Ficamos todos com a boca
seca, sem palavras, frustrados, sem explicações ou justificativas para o fato –
perdemos para a Alemanha por um placar de 7 a 1.
Em momentos como esse, o
que não falta é gente querendo encontrar um culpado, um boi de piranha, um bode
expiatório, ou rótulos para a denominação do escândalo. Não foi uma derrota
qualquer, foi uma derrota vergonhosa do futebol brasileiro. Pela primeira vez?
Não, absolutamente, não. Infelizmente, nós já nos expomos a vexames no plano
mundial há muito tempo. Fizemos vistas grossas aos acontecimentos, mas os
sinais já haviam aparecido anteriormente.
A derrota que sofremos
ontem diante de um futebol burocrático da Alemanha, foi apenas uma consequência
das escolhas que temos feito nos últimos tempos, para o futebol brasileiro, em
detrimento das referências que temos internamente.
O
técnico. O Brasil faz um dos maiores e mais importantes
campeonatos de futebol do mundo. Pelo gasto que se tem, pela energia humana que
consumimos na execução do campeonato brasileiro, deveríamos tê-lo como
referência nas nossas decisões, inclusive no formato da seleção brasileira.
Mas, veja o que aconteceu, o Luís Felipe Escolari fez uma campanha péssima
durante a sua participação no campeonato brasileiro série A, entretanto, foi
escolhido para ser o técnico da seleção, em detrimento de nome como o Tite, que
foi campeão mundial pelo Coríntians.
A
base do time. Sempre o Brasil foi uma referência mundial
no que respeita a formação de craques de futebol e, se prestarmos um pouco de
atenção na formação dos times campeões dos cinco títulos mundiais que temos, os
clubes brasileiros foram sempre referência. Mas, de uns anos para cá, na cabeça
de nossos dirigentes e alguns técnicos de futebol, a referência agora é o
exterior, notadamente, o futebol europeu. Isto significa que, o jogador
brasileiro que não jogar na Europa, principalmente, na Espanha, Itália,
Inglaterra, Alemanha, não presta. Mesmo um craque como Neymar, creem os
cartolas e intermediários, empresários do futebol brasileiro, que só se
consagraria como tal se fosse para o futebol europeu. A consequência disso é a
perda ou esquecimento das nossas boas referências. Veja por exemplo, o
Cruzeiro, campeão brasileiro, com uma campanha pra lá de excelente, quantos
jogadores deste clube foram convocados para a nossa seleção? Tivemos,
inclusive, o vexame de deixar um craque como o Dedé de fora e levarmos o Dante.
O Dedé é um dos melhores jogadores do mundo. Ou ainda de deixarmos o Jeferson
na sua melhor fase, na reserva de Júlio César.
Esquema
tático. Quem assiste aos jogos dos campeonatos de futebol que
ocorrem no mundo, percebe de pronto que o futebol coletivo se sobrepõe ao
futebol individualista, do craque que faz “carreira solo”, embora isto não se
dê em detrimento do talento individual. Mas, no futebol hodierno, não se admite
mais que um jogador fique isolado na frente sem dar combate quando o seu time
não está com a bola. Os jogadores estão, cada vez mais ecléticos. Correm o
campo todo, defendem, atacam, mas, tudo dentro de um esquema tático previamente
estabelecido em treino. Além disso, fazendo analogia à música, eu diria que
cada partida obedece a uma partitura específica, o que significa que, há
necessidade de adequar o sua estratégia ao esquema tático de cada adversário. O
modo de jogar de cada time é bastante estudado pelos técnicos dos times
adversários e, quando não se observa isto, se corre o risco de passar pelo que
passou o Santos contra o Barcelona na disputa do Mundial e, depois no jogo
amistoso após a venda do Neymar para o referido time. Ontem foi a vez de a
seleção brasileira escorregar, vexaminosamente, sobre o lodo da inobservância
de um peculiar, burocrático modo de jogar da Alemanha.
Nossas referências. As referências do
futebol brasileiro foram acionadas por todos os países que jogam um grande
futebol em todos os cantos do planeta. Copiaram nossos dribles, nossa
tabelinha, nossos esquemas táticos, nossa forma de jogar, buscaram nossos
craques, nossos técnicos e tornaram-se referência do futebol mundial. Estudaram
a fundo o nosso comportamento em campo, a nossa alegria, a nossa emoção, nossa
impaciência diante de certas situações e, sobretudo, investiram muito na
formação de craques, buscaram uma forma própria de jogar, tornaram-se grandes
estrategistas, aperfeiçoaram ao máximo os seus fundamentos e hoje se impõem
diante do futebol brasileiro, que ao invés de investir na formação de craques,
continua sendo uma referência no desperdício de talentos. Se quisermos
continuar no topo, devemos fazer como eles, os outros, nos dedicar às nossas
referências, resgatarmos a nossa alegria de jogar, investir nas categorias de
base, traçar uma política de inclusão para o futebol brasileiro, dar
oportunidade para crianças e jovens pobres, uma vez que é nos segmentos sociais
mais pobres que surgiram os nossos maiores craques e, agora, mais do nunca,
estudar a fundo o legado que nos foi deixado pelas seleções de 1958, 1962,
1970, 1994, 2002. É necessário que as gerações futuras assistam aos vídeos dessas
seleções. É preciso que eles percebam a humildade de craques como Pelé,
Rivelino, Brito, Gérson, Nilton Santos, Zagalo, Didi, Dunga e tantos outros que contribuíram para
alcançarmos os patamares que nos deixam tão bem vistos no mundo.
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