quinta-feira, 3 de julho de 2014

Lacunas

Tinha uma vida de informações armazenadas na memória do meu computador até o dia em que eu achei que o teclado estava muito sujo e fui limpá-lo. No ato da limpeza, involuntariamente, liguei e desliguei a máquina várias vezes, foi o suficiente para acontecer aqueles trecos que chamamos de tilte, ou falamos que a “máquina deu um pau”. O certo é que nesse movimento a minha máquina desconfigurou-se. Chamei um técnico e, nada. Mandei para São Luís, na esperança que tecnologias mais avançadas suprissem a minha necessidade, recuperando as informações constantes na memória da máquina, porém, não logrei êxito.
Agora, a cada momento que eu penso em escrever alguma coisa, vem-me a necessidade de recorrer a arquivos, consultar dados, rever informações, todavia, tudo se esvaiu com um toque involuntário num botão que liga e desliga a máquina.
Imprevisto? Descuido? Nem sei. É provável que tudo isso se misture num ato que desencadeou perdas de informações preciosas, muitas irrecuperáveis. Artigos, escritos vários, fichamentos de livros, músicas inéditas, poesias, trabalhos profissionais, currículos, pareceres, projetos, trabalhos profissionais ou acadêmicos, anotações de campo guardadas com o objetivo de concluir sonhos, trabalhos próprios inconclusos, letras para músicas que ainda não possuíam melodia, projetos meus e de outras pessoas ou instituições, uma vida inteira de informações. Algum/a leitor/a já passou por uma situação como esta. Na minha vida, é a segunda vez que me vejo numa posição de tamanha  impotência.
Sempre que me deparo com fatos críticos como esse, tento manter a fleuma, como recurso para que eu não me precipite num desespero. Desesperar seria pior.
Nesse oceano de perdas, nem tudo é tristeza, descobri que ainda posso contar com tudo que eu compartilhei. Parece ironia, mas não é. Hoje, tudo que eu tenho de arquivo é, justamente, o que eu consegui compartilhar com vocês. Assim, como um milagre da internet. De tudo, restou a lição, a informação mais segura é aquela que se compartilha (pelo menos neste caso).
Eu deixei de publicar vários artigos porque tinha medo que alguém deles se apropriasse. Por isso, os perdi e, tudo que me resta são as coisas que eu escrevi e compartilhei na rede.
A outra lição que fica, é que quando perdemos algo não sentimos a totalidade da perda num só instante, no primeiro momento, mas, no seguimento da vida, à proporção que nos vamos dando conta que em determinados aspectos da nossa existência há uma lacuna referida às coisas que perdemos e não temos a mínima chance de recuperar.
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