domingo, 27 de janeiro de 2013

O que você faria?



Essa é sempre a pergunta que se costuma fazer a outra pessoa, caso essa chegasse a algum lugar que lhe desse poder. Combinemos, é sempre muito tentador respondermos de pronto que faríamos isso, que faríamos aquilo e mais, e mais, e mais. Esta também é uma atitude que qualquer criança tomaria sem pestanejar.
Dizer o que se faria no lugar de uma autoridade é fácil e fascinante, principalmente, porque das pretensas atitudes, quando pensadas, são abstraídas as condições objetivas enfrentadas pelas autoridades no exercício das suas funções. Por isso, a pretensão desse artigo é contribuir para uma reflexão sobre políticas públicas, ao responder, para uma criança que me perguntou o que eu faria se pudesse influenciar a prefeitura da cidade em que moro, quando da execução das políticas que compõem um suposto plano de governo do município.
Respondi que concomitante aos problemas da saúde e da educação, solicitaria que a prefeitura pusesse ordem ao trânsito da cidade. De pronto, a criança perguntou-me, por quê?
Porque a desorganização reinante no trânsito daquela cidade é, sobretudo, emblemática. Emblemática? Mais uma vez a criança interrogou. Sim, tem algo de exemplar, um mau exemplo que dá vazão para que as pessoas cometam outros tipos de infração. Quando as pessoas vivem numa sociedade sem respeitar as leis vigentes, e as autoridades constituídas para governar essa sociedade governam sem observação do estrito cumprimento das leis, o desrespeito às leis tende a tornar-se cultural na vida da sociedade. E, depois que a inobservância das leis passa a fazer parte da cultura do povo, este passa a acreditar que pode tudo. Daí se fica a um passo da barbárie, ou seja, de regredir do estado civilizado para o estado de barbárie. Isto porque a ausência da ação da autoridade, cuja sociedade, delegou o poder de cumprimento do conjunto de leis que a ordenam, contribui para a negligência com a vida se estabeleça e, aí está o grande perigo. Quem negligencia a vida, banaliza a morte.
O trânsito possui um arcabouço legal que foi pensado e organizado com o fito de harmonizá-lo. Para que esse conjunto de leis passasse a prevalecer foi, antes submetido à apreciação das autoridades competentes. Uma vez aprovado, fica a sociedade comprometida a cumpri-lo. Numa democracia, ninguém está acima das leis, por isso, todos devem conduzir as suas ações dentro dos limites legais.
Para que a lei? Para que as pessoas tenham parâmetros que indiquem os limites dos seus direitos e deveres, consequentemente. Para que possam trafegar respeitando os direitos de outros condutores de veículos, pedestres, ciclistas, motociclistas. Para que possam respeitar as suas vidas e as vidas das outras pessoas.
Um trânsito em que as pessoas trafegam em motocicletas sem carteiras de habilitação, sem o equipamento obrigatório e ainda carregando outras pessoas totalmente desamparadas, é um trânsito perigoso. A pessoa que conduz uma moto sem capacete, carregando consigo adultos e crianças sem os equipamentos obrigatórios e, sobretudo, além da capacidade projetada para o veículo, é uma pessoa que não respeita a sua vida e muito menos a vida dos seus amigos ou familiares. Cabe as autoridades, no cumprimento das leis, fazerem com que as pessoas se comportem no trânsito em acordo com as normas legais pertinentes.
Motoristas que andam na contramão, desrespeitam os sinais e colocam em risco as vidas das pessoas devem ser tratados de acordo com as leis.
As autoridades devem zelar pelas leis do trânsito, fazendo com que pedestres e condutores de veículos as cumpram e, ao mesmo tempo, devem investir em ações de educação no trânsito para que as pessoas possam ser mais gentis umas com as outras e, assim, termos um trânsito mais tranquilo, sem violência. Sem pessoas dirigindo alcoolizadas, trafegando em alta velocidade em lugares impróprios, buzinando em lugares proibidos, trafegando sem os equipamentos obrigatórios ou com o veículo em condições inadequadas.
O trânsito deve ser cuidadosamente planejado, sinalizado e monitorado pelas autoridades. Só assim os infratores podem ser flagrados e punidos. A punição, além do efeito corretivo, tem um viés pedagógico, à medida que ela exerce um efeito multiplicador. Um condutor que ao ver ou saber que o seu colega foi flagrantemente punido por prática de condução perigosa, descuidada, ou imprópria, evitará tais práticas sob pena de também sofrer punições.
Campanhas educativas pela melhoria do trânsito devem ser incentivadas. Devem envolver a juventude, os escolas municipais e estaduais, as universidades, as organizações governamentais, a classe empresarial, organizações não governamentais e as entidades de classe. É necessário que a sociedade se comprometa a zelar pela cidade e não fique de braços cruzados, acreditando que esse papel cabe apenas às autoridades oficiais.
Todos devemos nos comprometer com os rumos da cidade, pois assim, conduziremos o nosso próprio destino, porque a cidade é uma parte de cada um dos seus moradores.

Obrigado por comentar.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Lições de sucesso



Observo que neste país é comum as pessoas inventarem defeitos para as bem sucedidas, excepcionalmente, aquelas que emergindo de estrato social mais baixo lutam, conseguem sucesso e se mantêm no topo.
Não importa qual o ramo profissional a pessoa se destacou. Também poucos desejam saber sobre o esforço despendido, os sacrifícios que o sucesso demanda, a sabedoria, o bom senso usado para suportar indivíduos insuportáveis que sempre aparecem no caminho daqueles que batalham para ganhar a vida. Nada importa, fez sucesso na vida profissional, logo surgem os defeitos.
Já vi elementos admirando-se do sucesso dos outros, serem bem taxativos: “Fulano mal completou dois anos de emprego e já possui casa com piscina”; ou ainda, “ela tem seis meses de emprego e já está de carrão”. São comentários notadamente eivados de inveja, como se ter uma boa casa, ou comprar um carro com o suor do seu trabalho se tratasse de coisa vergonhosa.
“Beltrano está rico, não sei como...”, comentário que soa como se alguém tivesse que prestar contas às suas amizades ou ao vizinho da forma como faz para ganhar o pão de cada dia. Há mesmo aquelas pessoas que associam a riqueza com a sujeira, tipo: está rico, não presta. Esse viés ideológico, ao que tudo indica, é há muito conhecido pelos marqueteiros políticos. Lembram-se do slogan do Lula naquela eleição que ele perdeu para o Collor de Melo? “Sem medo de ser feliz”.
Depois de eleito, o cara mudou a cara do país, mas os adversários não cederam à tentação de continuarem azucrinando a vida do presidente, aí foi a vez de o povão entrar em cena com o apelo “deixem o homem trabalhar”.
Há algumas evidências que me levam a acreditar que essa coisa de aceitar o sucesso de apenas uns poucos pode ser um cacoete herdado do Brasil escravocrata, da mágoa de ver a abolição acontecer e os senhores de escravizados desejarem que, uma vez libertados os escravizados fossem malsucedidos na vida além da senzala e, assim, desejassem voltar à escravidão.
Acredito que nesse sentimento há também uma herança dos tempos da ditadura militar, quando as pessoas que faziam oposição no país falavam da “causa”. Lutar pela causa era uma glória, ficar indiferente a ela era alienação. Então aquelas pessoas que preferiam se dedicar à profissão e foram bem sucedidas eram apontadas, pelo dedo sujo de ideologias, como burguesas. E, claro, naquele clima, ser burguês era um pecado mortal, inspirava a raiva contra si. Noutras palavras, ser rico não era uma coisa boa, pelo menos para alguns marxistas de manual. Daí também a propensão da colocação de defeitos em pessoas bem sucedidas.
É como se o sucesso fosse coisa para repreender, não para imitar. Quando na verdade uma atitude sensata seria aprender com as pessoas bem sucedidas. Assim como fazem as empresas inteligentes, que chamam técnicos de futebol, técnicos de voleibol, ou outras pessoas que conseguiram o sucesso com esforço e inteligência, se destacando naquilo que fazem, para conversar com seus funcionários, para que estes aprendam que sucesso não se faz apenas com a vontade, mas com a atitude, perseverança, sabedoria, muito trabalho e outros ingredientes mais. Há mesmo quem afirme que o sucesso é mais transpiração do que inspiração.
Quaisquer que sejam os ensinamentos, quando vêm de pessoas bem sucedidas, que ganham a vida honestamente com o suor do trabalho duro, é melhor aprender que se deter à imobilidade da crítica destrutiva. Hoje a pessoa moderna é aquela que sabe aprender. Isto também serve para as empresas. Nada nos custa aprender com aquelas pessoas que ascendem na vida pela escada do trabalho e do saber. Aprender, antes de qualquer coisa, é uma atitude inteligente. Por isso, lições de sucesso devem sim ser aprendidas e reproduzidas. 
Obrigado por comentar.

sábado, 5 de janeiro de 2013

O bem e o mal, a luta eterna



Na nossa vida, sempre vemos e ouvimos estórias e histórias do bem contra o mal. Na infância nos deparamos com uma série muito extensa de estórias em que o bem e o mal se engalfinham e ambos passam por altos e baixos até que definitivamente o bem vença.
Nossos pais e avós enchiam as nossas imaginações com esse tipo de estória. Inventavam muitas delas para nos entreter, acalmar, ninar, adormentar. Eu que sou de uma família de antepassados pouco letrados, sei o quanto a memória oral é importante na transmissão de muitas dessas estórias. Lembro-me de antepassados como dona Surica, contadora de estórias, que ensinava todos os netos a ler, contudo, não os ensinava a escrever, porque não dominava a escrita, apenas lia. A escrita ficava por conta da professora da escola, ou da professora particular.
Nas comunidades negras, as estórias do bem e do mal eram passadas de geração a geração pela memória oral até que a escrita lá chegasse para escrevê-la ou que a televisão viesse enterrá-la definitivamente, ou substituí-la por estórias de heróis e anti-herois outros promovidos pela telinha.
O bem e o mal estão nas ações, nas palavras, no dia-a-dia, na nossa vida, enfim. Costumo dizer que na vida, o que falamos e o que fazemos é como uma bolinha de seringa que se joga na parede. Se for projetada com a força do bem, para o bem de quem a projetou, voltará com a mesma intensidade; caso contrário, se projetada com a força do mal, para o mal de quem a projetou, voltará com semelhante intensidade. Esta é a lição, o recado que as estórias que nossos ancestrais contavam nos emitiam.
Em outras palavras, a malvadeza e a maledicência são as guilhotinas que os malvados, ímpios e maledicentes constroem para si, quando, na verdade, equivocadamente, pensam ser para os outros

Obrigado por comentar.