionalmente no seu cotidiano, pode, indiretamente, lhe acrescentar saberes, criatividade e dinamismo para o exercício da sua vida profissional.
Ah, não esqueça, inicie suas atividades sempre pelo planejamento. Cuidado com o ativismo sem objetividade. Lembre-se, quem não sabe onde deseja chegar não chegará a lugar nenhum. Portanto, quando começar as suas atividades, defina bem os seus objetivo e a estratégia para alcançá-los  siga em frente.


[i] O autor é MS em Políticas Públicas.  

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