Eu conheci a Praia da Raposa há,
mais ou menos, 25 anos atrás. Era uma praia pesqueira povoada por uma significativa
quantidade de pescadores cearenses que vinham pescar em águas maranhenses,
faziam ali seus ranchos e, aos poucos, foram migrando e trazendo consigo as suas
famílias. Os homens pescam e as mulheres fazem renda de bilro.
Naquela época, no final dos anos
de 1980, eu fiquei fascinado pelo lugar. Não era a arquitetura dos casebres
dali que me encantava, mas a fartura de peixe que ali existia. Sempre
apreciei os frutos do mar e fui à Raposa para comprar peixe fresco, aquele
saído do mar, sem ter levado um minuto de gelo sequer.
Quando lá cheguei procurando
peixe fresco, fui informado, pelos moradores, que as canoas de pesca chegariam
dali à uma hora, na hora da maré, era assim que eles explicavam. Fiquei por ali,
fazendo o reconhecimento da área, como quem não quer nada, e alguém me informou
que se quisesse comer peixe, bastaria comprar que havia que o assasse para a
gente. Pronto, era tudo que eu queria, “armei a minha barraca” numa quitandinha
à beira da praia, comprei um uritinga e, enquanto dava umas bicadas numa dose
de pinga, uma senhora assou o peixe. Maravilhosos minutos aqueles em que
esperávamos pelas canoas de pescadores. Na ocasião, eu estava acompanhado do
meu compadre Laurindo, minha sogra, dona Julieta e a minha saudosa mulher,
Célia Maria. Só eu e o meu compadre bebíamos pinga.
Os barcos de pesca foram chegando,
um a um. Corremos para a beira da praia e ficamos pasmos com a cena. Era grande
a quantidade de tainha, uritinga, bagre, gurijuba, cangatã, bandeirado,
pescada, pescadinha, arraia, bagrinho de moça, pargo, peixe serra, peixe pedra.
Aos pedintes ali presentes, eu vi pescadores ofertando grandes arraias e
uritingas. Uma festa para os meus olhos. Compramos os peixes que queríamos e
fomos para casa comê-los cozidos. Gosto do caldo saboroso de peixe cozido, especialmente, aquele feito por dona Julieta, ou pela minha comadre Dora. Voltei para casa, cheio de satisfação por
me sentir contemplado com a fartura da Praia da Raposa e a hospitalidade dos
seus moradores.
Ontem, domingo, 13, voltei à
Raposa para fazer um passeio de barco. Tive o prazer da companhia da minha
mulher, Sílvia, da minha filha, Joana e vários turistas. O nosso guia era um
garoto chamado Leandro e no comando do barco estava o Sr. Messias, ambos muito
gentis. Conhecemos as dunas da Praia de Karimã ou Praia dos Currais. É também
chamada assim, pela quantidade de currais que os pescadores fazem ali para a
captura de peixes. Depois fomos ao banho do marisco, local onde antes era o lugar de coleta
de mariscos: tarioba, sarnambi, outros. Hoje, os mariscos dali já estão
escassos e os catadores de mariscos da Raposa mudaram as suas atividades para
lugares mais prolíficos, além de já cultivarem ostras.
O passeio é maravilhoso. Enquanto
navegamos em rumo à Praia dos Currais, somos contemplados por uma paisagem de manguezais
preservados, com um verde intenso, benfazejo aos olhos. As crianças ficam
contando os caranguejos que veem, mas logo percebem que a quantidade e a velocidade
em que eles se deslocam para as suas locas fogem à capacidade de memorização.
Maravilha, exclamam!
Gosto da natureza, o contato com
ela me faz bem, vê-la conservada, preservada, bem cuidada, me deixa satisfeito.
Creio, que o tio avô do Leandro, quando fez no seu barco de pesca o primeiro
passeio turístico, mostrando aos de fora as belezas naturais daquelas plagas,
ele deve ter pensado justamente nisso – na preservação. O sábio pescador
percebeu que se somente ele ficasse contemplando aquela beleza, no futuro, ela
podia ser alvo de destruição, como outros lugares espalhados pelo Brasil.
Porém, se visto e experimentado pelo mundo, provavelmente, ambiciosos de plantão
jamais ousarão privatizar aquela linda paisagem.
Felizmente, o trabalho prazeroso
iniciado pelo tio avô do Leandro recebeu o acolhimento merecido de uma empresa
turística que o divulgou mundo a fora e, hoje, essa atividade envolve dezenas
de barcos que empregam dezenas de pessoas treinadas para receber turistas de
todo o canto do mundo, dispostos a interagir com as belezas naturais da Raposa
e sentir o afago de uma gente acolhedora, hospitaleira, gentil.
Creio que quem for experimentar o passeio de
barco da Raposa vai ver ambientes ecológicos preservados, uma atividade
turística sustentável, cuja tendência é a melhoria qualitativa, realizada por
pessoas de irretocável gentileza.
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