Bem que deveríamos estar vivendo
um momento como preconiza o samba “Brasil pandeiro”, de Assis Valente: “Brasil
esquentai vossos pandeiros/iluminai os terreiros/ que nós queremos sambar”.
Este é o clima que desejávamos às vésperas da Copa do Mundo. Prontos para
participar desse evento universal, mostrando a nossa batucada, incentivando os
nossos craques à vitória que nos levará à conquista do hexa que tanto
desejamos. Estádios prontos, mas não em detrimento de serviços essenciais como
educação, saúde, segurança, moradia. Não em detrimento da alegria do povo
brasileiro, mesmo porque é dessa alegria que emana a força que impulsiona a
nossa seleção à vitória.
Desejamos cantar com toda a
felicidade que o brasileiro tem direito: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho,
com muito amooooor”!. Felizes, mostrando aos estrangeiros que nos visitarão as
belezas naturais e artificiais que este maravilhoso país tem. A nossa cultura
exuberante: samba, forró, maracatu, axé music, caipirinha, feijoada, acarajé,
vatapá, caruru, bobó de camarão, praias, cachoeiras, rios, cascatas, o astral
desse povo maravilhoso, belezas infindas que ornamentam este país e, claro, os
nossos estádios e um futebol do jeito que nós gostamos – bonito e vitorioso.
Queremos nossas rodovias
adequadamente prontas para que possamos trafegar por todo este país, livres dos
buracos que acabam com carros e vidas. Queremos ferrovias que possibilitem
transporte humano e de cargas de norte a sul, de leste a oeste. Aeroportos
perfeitamente adequados à demanda que temos atualmente e, suficientemente, equipados
para atender a procura que esta Copa do Mundo provocará. Hidrovias e portos
capazes de dar maior fluxo turístico e de transportar a nossa produção em
proporções e custos adequados.
Queremos segurança suficiente
para não fazer das nossas residências verdadeiras prisões, com grades, trancas,
cerca elétrica, vigilância eletrônica e outras parafernálias similares.
Desejamos ir e vir sem o risco de sermos roubados ou mortos por causa de um
celular, um cordão de ouro, ou uns centavos que levamos na bolsa, ou ainda, por
estarmos com as bolsas vazias.
Ao invés do que desejamos a
realidade nos mostra um cenário, no mínimo, adverso. Mães que fazem fila
durante noites e madrugadas para matricular os seus filhos na escola pública.
Hospitais que mais parecem abatedouros humanos, superlotados de doentes pelos
corredores gemendo suas dores cujos ecos parecem que nunca alcançam a
sensibilidade dos que governam o país. Nas ruas, a violência que emana dos
poderes concentrados nas “prisões” grassa país a dentro, rouba e mata
trabalhadores, empresários, amedronta as pessoas de bem. Determina quando
comerciantes devem ou não fechar as suas lojas, matam policiais, juízes,
pobres, mendigos. Distribuem drogas pelos quatro cantos do país.
Logo às primeiras chuvas vemos um
sem número de famílias desabrigadas, despossuídas de tudo que conseguiram ao
longo da vida. Impotentes, esses irmãos veem seus gritos pairados no ar, uma
vez que já fazem parte de uma estatística que se enrobustece a partir da
incompetência e da desonestidade daqueles que desviam verbas destinadas a
amenizar o sofrimento das vítimas das catástrofes originadas por intempéries
climáticas.
Neste momento, vivemos o colapso Brasil, simplesmente,
porque as autoridades se fizeram de surdas para os gritos que ecoaram nas ruas
do país. Por isso, não tenho dúvida de que essa Copa será um espetáculo cujo
cenário será montado não para abrilhanta-la, mas para dissimular as lacunas
deixadas por não termos feito as lições de casa.Obrigado por comentar.