terça-feira, 23 de abril de 2013

A sombra e a luz



Certa vez, conversavam a Manhã e a Tarde:
- Manhã, o que há com você?
- Como assim?
- Ah, de uns tempos pra cá te sinto mais morna. Antes tu tinhas uma luz mais intensa.
- Intensa?
- Sim, mais intensa. A tua luz parecia mais luminosa, nos contagiava. O sol parecia brilhar mais pra ti do que para os outros. Agora, quando te encontramos vemos a tua luz um tanto embaçada, que te deixa quase que triste, sisuda, um tanto sorumbática, embora se saiba que o sol ainda brilha pra ti na mesma intensidade de antes.
- Ah, sim agora eu entendo. De alguma forma, Tarde, você tem razão. Eu explico. Antes a minha luz parecia mais intensa, porque a minha sombra também era intensa. Ou seja, luz e sombra são partes imprescindíveis de mim, mas a minha sombra morreu.
- Como?
- É isso mesmo que você ouviu, perdi uma parte mim muito importante – a minha sombra. Daí o contraste entre luz e sombra acabou. A minha luz, embora ainda muito intensa, perdeu o contraste que lhe emprestava mais visibilidade e isso fazia de mim uma manhã mais alegre, mais segura, mais sorridente e contagiante. Como você pode perceber, por trás da serenidade da sombra estava a fonte da minha visibilidade, porque em mim sombra e luz se complementam e, com a perda da sombra, agora sou metade. Enfim, perdi o contraste que fazia a minha luz parecer ter mais luminosidade.


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