Essa é sempre a pergunta que se
costuma fazer a outra pessoa, caso essa chegasse a algum lugar que lhe desse
poder. Combinemos, é sempre muito tentador respondermos de pronto que faríamos
isso, que faríamos aquilo e mais, e mais, e mais. Esta também é uma atitude que
qualquer criança tomaria sem pestanejar.
Dizer o que se faria no lugar de
uma autoridade é fácil e fascinante, principalmente, porque das pretensas
atitudes, quando pensadas, são abstraídas as condições objetivas enfrentadas
pelas autoridades no exercício das suas funções. Por isso, a pretensão desse
artigo é contribuir para uma reflexão sobre políticas públicas, ao responder,
para uma criança que me perguntou o que eu faria se pudesse influenciar a
prefeitura da cidade em que moro, quando da execução das políticas que compõem
um suposto plano de governo do município.
Respondi que concomitante aos
problemas da saúde e da educação, solicitaria que a prefeitura pusesse ordem ao
trânsito da cidade. De pronto, a criança perguntou-me, por quê?
Porque a desorganização reinante
no trânsito daquela cidade é, sobretudo, emblemática. Emblemática? Mais uma vez
a criança interrogou. Sim, tem algo de exemplar, um mau exemplo que dá vazão
para que as pessoas cometam outros tipos de infração. Quando as pessoas vivem
numa sociedade sem respeitar as leis vigentes, e as autoridades constituídas
para governar essa sociedade governam sem observação do estrito cumprimento das
leis, o desrespeito às leis tende a tornar-se cultural na vida da sociedade. E,
depois que a inobservância das leis passa a fazer parte da cultura do povo,
este passa a acreditar que pode tudo. Daí se fica a um passo da barbárie, ou
seja, de regredir do estado civilizado para o estado de barbárie. Isto porque a
ausência da ação da autoridade, cuja sociedade, delegou o poder de cumprimento
do conjunto de leis que a ordenam, contribui para a negligência com a vida se
estabeleça e, aí está o grande perigo. Quem negligencia a vida, banaliza a morte.
O trânsito possui um arcabouço
legal que foi pensado e organizado com o fito de harmonizá-lo. Para que esse
conjunto de leis passasse a prevalecer foi, antes submetido à apreciação das
autoridades competentes. Uma vez aprovado, fica a sociedade comprometida a
cumpri-lo. Numa democracia, ninguém está acima das leis, por isso, todos devem
conduzir as suas ações dentro dos limites legais.
Para que a lei? Para que as
pessoas tenham parâmetros que indiquem os limites dos seus direitos e deveres,
consequentemente. Para que possam trafegar respeitando os direitos de outros
condutores de veículos, pedestres, ciclistas, motociclistas. Para que possam
respeitar as suas vidas e as vidas das outras pessoas.
Um trânsito em que as pessoas
trafegam em motocicletas sem carteiras de habilitação, sem o equipamento
obrigatório e ainda carregando outras pessoas totalmente desamparadas, é um
trânsito perigoso. A pessoa que conduz uma moto sem capacete, carregando
consigo adultos e crianças sem os equipamentos obrigatórios e, sobretudo, além
da capacidade projetada para o veículo, é uma pessoa que não respeita a sua
vida e muito menos a vida dos seus amigos ou familiares. Cabe as autoridades,
no cumprimento das leis, fazerem com que as pessoas se comportem no trânsito em
acordo com as normas legais pertinentes.
Motoristas que andam na
contramão, desrespeitam os sinais e colocam em risco as vidas das pessoas devem
ser tratados de acordo com as leis.
As autoridades devem zelar pelas
leis do trânsito, fazendo com que pedestres e condutores de veículos as cumpram
e, ao mesmo tempo, devem investir em ações de educação no trânsito para que as
pessoas possam ser mais gentis umas com as outras e, assim, termos um trânsito
mais tranquilo, sem violência. Sem pessoas dirigindo alcoolizadas, trafegando
em alta velocidade em lugares impróprios, buzinando em lugares proibidos,
trafegando sem os equipamentos obrigatórios ou com o veículo em condições
inadequadas.
O trânsito deve ser
cuidadosamente planejado, sinalizado e monitorado pelas autoridades. Só assim
os infratores podem ser flagrados e punidos. A punição, além do efeito
corretivo, tem um viés pedagógico, à medida que ela exerce um efeito
multiplicador. Um condutor que ao ver ou saber que o seu colega foi
flagrantemente punido por prática de condução perigosa, descuidada, ou
imprópria, evitará tais práticas sob pena de também sofrer punições.
Campanhas educativas pela
melhoria do trânsito devem ser incentivadas. Devem envolver a juventude, os
escolas municipais e estaduais, as universidades, as organizações
governamentais, a classe empresarial, organizações não governamentais e as
entidades de classe. É necessário que a sociedade se comprometa a zelar pela
cidade e não fique de braços cruzados, acreditando que esse papel cabe apenas às
autoridades oficiais.
Todos devemos nos comprometer com os rumos da
cidade, pois assim, conduziremos o nosso próprio destino, porque a cidade é uma
parte de cada um dos seus moradores. Obrigado por comentar.
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