Carnaval é a festa do povo como
todos nós sabemos, é festa popular durante a qual as camadas sociais manifestam
a sua alegria de várias maneiras, em grupo, ou individualmente, fantasiadas ou
não, com trabalho, com arte, com alegria, satisfação, insatisfação bem humorada,
entre outros modos de explicitar sentimentos.
Notadamente, a rede globo, quando
se manifesta às pessoas do lugar de origem de uma escola de samba chama-as de
comunidade e assim oculta a importância das pessoas individualmente no
desenvolvimento da escola: trabalho no barracão, cozinha, bateria, coleta de
material, mobilização e ensaio das pessoas que compõem as alas, e tantos outros
serviços.
Quem faz carnaval e já participou
ativamente na construção do carnaval sabe o quanto é valiosa a participação da
comunidade, mas sabe também que, dentro dessa, são as lideranças que tomam o
leme do barco e as outras pessoas vão pelo respeito, pela animação, pelo amor,
pelo sentimento de pertença, por motivos próprios de cada um dos partícipes
desta grandiosa festa.
A participação das pessoas do
local de origem da escola de samba ou de qualquer agremiação carnavalesca se
reflete no desfile, na avenida, na passarela do samba. Quando a Turma do Saco
teve como enredo ”A fonte do Ribeirão” o nosso carro alegórico quebrou já na
passarela, a comunidade o sustentou do início do desfile até a área de dispersão
sob o comando do nosso querido Preto Cunha. Fomos campeões porque os jurados
não se deram conta disso. Graças a comunidade!
Todas as vezes que a Turma do
Saco ganhou um carnaval durante o tempo que eu era membro ativo do bloco, o
fizemos graças a forma como cada uma das famílias abria a porta da sua casa
para nos receber. Emprestando ferramentas, fazendo fantasias, fazendo comidas
para as rodas de samba, que eram a nossa principal fonte de renda, sem reclamar
da zoada da bateria nos dias de ensaios, ou do barulho que fazíamos a madrugada
inteira quando os trabalhos na sede do bloco se intensificavam. Cabe registrar
que muitas pessoas colaboradoras desse esforço coletivo jamais saíram
fantasiadas no bloco, ou mesmo o acompanharam até a avenida, mas faziam tudo
por amor, pelo sentimento de pertencer a esse bairro chamado Codozinho, por se
sentir parte da agremiação carnavalesca que a representava na avenida. Mas o
que nutria o sentimento de participação coletiva dessa gente dedicada, que abdicava
forçosamente da novela das oito, sem reclamar do barulho da bateria que
ensaiava logo naquele horário? Essas pessoas se bastavam com o modo como a
Turma do Saco saía para desfilar na avenida ou passarela do samba. Saíamos
alegres, batucando, tocando, todos prontamente vestidos para o desfile
atravessávamos todo o bairro da sede até a Praça da Saudade, dali parávamos a
bateria e apertávamos o passo para chegarmos no horário certo na concentração.
A saída da sede era triunfal.
Alegria, sorrisos, foguetes, apoio total dos moradores, as família reunidas nas
calçadas se acotovelavam para ver os filhos, os sobrinhos, os parentes, as
meninas bonitas, o conjunto das fantasias, os comentários alvissareiros que
exteriorizavam o amor pelo bloco. Era ali que muitas vezes as pessoas decidiam
acompanhar o bloco até à passarela do samba e quando a bateria passava à porta
de cada um o cordão dos que empurravam a Turma do Saco ia aumentando, formando
atrás do bloco o que o nosso glorioso Serrote chamou um dia de “A barreira do
som”. Vi a minha própria mãe uma vez deixar-se levar por aquela alegria. Havia
passado o dia inteiro com febre, mas quando o Saco saiu sob uma garoa chata,
ela não pensou duas vezes, pegou o chapéu de sol e foi-se embora acompanhar a
Mocidade Independente Turma do Saco. Nós, os seus filhos ainda quisemos
contestar atitude dela, mas dona Joana Palitó foi enfática e categórica,
dizendo-nos: eu sou a mãe de vocês, fui eu quem pariu vocês, sou eu quem manda
em vocês, vocês não me mandam e pronto!
Preciso falar mais da importância
dessa interação agremiação carnavalesca/comunidade? Pois no domingo de carnaval
eu cheguei atrasado no bairro do Codozinho para ver a saída do Saco, mas o
bloco já havia ido para a passarela do samba. Durante a minha passagem pelo
bairro conversei com muitas pessoas e pude constatar o aborrecimento dessas
pessoas porque o bloco foi para avenida com os instrumentos na cabeça, sem
mostrar o seu samba aquela comunidade. Eu fiquei calado, sem jeito,
desconsertado com o desconcerto do Saco. Fica aqui apenas uma pergunta: Por que
quebrar essa tradicional alegria de mostrar a comunidade como ficou a arte
final da MITS? Meus queridos amigos, não conheço nenhuma agremiação
carnavalesca que tenha se preservado ao longo do tempo quando se distancia da
comunidade. Suplico aos dirigentes do Saco que no próximo ano coloque o bloco
na rua para as pessoas da comunidade verem o resultado final de todo o trabalho
realizado. A passarela não pode ser o objeto final da Turma do Saco, mas a
comunidade. Essa inversão de valores pode nos afundar, creiam.
Enfim, que deixar claro, que
apesar de tudo, eu gostei muito do vi na avenida: a fantasia, o astral dos
componentes e a bateria principalmente. Vi alguns percussionista que me
impressionaram bastante, de modo especial um que estava na marcação – não o
conheço mas o considerei um craque como o Rogério Guayanaz. Parabéns maestro
João Henrique (Bazinho).
Gostei da forma firme e serena como o Lucas
mandou bem o samba na passarela, parece que temos o nosso jamelãozinho. O Vovô
mesmo rouco sobressai-se muito bem. O maestro nonato com o seu sete cordas
maravilhoso prescinde de comentários, a volta do cavaquinhista Rakan (ou Rayan?).
Gosto muito de ver o Saco sair de forma que honra o nome que tem, o título para
mim é o resultado desse casamento Mocidade Independente Turma do
Saco/Comunidade. Parabéns à Diretoria, sei que no formato atual colocar o bloco
na avenida não é nada fácil apesar do dinheiro farto.
Obrigado por comentar.
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