quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Consciência negra no Brasil hodierno

Já faz tempo que se criou este símbolo de resgate da autoestima do povo negro no Brasil – o dia da consciência negra. Uma data carregada de simbologia: a morte de Zumbi, o maior símbolo de liderança do povo negro no Brasil; uma forma de refutar o dia 13 de maio, pela insignificância que de fato esta data tem para o movimento negro no Brasil; por ser o 20 de novembro, essencialmente, um dia de luta, uma forma de tornar cada brasileiro de pele negra consciente de que neste país as mudanças que pretendemos no âmbito coletivo ou pessoal só serão conseguidas com muita luta.
As batalhas vencidas por Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares nos enchem de força para no plano social trabalharmos mais, estudarmos mais, para termos mais e melhores ferramentas para enfrentamento da vida nos dias atuais. Sabemos do quanto a educação é necessária para mudarmos a realidade dos negros no Brasil. Sabemos do quanto é difícil falar sobre o racismo, uma vez que a hipocrisia reinante nesta terra desde os primórdios estabeleceu um código tácito que dita que apesar da sua existência é melhor que dele não se fale.
Como não falar do racismo no Brasil? Tivemos bem mais de três séculos de escravidão e depois um processo abolicionista que jamais foi aceito pelos senhores de escravos e, pasmem, esse ódio foi passado de geração a geração ora de maneira tácita e sub-reptícia, ora de modo explícito e grosseiro. Em decorrência dessa rejeição ou relutância à abolição da escravatura, a comunidade negra após a conquista da abolição vive uma experiência de exagerada falta de oportunidade. Fica fora da agenda governamental por muito tempo e passa a ocupar os lugares periféricos tanto na geografia como na sociedade brasileira. Isto, é claro tem reflexos contundentes na estatística do país. Ainda que se tente camuflar fica muito difícil de não se perceber que neste país a pobreza tem cor, a população encarcerada tem cor, o analfabetismo tem cor, o desemprego tem cor, o subemprego tem cor.
Esta estatística demarca os limites da falta de oportunidades a qual este povo foi submetido e, de certo modo, ainda o está no Brasil hodierno. Apesar de tudo que fez a mão de obra escravizada para enriquecimento dos senhores das plantations e, consequentemente, em detrimento do próprio desenvolvimento dos negros no Brasil, há ainda quem ache que esse povo não mereça qualquer de reparação por tudo que lhe tiraram – milhões de vidas, liberdade, separação familiar, impossibilidade da aquisição da terra, impossibilidade de resgate dos elos familiares com a terra mãe. Nesse sentido, a existência de milhares de comunidades negras rurais com posse secular, cujas terras até hoje não foram reconhecidas e devidamente tituladas, nos revela uma face lamentável do racismo brasileiro.
Há muito predominou o discurso de que o nosso país é uma democracia racial pelo fato de brancos e negros não viverem em confronto manifesto, apesar da torcida do Grêmio de Porto Alegre. Entretanto, esqueceu-se de lembrar aos inventores desse discurso que uma democracia étnica se faz criando um ambiente em que todos tenham oportunidades iguais.
Apesar de tudo, essa data é também comemorativa, uma vez que ela marca uma série de conquistas que o movimento negro conseguiu ao longo do tempo. Irmãos de todas as raças e de todos os credos, lutemos para que o Brasil seja um país capaz de viver com as diferenças intrínsecas que lhes são historicamente genuínas. O racismo não constitui um problema apenas daqueles que o sofrem, mas de toda a sociedade onde este estiver inserido.

domingo, 26 de outubro de 2014

Combati o bom combate

Quando percebi que a luta pela eleição á presidência do Brasil seria acirrada me senti na obrigação de fazer alguma coisa pela vitória da minha candidata. Não era um sentimento novo, mas uma vontade mais forte de participar do debate, do embate, do combate, enfim.
Na primeira eleição da presidente Dilma Rousseff fui acometido de um sentimento semelhante quando li um artigo fascista ilustrado por dados que pareciam oriundos dos porões da ditadura militar. Senti-me acuado como cidadão brasileiro e fui para luta, escrevi um artigo dizendo a causa pela qual eu a apoiava.
Nessa eleição foi diferente, a luta foi acirrada, o adversário estava ali no calcanhar, fazendo marcação serrada. Senti-me induzido a escrever mais vezes, a empurrar o caminhão de motivos para recondução da Dilma Rousseff à Presidência da República.
Durante os doze anos de governo do partido dos trabalhadores e partidos aliados, o Brasil formou uma classe média que se enxerga agora muito rica e se acha no direito de cuspir no alimento que a nutriu. Contudo, não quero aqui aprofundar este tópico, que, por certo, deixarei para outro momento.
Enquanto os órgãos de comunicação confirmam a vitória da presidente Dilma, eu escrevo mais este artigo, não com a euforia que observo em alguns usuários do whatsApp, mas, com a cautela de um cidadão que sabe da reflexão que o momento requer.
O debate politico que foi travado nessas eleições não foi algo que se deva desprezar na análise e no processo de elaboração do planejamento a ser implementado nos próximos quatro anos. Parte da classe média brasileira se posicionou raivosamente contrária ao que eles denominam de política petista e, ainda, o mapa eleitoral mostra o comportamento das diversas regiões, cujo posicionamento também inspira atenção cautelosa. É evidente que a presidente terá que apoiar os estados e regiões que lhe apoiaram massivamente, mas espera-se, da mesma forma, que ela se preocupe em dissipar as mágoas que levaram determinados estados e regiões a dedicarem apoio massivo ao adversário, sob pena das eleições no Brasil se transformarem numa cartografia eleitoral reveladora de uma contenda entre os de cima contra os debaixo.
Há mudanças reivindicadas por todos os brasileiros, como por exemplo, o combate à corrupção, o término das ferrovias, hidrovias, hidrelétricas, transposição do Rio São Francisco, e tantas outras obras em processo. Precisamos melhorar a nossa infraestrutura produtiva – portos, aeroportos, hidrovias, rodovias e incremento de ferrovias. Este país precisa de ferrovias e de hidrovias para melhor integrar o seu povo e, consequentemente, o processo de produção e distribuição das suas riquezas.
A reforma fiscal também é necessária, presidente Dilma Rousseff. Todos reclamam pelo tamanho dos impostos que pagamos em tudo que fazemos aqui no Brasil. É necessária uma lei que reduza ou acabe com o número de assessores políticos no Estado/União sem vínculo com o serviço público. O setor privado se sente vilipendiado quando observa que o imposto que paga não se converte em benefícios sociais, mas serve apenas para pagamento de uma máquina pesada, improdutiva e, em certos casos, corrupta.
Urge que se façam ações que melhorem de imediato os serviços de segurança, saúde, educação e saneamento básico.
Confio plenamente na presidente Dilma Rousseff, sei da sua seriedade, da sua competência, da sua vontade de executar ações que ajudem no desenvolvimento do Brasil. Vi há pouco o seu discurso de agradecimento ao povo brasileiro e nele me confortou saber que ela está muito disposta ao diálogo com todos brasileiros e brasileiras independente da cor que cada um opta. Gostei da sua disposição, ou melhor, do seu compromisso público de combater a corrupção e de liderar ações com vistas à reforma política.
Creio que o recado das urnas foi claro e bem assimilado pela presidente Dilma. Por isso, resta-me desejar que o Supremo Arquiteto do Universo lhe permita muita saúde para viver dias melhores e propiciar melhoria de vida a todos/as brasileiros/as; sapiência para criar programas e projetos que mais do que satisfazer necessidades dos/as brasileiros/as, realizem nossos sonhos e concretizem as nossas esperanças; determinação para levar a cabo todas as obras iniciadas no interregno dos últimos doze anos. Parabéns, Presidenta! Que Deus lhe abençoe, e a virgem de Aparecida cuide de ti para que poças cuidar bem de todos/as os/as brasileiros/as.

domingo, 19 de outubro de 2014

Entenda a raiva dos empresários que apoiam Aécio Neves



Muita gente pensa que todos os empresários brasileiros estão apoiando o netinho do vovô Tancredo Neves. Mas, não é bem assim, apenas uma pequena parte dos empresários brasileiros apoiam o Aecinho Play, os mais retrógrados, a parte mais atrasada do empresariado do Brasil.
O que falam esses empresários. Falam que o governo Lula só tem dinheiro para os trabalhadores rurais sem terras, que pagam impostos em excesso, que o governo só dá dinheiro a um bando de preguiçosos e, por isto, os preguiçosos (segundo eles, pessoas beneficiadas por programas como a Bolsa Família, Pronaf, ou outros) não querem mais trabalhar porque estão mamando nas tetas do governo, que agora enche a mão da pobreza de dinheiro.
Além disso, esses empresários detestam o programa de combate ao trabalho escravo executado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, porque este coloca em xeque as condições de trabalho que eles oferecem aos seus empregados. Como essas condições não eram boas e a melhoria delas significa ter que mexer no bolso, esses empresários ficam tremendamente irados com o governo atual. Eles detestam esse negócio de promover justiça social. Direitos humanos para eles constitui verdadeiro palavrão. Têm raiva de quem fala bem, de quem reivindica, de quem os promove.
Pasmem, tanto no governo do Lula, como no da Dilma Rousseff, nunca faltou  dinheiro para os empresários retrógrados, pelo contrário, durante esse ciclo, muitos deles multiplicaram as suas riquezas. São sempre bem atendidos nas instituições financeiras, são beneficiários de linhas de crédito com juros baratos, mas não têm jeito, detestam o Lula, a Dilma e o PT, porque entendem que estes protegem os pobres. Definitivamente, para esse tipo de empresário, trabalhador bom não é o mais qualificado, mas aquele que trabalha sob qualquer condição e pelo menor preço.  
Os bons empresários desta terra jamais se incomodaram com o combate ao trabalho escravo, pelo contrário, eles mesmos o combatem e apoiam o governo da Dilma. Esses empresários se modernizaram, com o dinheiro que captam no mercado financeiro, compraram máquinas e equipamentos modernos, estão sempre atualizando o processo produtivo das suas unidades de produção, estão sempre sintonizados com as organizações que produzem tecnologia no Brasil e no exterior, perseguem o maior volume de produção por meio do aumento da produtividade e não pelo emprego da mão de obra barata e maltratada. Pelo contrário, esta parte do empresariado ao invés de buscar no mercado a mão de obra mais barata, seleciona a força de trabalho mais qualificada.
Mas não é com essa turma que o netinho do vovô Tancredo Neves está comprometido, ele deseja satisfazer os desejos dos maus empresários, caso ele ganhe esta eleição. Mas, tenho certeza que o Brasil já experimentou essa onda de retrocesso, bolsões de miséria, desemprego, FMI e, não os deseja mais. Por isso, não vote no retrocesso, vote na Dilma.

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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Erguendo castelos no ar

A política não é um ramo da engenharia que nos permite construir castelos no ar, ao contrário do que pensa o candidato Aécio Neves. Os fatos nos obrigam a estudar, conhecer a história daqueles que se propõem a assumir cargos políticos, ou mesmo, a se candidatarem a estes.
Acabo de assistir o debate no SBT entre a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves e, pasmem, toda a vez que ela remete ao passado dele, de pronto, ele a convida a falar do futuro, como se uma coisa fosse dissociada da outra. Não é assim, queira o candidato tucano ou não, que a presidente Dilma observe isso ou não, que nós eleitores observemos isto ou não. Em se tratando de cargos públicos, é a história de cada candidato ou candidata que lhe credencia a assunção do cargo pretendido, porque não se constrói castelo no ar. O candidato ou a candidata deve ter uma história que denote uma reputação ilibada, um bom caráter, um conceito moral que credencie ele ou ela a escolha popular.
A lei chamada de Ficha Limpa constitui exemplo da necessidade que a sociedade tem que seus candidatos a cargos públicos sejam exemplares, que se comportem de modo que a sociedade possa se inspirar na maneira como conduzem as suas vidas.
O candidato tucano fica irritado e se refere a presidente Dilma Rousseff como se ela lhe estivesse desferindo um golpe baixo, toda vez que ela o remete ao passado, que, aliás, ele o detesta. Então, ele, o candidato tucano, a insta a falar do futuro, como se uma coisa fosse independente da outra. Ora se ele fez coisas detestáveis, reprováveis, vergonhosas, vexaminosas, que lhe causa desconforto, que ele se desculpe em público, que ele aproveite o momento para pedir desculpas ao Brasil pelos maus exemplos dados por ele em momentos passados, ou mesmo agora, durante os debates. Pela forma como ele refuta o seu passado, como se fosse um chute baixo, nos leva a crer que ele não é flor que se cheire.
Dilma deve continuar falando e instigando que o Aécio Neves assuma o seu passado de playboy descuidado, indiferente às leis do trânsito ou outras. E deve tratar disso como muito bom humor. Como pode uma pessoa da idade do candidato Aécio Neves achar que os erros cometidos na sua história de vida devem ser preteridos, que o seu passado tenebroso nada tem a ver com este momento, que só pode ser tocado no passado que lhe confere vantagem?
O debate foi péssimo, vazio, de baixa qualidade, repetitivo, se comparado ao da Band, contudo, creio que se os assessores da Dilma conseguirem que ela coloque uma pitada de bom humor nas verdades que ela fala, provavelmente, a colocará em posição mais vantajosa diante do seu adversário, que vem se comportando como um Pinóquio. No momento, Aécio Neves põe em prática a máxima de que uma mentira repetida milhares de vezes transforma-se em verdade. É assim com a inflação, com o plano de governo da Dilma, com a honestidade dos tucanos, as mudanças que ele propõe e com o modo vazio que ele usa para desviar o debate sobre seus erros dizendo ora que se trata de mentira, ora que é baixaria. A presidente Dilma Rousseff não pode  permitir que ele se coloque como aquele que está jogando limpo. Dilma tem que usar os debates para se comunicar mais com o público, dando menor importância ao discurso vazio do seu adversário.