O que estaria fazendo o matemático
Edward Frenkel no final dos anos 1970? Na semana passada ele foi o entrevistado
das páginas amarelas da revista Veja e nos apresenta um cuidado com o ensino da
matemática que fez muita falta quando eu estudava na Escola de Agronomia do
Maranhão. Edward Frenkel mostra-se preocupado na difusão do ensino da
matemática e percebe que muitos dos seus colegas professores têm o prazer de
mostrar a disciplina como algo que apenas poucos dominam e que eles são parte
desse pequeníssimo conjunto. No entanto, o professor Edward Frenkel acha que,
ao contrário do que pensam os seus colegas, o professor deve ensinar matemática
relacionando-a com a atualidade vivida pelos jovens para que esses se
interessem cada vez mais por ela, ao invés de demoniza-la. Para ele, quanto
maior o número dos que dominam a matemática, melhor.
Quando perguntado por Veja “Por
que tanta gente detesta matemática?”, o professor Edward Fenkel respondeu que as
pessoas não gostam de matemática “porque não sabem do que se trata”. A resposta
do professor Frenkel lembrou-me o saudoso Reinaldo Faray que sempre lembrava
aos seus alunos de teatro pertencentes ao grupo TEMA (Teatro Experimental do
Maranhão), que no Brasil as pessoas vão mais ao futebol do que no teatro porque
têm conhecimento sobre aquele e não sabem sobre este. Tal como Frenkel acha que
deve haver mais divulgação, ou movimentos que atraiam a atenção dos jovens para
a matemática, o professor Faray pensava em relação ao teatro.
Estou relacionando a ideia do
professor Edward Frenkel com a época em que entrei no curso de agronomia porque
quando ali cheguei esperava encontrar um amigo que havia entrado um ano antes
de mim, apesar de sermos contemporâneos e termos estudado parte do curso
ginasial juntos, em Rosário. O meu amigo era o tipo de aluno que chamava
atenção dos seus pares, provocando mesmo certa admiração. Era muito
inteligente, escrevia com as duas mãos, redigia num nível muito acima da
maioria dos alunos da classe, na época, a terceira série ginasial. Por isso,
quando cheguei na Escola de Agronomia e encontrei o irmão dele (pois os dois
passaram no vestibular na mesma época, para o mesmo curso) e perguntei por ele,
o irmão me informou que ele havia deixado o curso. Eu perguntei a razão e ele
me disse que em razão dos cursos de cálculo 1, 2 e 3, serem tão duros, um dia o
meu amigo intrigado com a dureza de tanto cálculo, quis saber do professor em
que parte da agronomia aqueles cálculos deveriam ser empregados, entretanto,
para desespero do colega, infelizmente, o professor não soube explicar. Ali,
naquele instante a agronomia perdeu uma excelente cabeça. O meu amigo pegou o
caderno de cálculo que tinha na mão rasgou em quatro pedaços e foi embora
dizendo que não voltaria ali jamais. Cumpriu o prometido, submeteu-se ao
vestibular na Ufma e logrou êxito nos cursos de Direito e Jornalismo,
graduando-se nos dois. Hoje é empresário do ramo de publicidade e, de vez em
quando lança livros de poesia que são bastante divulgados em São Luís.
Quando estava escrevendo a minha
dissertação de mestrado visitei por várias vezes a Universidade de Brasília e
numa dessas visitas, em dezembro de 1999, eu encontrei na livraria da Unb um
livro de “Matemática aplicada às ciências agrárias”, que mostrava o quanto a
matemática é útil para a agricultura. Naquela época já não tinha tanto
interesse pela matemática, o meu colega já era poeta famoso e publicitário
próspero e o nosso professor já havia morrido, mas mesmo assim eu comprei o
livro, porque pensei que se o nosso professor e o meu amigo tivessem conhecimento
de livros como esse a matemática e a agronomia do Brasil, certamente estariam
contando com mais uma mente brilhante entre tantas que trabalham nessas áreas.
Na época, o professor Edward Frenkel tinha
apenas 9 anos de idade, mas faltou na Escola de Agronomia daquela época, ideia
salutar e agregadora como a dele, pois, quem sabe assim um menor número de
colegas teriam abdicado do curso de agronomia.
Obrigado por comentar.
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