Meus olhos umedecem só em
pensar nos momentos bons da minha vida, que tive o privilégio da companhia e da
amizade do meu compadre Laurindo e Nazareth Moscoso. Nazareth era uma dessas
figuras que, como dizia a minha saudosa mãe, não deixava almoço pra janta. Tudo
que tinha que dizer, ela dizia na hora.
Uma grande amiga que eu
preferia chamar de cunhada. Minha cunhada. Conheci Nazareth Moscoso nos tempos
áureos do Grupo Sem Dimensão, que reunia craques do samba como meu compadre
Laurindo, Josias, Carlão (saudoso sobrinho), Cacá, Juca, Luís Júnior, Dênis,
meu compadre Raimundo Nonato e outros.
Tive a felicidade da
amizade de Nazareth Moscoso na fase mais difícil da minha vida – quando fiquei
viúvo. Naqueles momentos de sofrimento e solidão, era ela a única amiga que me
chamava em sua casa. “Meu cunhado, Laurindo vai fazer um pato, eu já chamei o
Cláudio Pinheiro e outros amigos”. Ela sabia que não dava pra recusar pato
preparado pelo meu compadre Laurindo. Eu sempre ia.
Não gostava de me ver nem
triste, nem alegre demais. Se eu estava triste, ela puxava conversa sobre a
Turma do Saco. Sabia da minha paixão pelo bloco e, só pra me provocar se
derramava em elogios para o URTA, que foi, sem dúvidas, o maior concorrente que
a TS já teve. Não dava outra, a resenha ficava animada, com ela, às vezes
elogiando a concorrente, às vezes se referindo a mim, Zé Manuel, Laurindo como
aquelagenteatoadocodozinho. Era assim, falava de uma maneira que parecia uma
palavra só. Eu sempre dizia: Tá vendo Zé Manuel, culpado disso é o Laurindo,
com tanta menina bonitinha lá no Codozinho, ele foi procurar Nazareth, lá na
Rua do Norte. Ela dava aquelas gargalhadas gostosas e altas, e me chamava de
o-r-d-i-n-á-r-i-o. Numa pronúncia que parecia derramar letra por letra.
Se eu chegava na resenha
alegre demais, já tendo tomado umas, falando alto e provocando com todo mundo,
ela se calava, fazia bico e eu já sabia que ela não estava gostando. Se estava
zangada, não me xingava, não tinha resenha. Era sempre sincera e amiga.
Quando ela começava a gozar
de mim, eu tinha sempre uma saída. Contava a história do início do namoro dela
com Laurindo. Ela ficava rindo de mim.
Uma vez estava na casa do
meu saudoso irmão, Zé Pitó, no aniversário dele e rolava um churrasco. Meu
compadre Laurindo passava perto da churrasqueira e uma colega mal avisada o
olhou e exclamou: - olha como Laurindo está gordo! Ela de pronto disse: gordo,
com colesterol alto, hipertenso, cardíaco, roncando muito, com apneia e haja
doença. Ouvindo-a fazer aquela relação de enfermidade, fiquei preocupado, me
sentei perto dela e, quando a pessoa que falou saiu, eu a perguntei: - minha
cunhada, é verdade que o meu compadre está tão doente assim? Ela, me disse – Tá
vendo, meu cunhado, que mulher abusada? Disse isso pra ela não se interessar
mais pelo meu marido. Todos riram. Ela era assim.
Onde ela estivesse a
resenha era sempre boa. No Bar da Xixita, na casa de Dora, na casa de Maria, na
casa de Georgina, na minha casa, Nasa, como meu compadre Laurindo a chamava,
não podia faltar.
Querida, ela reunia no
bosque do condomínio onde ela morava, todos os vizinhos e os ilustres do samba
maranhense num churrasco, ou feijoada, ou por qualquer motivo. Parecia um
clube. Animada, mas era de pouca bebida, gostava mesmo era da resenha.
Minha cunhada, Nazareth
Moscoso, poderia escrever muitas páginas pra falar da sua importância na minha
vida e de muitos, contudo, sei que as minhas palavras são incapazes de
descrever as suas virtudes como amiga de todas as horas. Sempre ficava admirado
pelo amor que você tinha pelo exercício da sua profissão. Fascinava-me a
dedicação e o carinho pelas crianças pobres que você educava.
Nunca me esqueci de um
aniversário, acho que da Luana, naquele apartamento sempre muito bem arrumado,
que eu dizia parecer casa de boneca. Na ocasião da divisão do bolo, você sentiu
falta do filho da Neide (vizinha e amiga). Ah, falta o filho da Neide. Deu uns
dois gritos chamando o guri, ele desceu as escadas e foi contente comer o bolo.
Comeu, bebeu refrigerante e ficou parado, com se quisesse mais. Você perguntou
se ele queria mais, ele disse que não, só queria levar um pedacinho pra mãe
dele. Naquele dia você me marcou com o seu lado materno, de tia, amiga, leal,
cuidadosa com as suas amizades.
Nazareth Moscoso, você era
uma pessoa de muitas virtudes, mas o meu coração fica para sempre tatuado pelas
tintas da sua lealdade, da sua sinceridade, da sua amizade, da sua bondade.
Sei, no entanto, que
minhas lágrimas e as lágrimas de todos que te amam decorrem da nossa pouca
sabedoria diante dos atos do Altíssimo. Sabemos que a nossa resenha fica mais
triste, neste momento. No fundo, acreditamos que Ele tem uma missão para você
lá em cima e que, assim como tu enobreceste a terra com a tua vida, haverás de
agregar alegria e virtude na vida celestial para que foste chamada agora. Obrigado por comentar.
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