segunda-feira, 7 de abril de 2014

A desconstrução da seriedade, da moral e da esperança



Depois da atuação do ministro Joaquim Barbosa na relatoria do julgamento do mensalão, a população brasileira se encheu de esperança com a certeza de que estamos vivendo um novo tempo. Pensamos: agora, não só bandidos pobres podem ser presos no Brasil, mas também bandidos ricos, de colarinho branco, deputados, executivos do alto escalão do governo, dentre outros amigos do rei.
A condenação dos envolvidos foi muito bem recebida pelos brasileiros e rendeu muita popularidade ao ministro Joaquim Barbosa, que se destacou diante dos seus pares pela coragem, integridade moral e pela competência.
Mas, apesar do julgamento e da condenação dos réus, o processo parece um filme cujo roteiro remete a um final feliz para os infratores. Cabe uma infinidade de recursos e, agora, esses recursos começam a ser bem sucedidos, anulando condenações, desconsiderando pareceres, destratando da competência, da seriedade, colocando em dúvida a integridade moral dos ministros que emitiram relatórios favoráveis à condenação dos acusados.
Não se trata de uma prática nova, a desconstrução da moral, da competência, da seriedade e da esperança: é um processo que a elite do país tem lançado mão para colocar em dúvida, ou mesmo desacreditar autoridades que no exercício da sua função expõem ao público e submete aos rigores da lei os chamados bandidos do colarinho branco, ou seja, aqueles que na revolução dos bichos acham que são “mais iguais”.
Recentemente, o então delegado da polícia federal, Protógenes Queiroz foi vítima de um processo de desconstrução da moral, da competência, da seriedade e da esperança, quando ele chefiou a Operação Setiagraha, com o objetivo de combater o desvio de verbas públicas, a corrupção e a lavagem de dinheiro. O referido delegado fez uma investigação séria, competente e eficaz, desmantelando um esquema e expondo vários figurões que estavam por trás de tudo. Os brasileiros comuns vibraram com a possibilidade de ver os “mais iguais” infratores atrás das grades. Mas nem demorou muito, desceu sobre os ombros do delegado Protógenes Queiroz uma avalanche de acusações, dossiês e dúvidas criadas com o fito de lhe desacreditar diante da opinião pública. Alie-se a tudo isto o isolamento político e até mesmo corporativo.
O fato está se repetindo com o ministro Joaquim Barbosa e, infelizmente, o Brasil não está ligando para os acontecimentos. A competência, a seriedade e a moral daqueles que no início se posicionaram corretamente contra a corrupção, tende a ser desacreditada diante dos resultados do mais recente julgamento. Com isso, a esperança de mudança que nós, brasileiros comuns, nutrimos, vê-se ameaçada a esvair-se.


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